• Com previsão de mais um período sem chuva, especialista alerta para o uso consciente da água

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  • 09/09/2021 19:18
    Por Luana Motta

    Há poucas semanas, o município esteve próximo da ameaça de desabastecimento por causa do intenso período de estiagem. A chuva das semanas seguintes ajudou a subir o nível dos mananciais, mas para a especialista Erika Cortines, presidente do Comitê Piabanha, as mudanças climáticas vão agravar ainda mais a crise hídrica também em Petrópolis, e é necessário que a população faça uma mudança de consciência em relação ao uso da água.

    O Comitê Piabanha faz o monitoramento da bacia hidrográfica que abastece Petrópolis. Erika avalia que a falta de chuvas neste ano é só uma prévia das consequências do aquecimento global e que é preciso criar políticas para o melhor aproveitamento e uso da água. “A situação poderia ter sido pior, mas independente disso a gente deve se preparar e se conscientizar. Precisamos criar políticas para reuso da água, para a captação da água de chuva. Porque essa não vai ser a primeira e nem a última que vamos passar. Acho importante que todos, não só a população, mas grandes usuários também se conscientizem disso”, disse Erika, que é professora de Gestão de Recursos Hídricos e Recuperação de Áreas Degradadas da UFRRJ, em Três Rios. 

    O forte período de seca prejudica não só o abastecimento, mas aumenta a incidência de ocorrências de incêndio em vegetação. As queimadas além de consumir florestas empobrecem o solo e reduz nascentes e mananciais. “Quando o clima está mais seco, o fogo ocorre dentro das florestas e não só nas pastagens. O fogo aumenta o escoamento superficial da água e reduz o processo de infiltração, então reduz a carga desses mananciais. Quando essas queimadas acontecem em áreas de cabeceira, afetam o nível desses reservatórios. Quanto menos infiltração tiver no solo, pior para os reservatórios”, explica Erika.

    Outro problema gerado pela crise é o aumento do consumo de água subterrânea por meio da extração de poços. Erika lembra da crise que aconteceu em 2014, em que houve um aumento no número de poços furados. “Isso pode parecer insignificante, mas se somado ao todo, incluindo as grandes indústrias que fazem a captação de água subterrânea em forma de produto, pode afetar os níveis dos reservatórios e a distribuição de todos”, disse. 

    “Passou da hora da gente repensar os nossos usos, nossas formas de abastecimento, de buscar sistemas alternativos. Esse é um alerta para uma situação que vai se tornar cada vez mais recorrente. É urgente rever nossos conceitos”, alerta a especialista. 

    Concessionária de água faz planejamento para mais dias de estiagem

    Após semanas sem chuva, a concessionária Águas do Imperador divulgou um alerta sobre a queda de 23% no nível dos mananciais que abastecem a cidade. Poucos dias depois, a chuva contribuiu para o restabelecimento do sistema de abastecimento. Mas algumas localidades mais altas ainda estão sofrendo com a estiagem. 

    Para Márcio Salles, superintendente da Águas do Imperador, embora Petrópolis tenha sentido de forma mais grave o reflexo da estiagem neste ano, esta ainda não é a pior das situações. E concorda com a especialista, em relação a se preparar para as consequências futuras das mudanças climáticas. “Nosso cenário ainda é muito melhor do que os municípios ao lado e o restante do país, porque a gente tem plano de contingência, e as elevatórias, que no momento, não está operando 100%”. As elevatórias a que Márcio se refere foram construídas pela concessionária no Rio da Cidade em Vargem Grande, e a Ponte de Ferro, que é abastecida pelo Caxambu. As duas são os principais mananciais que abastecem o primeiro distrito. 

    A Águas do Imperador possui uma equipe de profissionais que fazem o monitoramento do clima e a previsão para planejar ações para o abastecimento no município. Faltando menos de um mês para o fim do inverno, e ainda há previsão de mais dias de forte estiagem. 

    “Estamos prevendo um ciclo de veranico, um ciclo seco. A tendência é que aconteça no final de setembro e início de outubro, podendo se deslocar para meados de outubro. Esse é um fenômeno que sempre acontece em meados de outubro, mas ele tende a ser menor do que os outros, é de curta duração”, explica o superintendente da Concessionária. 

    Como forma de preparação a longo prazo, a concessionária está perto de entregar a obra de construção de uma nova Estação de Tratamento de Água, em Araras. “Ela é a virada da chave. Com a nova estação podemos dizer que não há previsão de falta d’água pelos próximos 50 anos em Petrópolis. Mesmo com o agravamento do cenário extremo como estamos vivendo”, afirma. 

    “As nossas ações enquanto companhia de abastecimento são prover condições para que esse equilíbrio continue de forma permanente”, disse Márcio. 

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