• Com o álbum ‘Numanice Ao vivo’, Ludmilla quer ir além do ‘tiro, pancada e bomba’

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  • 23/03/2021 07:09
    Por Danilo Casaletti, especial para o Estadão / Estadão

    Numanice Ao Vivo, projeto audiovisual mais recente da cantora fluminense Ludmilla em que ela canta pagode, já tem, pouco mais de um mês após o lançamento, 90 milhões de plays nas plataformas digitais. Nada mal para uma artista que tem sólida carreira no funk desde 2012, quando, aos 16 anos, se tornou conhecida do grande público. Nas redes sociais, os números também são expressivos. No Instagram, são mais de 23 milhões de seguidores. No Twitter, outros 8 milhões. Ludmilla sabe trabalhar muito bem com eles. Numanice Ao Vivo nasceu de uma divertida aposta com os fãs. Se ela vencesse o Prêmio Multishow de 2019 como cantora do ano, que tinha votação popular, dedicaria um álbum para o ritmo que, às vezes, cantava para os seguidores.

    A cantora garante não pautar a carreira pelos dados extraídos das plataformas e redes sociais – que seria cada vez mais importante no mundo da música, no qual disco físico é algo que a geração dela pouco vivenciou.

    “Os números são importantes para publicidade e investimentos. Porém, meu foco são as pessoas. Gosto quando chego a um show e a galera canta minhas músicas. Ou, na rua, quando passo, alguém, em vez de falar meu nome, canta um verso que gravei. O que me incentiva é emocionar e empoderar o público. Quero fazer e curtir minha arte, além de apenas gerar números.”

    O pagode e o samba, conta, chegaram muito antes do funk em sua vida. Quando pequena, no quintal da família Oliveira da Silva, em Duque de Caixas, município do Rio de Janeiro, era isso que se ouvia. “Cresci ouvindo e amando o ritmo”, diz a cantora. Junto da avó, ela escutava os discos de Alcione, Beth Carvalho, Jovelina Pérola Negra e Belo.

    O álbum ao vivo, derivado de um EP lançado no ano passado, foi gravado em uma apresentação feita no Morro do Pão de Açúcar, no Rio. Entre os convidados, estão Thiaguinho, Bruno Cardoso, do grupo Sorriso Maroto, o grupo Menos é Mais e o rapper Orochi.

    Além da vontade dos fãs, outro fato contribuiu para a feitura do álbum, que tem produção musical de Rafael Castilho. Para além do “tiro, porrada e bomba” do funk, Ludmilla queria dar espaço a canções mais românticas que compõe e que não cabem no Batidão.

    Uma delas é a que abre o trabalho, batizada de Ela Não. Um típico pagode dor de cotovelo, com inspiração na vertente paulistana do ritmo difundida nos anos 1990, mas do ponto de vista feminino. “Ela não tem meu cheiro, ela não tem meu toque, ela não para tudo”, dizem os versos iniciais.

    Outra faixa de Numanice Ao Vivo, o nome vem de uma expressão que a cantora usa corriqueiramente, é a regravação de I Love You Too, dos compositores portugueses Soraia Ramos e Gerson Costa, originalmente lançada em rhythm and blues.

    “Conheci a Soraia em uma turnê que fiz em Portugal. Fiquei viciada na música dela. Escutava todos os dias, postava nos stories. Tinha vontade de gravar essa música, mas com uma pegada brasileira. Esse projeto me deu essa oportunidade”, conta. Se na gravação original a autora canta com o rapper Gson, aqui, Ludmilla convidou o fluminense Orochi.

    Esses feats, anteriormente chamados de duetos ou parcerias, são algo que Ludmilla quer cada vez fazer mais, inclusive com artistas de outros países, já como parte de um plano de carreira lá fora. “Muito mais que um simples plano de carreira internacional, eu quero fazer conexões com outras pessoas, de diferentes culturas. Quero sair da caixinha”, afirma.

    Há seis meses Ludmilla é sua própria empresária, depois de romper a parceria de sete anos com o empresário Alexandre Baptestini. Ela diz que ganhou mais liberdade, foco e vontade de fazer seus projetos. Além disso, tenta aparar arestas de uma vida artística que a levou ao sucesso muito cedo. “Ainda não consegui ajustar tudo. No começo, foi uma loucura. Agora, a meta é ter tudo planejado. A parte musical para este ano já está toda no papel. Se não fosse a pandemia, também já teria organizado as outras áreas.”

    No funk

    Apesar do êxito do álbum de pagode, o foco de Ludmilla continua sendo o funk. Em novembro, ela lançou o single Rainha da Favela, de Pablo Fierro e Cabrera, com clipe gravado na Rocinha. A música celebra o chamado funk raiz e pede, no refrão: foca no meu bumbum. O clipe já tem mais de 46 milhões de visualizações no YouTube.

    Lançada há quase um mês, a música Pra te Machucar conta com a participação do grupo baiano ÀTTOOXXÁ, do trio americano de música eletrônica Major Lazer e do jamaicano Suku Ward. A letra composta por Ludmilla e Ward sob a base feita por Diplo, um dos integrantes do Major Lazer, traz uma mensagem de empoderamento feminino à maneira do funk: “Quando minha bunda sobe, desce só para te machucar”. “É isso mesmo”, diz a cantora. O clipe dirigido por Felipe Sassi vai na mesma linha e mostra Ludmilla lutando contra uma gangue que explora mulheres.

    Para ela, o funk é uma diversão, um ritmo capaz de tirar alguém da “bad”. “É uma cultura que vem das favelas e invade outros tipos de público, como o A. Funk é muito bom!”, garante.

    Na cadeira

    Em janeiro, Ludmilla estreou como técnica do programa The Voice Mais, na TV Globo, dedicado a candidatos com mais de 60 anos. Ao lado de Daniel, Claudia Leitte e Mumuzinho, ela tem como missão selecionar e orientar os participantes. A atração tem alcançado bons índices de audiência.

    “Os candidatos são demais e suas histórias são inspiradoras! A emoção acontece nos dois lados. Nós também nos emocionamos ao vê-los cantar”, diz. Uma das participantes, a carioca Miracy de Barros, de 82 anos, já falou mais de uma vez que se inspira em Ludmilla e que era parecida com a cantora no passado. “Ela diz que o apelido dela é danadinha”, conta Ludmilla, que tem um álbum com o título A Danada Sou Eu.

    Na primeira e classificatória fase do programa, os jurados participam da chamada audição às cegas, quando ficam de costas para os concorrentes e apertam o botão que vira a cadeira em que estão sentados, indicando que gostaram e têm interesse pela voz de quem está se apresentando.

    Entre anônimos e amadores, pelos menos quatro nomes conhecidos no meio musical participaram: Claudya, que fez muito sucesso nos anos 1970 com gravações como Deixa Eu Dizer e Com Mais de 30; Dudu França, do hit Grilo na Cuca; Vera do Canto e Mello, professora de canto de artistas como Marília Pêra, Marisa Monte e Paula Toller; e Leila Maria, que já lançou disco pela gravadora Biscoito Fino. Todos foram classificados.

    Aparentemente, nenhum dos jurados os reconheceu, mesmo após se virarem de frente para os veteranos. Eles receberam críticas nas redes sociais. “Não somos obrigados a conhecer todo mundo. Ninguém conhece todo mundo. Estamos lá para nos divertir, aprender e ajudar as pessoas. E fazemos muito bem o nosso trabalho”, diz Ludmilla.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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