• “Compassion Fatigue

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  • 19/06/2017 18:45

    Comecei a escrever esse texto enquanto assistia a uma aula da especialização na área de Resolução de Conflitos e Estudos da Paz no Centro de Paz da Tailândia, junto com outras 24 pessoas de 20 países diferentes. Todos nós “fatigados pela compaixão” ou com Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) Secundário. A maioria das pessoas já ouviu falar sobre TEPT ou já viveram situações de trauma.

    O psicólogo e professor Dr. Sonbat palestrava sobre o tema de traumas e autocuidado. Eu assistia com atenção para incorporar o aprendizado junto ao público com quem trabalho e com parte da minha equipe que lida diretamente com situações mais difíceis, comuns a uma zona de guerra urbana.

    Eu nunca me considerei uma pessoa traumatizada. Nunca sofri acidentes graves, nunca fui violentada de nenhuma forma, nunca apanhei e nunca presenciei ao vivo cenas graves de violência. Mas eu já conheci, ouvi e ajudei muitas pessoas que passaram por esses traumas.

    Enquanto ele dissertava sobre o assunto, mostrava gráficos e vídeos e aplicava questionários para avaliar o nosso nível de trauma, eu comecei a sentir um nó na garganta. Lembrei das vezes que cheguei em casa me “arrastando”, das vezes que chorei sem saber exatamente o porquê, das vezes que perdi minhas coisas, das vezes que eu não consegui me lembrar o que tinha feito no final de semana passado, das vezes que eu senti um isolamento, dos pesadelos de perseguição, armas e mortes. De sentir o desespero, como se fosse em mim, ao ler relatos em tempo real de amigos presos em uma zona de guerra durante intenso tiroteio….tantas vezes que eu achei que fosse “meio que normal” e nunca dei muita importância. Ele “lance” de estresse pós traumático era para os outros. Sempre me considerei uma pessoa saudável, pratico esporte, medito de vez em quando e achava que era o suficiente. Até que hoje alguém nomeou e enquadrou meus sintomas e sentimentos: “Compassion Fatigue” ou “Fatiga da Compaixão”

    “A Fatiga da Compaixão é um estado experimentado por aqueles que ajudam outras pessoas ou animais traumatizados, é um estado extremo de tensão e preocupação com o estado daqueles que estão sendo ajudados, chegando a um nível que pode causar um Transtorno de Estresse Pós Traumático Secundário. Se preocupar demais pode machucar, quando os cuidadores focam nos outros sem práticar o auto-cuidado, e com isso, comportamentos destrutivos podem aparecer. Apatia, isolamento, emoções reprimidas e abusos de substâncias além de vários outros sintomas” Dr. Charles Figley, Director, Tulare Traumatology Institute.

    No Brasil é comum usar o termo “cuidar de quem cuida”, mas a minha experiência pessoal com essas iniciativas foram muito superficiais e nunca me deram o “sacode” que essa nova informação me deu. O “buraco é muito mais fundo” e é necessário uma consciência e ação individual de quem tem “Fatiga da Compaixão”, quem está em níveis mais sérios dificilmente vai procurar um grupo ou um workshop sobre o assunto, porque possivelmente está acometido pela apatia e senso de isolamento. Portando esse termo “cuidar de quem cuida” não dá conta de acolher o tamanho dos traumas secundários, que podem, em último grau, levar ao suicídio. Sim, a coisa é séria. Países como o Canada não possuem uma estrutura organizada para isso, e tão pouco o Brasil.

    Vou listar aqui algumas práticas que foram recomendadas como auto cuidado para que você possa pesquisar e adaptar o que for melhor no seu dia a dia. São práticas que não dependem de instituições, é você consigo mesmo/a.

    1- Visualização?—?diversos estudos comprovam o efeito prático que a nossa imaginação tem sobre a nossa mente e corpo.

    2- Mindfulness?—?praticar a atenção plena no presente.

    3- Respiração Pranayama?—?Conhecimento milenar para acalmar a mente.

    Veja mais informações sobre essas práticas aqui: https://amenteemaravilhosa.com.br/

    As práticas acima podem ser feitas em qualquer lugar, só depende de você. Aliado a isso é importante:

    1- Prática de esportes ou dança de forma regular;

    2- Se envolver com atividade diferentes daquelas que geram o trauma;

    Se você trabalha em uma ONG, hospital, clínica ou qualquer instituição que possa gerar “Fatiga da Compaixão” sugira a incorporação e treinamento nessas práticas. Se você trabalha sozinho/a ou é aquela pessoa da família que “segura o tranco” adote essas práticas na sua vida.

    Se você curte ver noticiário sanguinário, imagens bizarras, documentários de guerra e filmes de extrema violência, saiba que você também pode desenvolver Transtorno de Estresse Pós Traumático Secundário.

    Se nós seres humanos fôssemos projetados para sermos cruéis, a nossa mente, corpo e espirito jamais seriam traumatizados. Algo muito profundo em nossa natureza repele a violência, a tortura e a injustiça. Vivemos uma sociedade doente em vários níveis. Cuide-se para que você possa continuar sendo um agente transformador dessa realidade.


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    Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Jornal Tribuna de Petrópolis.


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