Competição entre os postos ajuda a segurar alta do diesel
A alta do preço do óleo diesel da Petrobras já chegou às bombas. O Estadão/Broadcast acompanhou dez postos no Rio de Janeiro e em São Paulo, da última terça-feira (28), quando a Petrobras anunciou o reajuste, até esta sexta-feira (1). Na maioria deles, a revisão de preço foi inferior à da estatal, que aumentou o litro do diesel em 8,9% (R$ 0,25). Em dois postos, o diesel subiu mais do que nas refinarias e em apenas um não houve reajuste. A alta nos postos visitados chegou a R$ 0,30 (6%).
Levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostra que, desde domingo, o diesel comum custou 2% mais na média de todas as bombas do País, em relação à semana anterior. O litro do combustível está sendo vendido a R$ 4,801.
Presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda diz que o repasse da alta de preço foi definido pela competição entre os postos e também pela bandeira à qual cada um está atrelado. Segundo ele, os postos refletem as marcas que ostentam, como Ipiranga, Petrobras, Shell e as bandeiras brancas. A dimensão e o tempo do repasse seriam definidos por essas empresas.
Miranda conta que, assim que a Petrobras anunciou o reajuste, as distribuidoras avisaram aos seus revendedores que aumentariam o diesel imediatamente. “Os postos não têm margem suficiente para absorver essa alta. Nossa margem média bruta no diesel está em torno de 5%”, afirmou.
Em seus postos, antes de decidir aumentar os preços, Miranda costuma avaliar também o comportamento dos concorrentes mais próximos. Se tiver estoque e o vizinho não tiver reajustado o seu produto, ele também não aumenta os seus preços.
“Quando o combustível começou a subir, o movimento caiu. O patrão, então, passou a correr os postos vizinhos para ver os preços deles. Aqui, a gente sempre tem um preço menor. No fim de semana, o preço cai e volta a subir na segunda-feira”, disse Tailane Vieira, funcionária de um posto de bandeira Shell, na zona oeste do Rio de Janeiro, visitado pela equipe de reportagem. Esse foi, entre os dez, o que apresentou menor reajuste do diesel, de R$ 0,10, nesta semana.
Em contrapartida, a cerca de 2 km de distância, num posto Ipiranga também da zona oeste carioca, o combustível ficou R$ 0,30 mais caro, alta superior à da Petrobras. André Santos, gerente da revenda, diz que aproveitou o momento para recuperar parte da margem perdida no passado, já que, da última vez, não chegou a repassar a alta de preço da Petrobras aos seus clientes.
O aumento justo do óleo diesel seria, na verdade, de R$ 0,22. Isso porque parte do produto vendido nas bombas sai da Petrobras. O restante, 12%, é composto por biodiesel, que não foi reajustado nos últimos dias.
Há ainda uma parcela relativa ao ICMS, calculado sobre o preço de refinaria. A revisão do tributo, após o reajuste da Petrobras da última terça-feira, passou a valer na sexta-feira e ainda não está refletida nos postos. As alíquotas e valores de base variam a cada Estado.
Segundo a Fecombustíveis, as mais recentes revisões por litro de diesel comum variaram até R$ 0,029. Esse valor máximo é o do Amapá. Em São Paulo, foi de R$ 0,01 e no Rio, de menos de R$ 0,1.
A margem da distribuição e da revenda respondem juntas por 14,2% do preço final pago nas bombas pelo diesel comum, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A Petrobras participa com 57%; o biodiesel, com 14,1%; e os tributos estaduais e federais, com 14,3% e 0,5%, respectivamente.
Representante das grandes distribuidoras, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) não quis comentar o reajuste do preço do diesel nesta semana. O setor foi alvo de ataque do presidente da República, Jair Bolsonaro, na quinta-feira. Segundo Bolsonaro, o fim das bandeiras nos postos ajudaria a baixar os preços dos combustíveis.