• Com rublo em queda livre, Rússia tenta punir empresas ocidentais

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  • 02/03/2022 08:19
    Por Redação, O Estado de S.Paulo / Estadão

    A economia russa sente impacto cada vez maiores da últimas rodadas de sanções dos países ocidentais, com desvalorização do rublo e temor de alta dos preços. Para conter a sangria, o governo decidiu impor restrições temporárias à saída de bens russos do país.

    “Um projeto de decreto presidencial foi preparado para introduzir restrições temporárias à saída [de investidores estrangeiros] dos ativos russos para permitir que as empresas tomem decisões lúcidas e não sob pressão política”, disse o primeiro-ministro, Mikhail Mishustin.

    A medida anunciada pelo premiê se segue aos anúncios feitos por grandes empresas estrangeiras, incluindo a BP e a Shell, de que estavam se retirando da Rússia. O governo parece esperar que, com isso, essas empresas acabem mudando de opinião.

    O movimento também parece ter como objetivo impedir a fuga de capitais em um momento em que as sanções têm prejudicado o acesso do Banco Central às suas reservas cambiais.

    O Banco Central também ordenou o congelamento de todos os pagamentos de dividendos por empresas russas no exterior.

    A Mastercard e a Visa anunciaram na segunda-feira, 28, que deixariam de servir as transações dos bancos russos bloqueados, e a Disney anunciou que interromperia a distribuição de seus últimos filmes na Rússia.

    Em questão de semanas, a Rússia passou de uma lucrativa aposta na alta dos preços do petróleo para um mercado que afugenta investidores.

    O sistema de pagamentos Swift disse que está apenas esperando a lista de bancos que devem ser desconectados de seu sistema de mensagens financeiras à medida que as sanções forem implementadas.

    Com o mercado de ações de Moscou fechado pelo segundo dia nesta terça-feira, 1º, o bilionário russo Mikhail Fridman, que foi sancionado pela União Europeia, alertou que a saída de ativos russos poderia ser difícil mesmo sem a proibição temporária.

    “Não acho que seríamos capazes de vender ativos na Rússia agora porque não há compradores no momento”, disse Fridman a repórteres em Londres.

    Desvalorização

    O rublo voltou a cair ontem, apesar de a moeda russa encontrar algum apoio depois que as autoridades russas ordenaram que as empresas exportadoras, entre as quais alguns dos maiores produtores de energia do mundo, da Gazprom à Rosneft, vendessem 80% de suas receitas cambiais no mercado.

    Após uma recuperação de curta duração no início das negociações, a moeda caiu 5,4% em relação ao dólar, depois de perder 30% de seu valor no dia anterior

    A desvalorização levou o Banco Central a mais do que dobrar as taxas de juros, de 9% para 20% e adotar uma série de outras medidas urgentes.

    Consequências

    “O aumento substancial da taxa de juros do Banco da Rússia não conseguiu estabilizar o rublo”, disse Piotr Matys, analista sênior de câmbio da In Touch Capital Markets. “Os movimentos da moeda são uma indicação clara de que mesmo um movimento tão drástico não é suficiente para melhorar o sentimento negativo em relação ao rublo, pois é impossível para investidores estrangeiros investirem em ativos russos.”

    Para Dmitri Polevoyi chefe de investimentos da LockoInvest, a tendência agora é a de que estatais russas liquidem suas posições em dólar. O rublo fraco deve atingir os padrões de vida na Rússia e estimular a inflação já alta, enquanto as sanções ocidentais devem criar escassez de bens essenciais aos quais as pessoas na Rússia se acostumaram, como carros.

    Inflação

    O Instituto de Finanças Internacionais (IIF), um grupo comercial que representa grandes bancos, também alertou que a Rússia tem grande probabilidade de dar calote em suas dívidas externas e sua economia sofrerá uma contração de dois dígitos este ano.

    “A inflação aumentará no curto prazo, mas no longo prazo pode diminuir à medida que as pessoas na Rússia mudarem para um modo de economia de dinheiro”, disse Polevoy, da LockoInvest.

    O Banco Central e o Ministério das Finanças não responderam a um pedido da agência Reuters para comentar sobre a possibilidade de inadimplência da dívida do país. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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