• Como quadrilha alvo de operação produzia e enviava ‘cogumelo mágico’ para todo o Brasil

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  • 04/set 14:14
    Por Renata Okumura / Estadão

    A Polícia Civil do Distrito Federal, por meio da Coordenação de Repressão às Drogas, deflagrou, nesta quinta-feira, 4, uma operação policial para desarticular uma rede criminosa responsável pela produção, comercialização e distribuição para diversos Estados brasileiros da droga psilocibina, uma substância psicodélica natural encontrada em diversas espécies de cogumelos, conhecida como ‘cogumelo mágico’. No Brasil, a psilocibina é classificada como substância proibida pela Portaria nº 344/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tornando seu cultivo, comercialização e distribuição atividades ilegais sujeitas a sanções.

    Durante a Operação Psicose, são realizadas 20 buscas e apreensões, 9 mandados de prisão, bloqueio de contas e ativos financeiros dos investigados, além de suspensão de websites e perfis em redes sociais usados pelo grupo. São cumpridos mandados simultaneamente em endereços de Brasília (DF), Curitiba (PR), Joinville (SC), São Paulo (SP), Belém (PA), Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES), visando locais de produção, armazenamento e distribuição da droga.

    “Foram localizados locais de cultivo em larga escala, apreendidos equipamentos e veículos e identificadas colaborações ilícitas de agentes públicos que favoreciam a continuidade das atividades criminosas”, disse a polícia. O grupo também é investigado por crimes ambientais, contra a saúde pública e por lavagem de dinheiro. A defesa não foi localizada. A investigação deve ter ainda novas fases de desdobramentos, em razão da possibilidade de outras pessoas envolvidas.

    A investigação permitiu estimar em R$ 26 milhões o valor total do faturamento gerado pela rede criminosa de distribuição de cogumelos alucinógenos entre 2024 e 2025. Conforme a apuração, foram identificadas tabelas de preços que variavam de R$ 84,99, por três gramas, a R$ 9,2 mil, por um quilograma da substância.

    Como teve início a operação policial

    A investigação revelou que uma organização criminosa operava no Distrito Federal, no Paraná e em Santa Catarina, produzindo e distribuindo psilocibina em grande escala para consumidores e traficantes de diversos Estados do Brasil. Conforme a PCDF, ela teve início, ao longo de alguns anos, a partir do monitoramento de redes sociais e websites que anunciavam a venda dos entorpecentes. Páginas no Instagram eram utilizadas para atrair interessados, que eram direcionados para sites e grupos de aplicativos de mensagens, onde ocorriam as negociações. Procurada, a Meta, dona do Instagram, disse que a empresa não irá comentar o assunto.

    “No começo deste ano, nós tivemos novas informações a partir do monitoramento na rede social Instagram. A partir desse monitoramento, chegamos a um grupo de Brasília que estava produzindo psilocibina, que são os cogumelos alucinógenos. Divulgavam essa venda tanto nas redes sociais quanto em websites. Das redes sociais, eles captavam clientes que eram remetidos para os websites, que tinham o sistema de venda eletrônico”, disse o delegado Waldek Cavalcante.

    Segundo Cavalcante, aprofundando a investigação a polícia também chegou a produtores de outros Estados, do Paraná e de Santa Catarina, que antes estavam produzindo em São Paulo. Essa distribuição era feita para todo o País. “Na plataforma, o cliente podia escolher, de maneira organizada, uma diversidade de cogumelos alucinógenos diferenciados por espécie, forma de preparo e potência”, disse ainda a polícia. O sistema facilitava transações ao aceitar diversos métodos de pagamento, como transferências, cartão de crédito e PIX, visando simplificar o processo e tornar o rastreamento mais difícil.

    Penas podem chegar a 53 anos de prisão para os líderes do grupo

    De acordo com a PCDF, os envolvidos na operação poderão responder por tráfico de drogas qualificado, lavagem de dinheiro, associação criminosa, crimes ambientais e contra a saúde pública, publicidade abusiva e curandeirismo, com penas que podem atingir até 53 anos de prisão para os líderes do grupo. A operação teve o apoio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Receita Federal e dos Correios.

    Como as substâncias eram enviadas?

    As drogas eram enviadas pelos Correios e por empresas de logística em um esquema semelhante ao dropshipping, modelo em que pedidos feitos a uma empresa eram enviados por outra, o que acaba dificultando a fiscalização e também o rastreamento. Ainda conforme a investigação, o envio era realizado por serviços de encomenda expressa e discretos, com embalagens que não revelavam o conteúdo, reduzindo o risco de detecção durante o transporte.

    “Foram identificadas 3.718 encomendas postais, que totalizam aproximadamente uma tonelada e meia de drogas enviadas para diversas regiões do País”, disse a PCDF. Ainda de acordo com a apuração, a rede criminosa usava pessoas jurídicas de fachada, registradas no ramo alimentício, para ocultar a origem ilícita dos valores.

    Publicidade em redes sociais e parceria com influenciadores

    Para chamar a atenção do público jovem, especialmente em festas e festivais de música eletrônica, a organização criminosa utilizava websites atraentes, publicidade paga em redes sociais, e fazia parcerias com influenciadores e DJs. Os entorpecentes eram promovidos até em eventos, sugerindo falsamente benefícios à saúde.

    “Eles traziam uma narrativa científica de benefícios à saúde, buscando aumentar a venda. E isso é uma droga que não pode ser vendida nem consumida. Mas eles usavam essa narrativa buscando apoio de DJs e influenciadores”, disse ainda o delegado. Cavalcante explica que a substância é muito nociva à saúde. “O nome psicose é um dos efeitos colaterais do uso dessa substância, que traz a fuga da realidade. A pessoa que consome pode até chegar a uma overdose a também morrer”, afirmou ele.

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