Como o Corinthians teve nome envolvido com o PCC em investigação da polícia
Ao longo dos últimos meses, o Corinthians teve o nome associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), em razão de valores desviados do contrato entre o clube e a antiga patrocinadora Vai de Bet. Nesta semana, após quase um ano de investigações, a Polícia Federal (PF) concluiu que a Rede Social Media, que intermediou o acordo de patrocínio, usou uma empresa fantasma para fazer R$ 1.074.150,00UJ chegar à conta bancária da Football Talent Intermediação, empresa apontada como braço do PCC.
A conclusão da PF esquenta os bastidores da política corintiana, poucos dias antes da votação do impeachment do presidente do clube, Augusto Mello, alvo de quatro pedidos de destituição, um deles justamente em razão do caso Vai de Bet. A reunião que deve decidir o futuro do dirigente está marcada para o dia 26 de maio.
QUAIS AS EMPRESAS ENVOLVIDAS E QUAL O CAMINHO DO DINHEIRO?
O Corinthians anunciou, em janeiro de 2024, um acordo de patrocínio com a Vai de Bet no valor R$ 360 milhões. Em junho, após as notícias de repasses a “laranjas”, a casa de apostas rescindiu o contrato de forma unilateral. São quatro empresas as envolvidas na situação:
– Rede Social Media design Ltda: pertence a Alex Cassundé, um dos alvos da investigação. Atuou na campanha presidencial de Augusto melo como consultora de marketing e, depois, foi escolhida para intermediar o negócio com a Vai de Bet. Recebeu dois depósitos de R$ 700 mil feitos pelo Corinthians, nos dias 18 e 21 de março de 2024;
– Neoway Soluções Integradas em Serviços e Soluções Ltda: recebeu, da Rede Social Media, parte do R$ 1,4 milhão. Foram dois pagamentos, nos dias 21 e 26 de março. A empresa foi usada como “laranja” para dissimular o destinatário final do dinheiro em nome de Edna Oliveira dos Santos, uma empregada doméstica que vive em Peruíbe (SP). De acordo com a investigação, a Newoay integra um ” grupo criminoso” ao lado de outros CNPJs: a ACJ Platform, a Thabs Soluções Integradas e a Carvalho Distribuidora;
– Wave intermediações e tecnologia Ltda: também apontada como empresa fantasma, foi o terceiro destino no caminho do dinheiro subtraído dos cofres do Corinthians. Registrou uma movimentação de R$ 13 milhões entre os dias 26 de março e 28 à empresa Victory Trading Intermediação de Negócios, Cobranças e Tecnologia Ltda, outra investigada no caso;
– UJ Football Talent: de acordo com delação de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado no Aeroporto de Guarulhos em novembro do ano passado, é o braço do PCC no futebol. Recebeu R$ 874.250,00 da Wave e mais R$ 200 da Neoway, enviados à ela pela Victory Trading.
QUAL O NÍVEL DE ENVOLVIMENTO DO CORINTHIANS?
O delegado Tiago Fernando Correia, que preside o inquérito do caso, não tem dúvidas de que o Corinthians, como instituição, é uma vítima da situação. Não à toa, a conclusão apresentada é que o clube foi vítima de um furto qualificado praticado por uma associação criminosa envolvida com a lavagem de dinheiro.
“Em suma, que o Sport Club Corinthians Paulista foi lesado, é indubitável; e concordemos que, não se trata de coincidência, muito menos de mero acaso, o dinheiro ter saído das contas de um renomado clube brasileiro para ser abocanhado por uma afamada Agência de Assessoria Esportiva”, escreveu o delegado.
Em posicionamento oficial, o Corinthians diz que “não tem responsabilidade por qualquer direcionamento de dinheiro que não esteja na conta bancária do clube”. As suspeitas relacionadas aos dirigentes, contudo, continuam vivas. Augusto Melo prestou depoimento em abril e corre o risco de ser indiciado.
QUAL A LIGAÇÃO DA UJ FOOTBALL TALENT COM O PCC?
Vinícius Gritzbach fez um acordo de delação premiada com os promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e apontou Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, e Rafael Maeda Pires, o Japa do PCC, como os dois principais responsáveis pela lavagem de dinheiro da facção no futebol. De acordo com o delator, Tripa é dono da Lion Soccer Sports e teria participação também na UJ Football Talent, que nega as acusações das quais é alvo.
“A empresa não tem conhecimento sobre qualquer movimentação envolvendo empresas ditas como ‘fantasmas’ e tampouco tem responsabilidade ou ingerência sobre a origem dos recursos que foram eventualmente repassados por terceiros”, disse em nota oficial.
“Reforçamos que nem a UJ Football Talent, nem seu proprietário, são ou foram alvo de qualquer investigação criminal e que a associação da empresa a atividades ilícitas é equivocada, injusta e sem respaldo nos fatos”, defende-se, em outro trecho.
Já a Lion Sports nega que Tripa seja algo mais que “sócio administrador” da empresa. Em nota, diz que Danilo Lima de Oliveira nunca integrou, sob qualquer forma, o quadro societário ou de gestão da empresa UJ Football Intermediação. Ressaltamos, ainda, que Danilo Lima não possui qualquer envolvimento com os fatos sob investigação, tampouco figura como parte no processo mencionado nas reportagens, não tendo conhecimento dos elementos que compõem o referido caso.