• Comando Vermelho atua em 13 Estados e no DF: conheça a história da facção que esteve no MJ

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  • 14/11/2023 11:36
    Por Marcelo Godoy / Estadão

    Não existe um lugar no Brasil em que não haja a presença e a atuação de organizações criminosas. A afirmação é do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, que mapeou a presença de 53 grupos no País. É este levantamento sobre a crise em que se transformou a Segurança Pública no Brasil que mostra o tamanho da mais antiga e segunda maior organização criminosa do País: o Comando Vermelho (CV).

    A facção voltou a ganhar destaque no debate público nesta semana, depois que o Estadão revelou que Luciane Barbosa, mulher de um dos líderes do CV, foi recebida duas vezes Ministério da Justiça de Flávio Dino. Mas a atuação da organização criminosa já tem mais de 40 anos.

    A história da facção carioca é conhecida: nasceu no fim dos anos 1970 no antigo presídio da Ilha Grande. Foi criada por oito presos do Fundão, a Galeria da LSN (Lei de Segurança Nacional). Entre eles estava William da Silva Lima, o professor e autor do livro Quatrocentos Contra Um. No presídio, a facção travou uma guerra contra a Falange Jacaré pelo domínio da cadeia. O CV precisou de uma década para conquistar morros e dominar o tráfico de drogas, associando seu nome ao de assaltantes de banco, como José Carlos Gregório, o Gordo, e ao de traficantes, como José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha.

    Foi quando a facção deixou de ser conhecida como Falange Vermelha para passar a ter o nome atual: Comando Vermelho. Nos anos 1990 ela viu a ascensão de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar que com seus aliados buscava drogas diretamente no Paraguai e na Colômbia para abastecer os negócios do grupo. A facção, porém, nunca obteve o monopólio do crime no Rio, sendo desafiada por rivais que disputavam territórios e influência, como o Terceiro Comando e a Amigos dos Amigos (ADA).

    Na época, o CV chegou a atuar na Baixada Santista, em São Paulo, em um acordo com o Primeiro Comando da Capital (PCC), depois rompido em razão da disputa pelos pontos de venda de drogas. O conflito entre as facções na primeira década do século deixou mais de 20 mortos, entre eles Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu, apontado como um dos homens da cúpula do PCC favoráveis ao acerto com os cariocas do CV. Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o Naldinho, outro aliado do CV na região, desapareceu em dezembro de 2008. Na década seguinte, a guerra entre as duas facções seria retomada em outros Estados.

    Hoje, de acordo com mapa traçado pelo Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a facção domina 24,2% dos bairros do Rio, ficando atrás do poder das milícias, que controlam 25,5% dos bairros cariocas, enquanto o TCP detém o domínio de 8,1% e a ADA 1.9%. Recentemente, o grupo se uniu a dissidentes das milícias da zona oeste para expandir seu domínio por áreas como a comunidade Gardênia Azul, sob o comando do traficante Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, apontado como o principal líder da facção em liberdade.

    Teria sido Abelha o responsável por ordenar em 5 de outubro o julgamento e a morte de quatro milicianos que se aliaram ao CV e assassinaram, por engano, três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio. Um dos médicos – Perseu Ribeiro Almeida – foi confundido com o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barboza, preso recentemente pela Polícia Federal.

    É na região Norte e no Centro-Oeste do País, onde disputa o domínio do tráfico local e das rotas usadas para se trazer da Colômbia, da Bolívia e do Peru, que o CV teve maior sucesso fora do Rio. A facção conseguiu se tornar hegemônica em Mato Grosso e está presente em todos os Estados do Norte. No Acre, por exemplo, ela domina o Vale do Juruá e Cruzeiro do Sul, próximo da fronteira com o Peru e com a Bolívia. A região é rota de passagem para a cocaína peruana.

    No Amazonas, a facção teria promovido em junho de 2021 ataques a delegacias, bancos e ônibus como represália em razão da morte de um de seus integrantes, que estaria sendo extorquido por policiais corruptos. É justamente no Estado em que atua o traficante Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, cuja mulher, Luciane Barbosa Farias, de 37, foi recebida duas vezes neste ano por auxiliares do ministro da Justiça, Flávio Dino, em Brasília, conforme revelou o Estadão.

    A facção teria promovido ainda ataques a agentes das forças de segurança no Pará. Em 23 de março deste ano, policiais do Rio mataram Leonardo Costa Araújo, conhecido como Léo 41, de 37 anos, apontado como o chefe do tráfico de drogas no Pará. Ele estava escondido com outros bandidos do estado no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio.

    A presença de Léo 41 na cidade revela uma tática cada vez mais comum do CV: usar o Rio como refúgio para bandidos de outros estados. Em janeiro, policiais cariocas detiveram em São Conrado, na zona sul, o traficante Messias Tales de Souza Izidio, o Talibã, um dos chefes do tráfico no Ceará. Bandidos da Bahia, Rio Grande do Norte e Mato Grosso também foram localizados no Rio. A estratégia atual da facção passaria pela expansão de seus negócios pelo País, mantendo a disputa de quase uma década pelo mercado da droga.

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