Como o Chelsea traçou estratégia para rejuvenescer elenco e voltar ao topo do mundo
Eleito o craque do Mundial de Clubes da Fifa, o meia Cole Palmer já tem uma comemoração reconhecida pelos torcedores e veste a camisa 10 do Chelsea como se fosse um veterano – mas tem apenas 23 anos. Autor de dois gols e uma assistência na vitória por 3 a 0 sobre o Paris Saint-Germain na finalíssima, em New Jersey, o jogador da seleção inglesa, revelado pelo rival Manchester City, reflete o sucesso do clube londrino na mudança de perfil de contratações, hoje praticamente restritas a atletas jovens.
Quarto colocado na temporada 2024/25 do Campeonato Inglês, o Chelsea tem um elenco com média de idade de 23 anos. O plantel comandado pelo técnico italiano Enzo Maresca foi o mais jovem da liga inglesa e também o segundo mais novo entre os participantes do Mundial, atrás apenas do Salzburg, da Áustria.
O clube passou por uma transformação radical desde que o bilionário americano Todd Boehly e a Clearlake Capital assumiram o controle em 2022, substituindo Roman Abramovich. A maior parte dos jogadores foi vendida numa tentativa de reduzir tanto a idade do elenco quanto a folha salarial. Segundo a britânica BBC, o dinheiro foi reinvestido em uma estratégia clara: comprar jovens promissores com salários mais baixos, diluir os custos em contratos longos, manter uma alta rotatividade no elenco e vender atletas fora dos planos para gerar lucro.
“É assim que este mercado funciona. Não vejo isso como bom ou ruim”, disse Boehly no evento FT Business of Football, em fevereiro. “Você sempre se concentra em como manter algo unido por muito tempo. Como? Você identifica um portfólio mais jovem de jogadores, capaz de ser consistente e confiável por um longo período – e essa é uma opção valiosa”, completou.
O Chelsea se classificou para o Mundial com o título da Champions League na temporada 2020/21 – ao fim daquela temporada, a equipe foi campeã intercontinental ao bater o Palmeiras na final. Daquele elenco, apenas o capitão Reece James permaneceu no clube. Responsável por erguer o troféu de campeão – ato geralmente reservado aos mais experientes -, o volante inglês tem apenas 25 anos.
Os meias Enzo Fernández (24) e Moisés Caicedo (23), segundo e terceiro capitães do Chelsea, respectivamente, são outras lideranças de perfil jovem no time londrino. Juntos, custaram aproximadamente R$ 1,6 bilhão aos cofres do clube. Enzo foi comprado do Benfica, enquanto Caicedo veio do Brighton – dois clubes que se notabilizaram por alcançar altas cifras com a venda de jovens talentos.
A estratégia do Chelsea passa por repetir esse modelo com outras promessas da América do Sul, o que explica não só a contratação de Estêvão, ex-Palmeiras, como também a de outros que não vingaram, como Ângelo e David Washington, revelados pelo Santos.
O brasileiro João Pedro, autor de dois gols na semifinal contra o Fluminense e outro na decisão contra o PSG, custou 55 milhões de libras (R$ 415 milhões, na cotação atual). Aos 23 anos, o atacante revelado pelo Fluminense também teve passagem pelo Brighton antes de brilhar no clube londrino.
De acordo com relatório anual encomendado pela Uefa, o Chelsea tem o elenco mais caro do futebol europeu em termos de custos combinados de transferências. O clube gastou aproximadamente 1,6 bilhão de euros (R$ 9,9 bilhões na cotação atual) para montar o plantel – um valor recorde, que supera o do Manchester United em 2023 (1,42 bilhão de euros, ou R$ 8,8 bilhões).
A estratégia arrojada levou o clube aos títulos do Mundial e da Conference League, mas não passou despercebida. No início de julho, a Uefa aplicou uma multa de 31 milhões de euros (cerca de R$ 198 milhões) ao Chelsea por descumprimento das regras financeiras da entidade. O clube firmou um acordo de quatro anos para regularizar suas finanças, mas permanece sujeito a uma multa adicional de até 60 milhões de euros (aproximadamente R$ 382 milhões) caso não cumpra as metas estabelecidas no período.
Segundo comunicado oficial da Uefa, a multa foi dividida em duas partes: 20 milhões de euros por violar a regra relacionada aos ganhos com o futebol e 11 milhões por ultrapassar o limite de gastos com o elenco. Além da penalidade financeira, o clube também sofreu restrições para registrar novos jogadores na Lista A das competições da Uefa, como a Champions League e a Europa League.