Com lotação de leitos, Goiás aposta em mapeamento semanal com municípios
Frente à alta nas mortes por covid-19, o Estado de Goiás deve publicar uma recomendação sanitária até a noite desta terça-feira, 16, para orientar municípios sobre como agir diante do risco de colapso no sistema de saúde por causa do novo coronavírus. No Hospital de Campanha de Goiânia, não há mais vaga disponível para pacientes graves, e 93% dos leitos da rede estadual estão ocupados. São as maiores taxas desde o início da pandemia.
A medida evita o desgaste de editar um novo decreto limitando serviços e condutas sociais. Segundo o secretário de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino, decretos anteriores não tiveram impacto em decorrência da autonomia dos municípios. A estratégia, afirma, será criar marcos, controlar a ocupação e reavaliar os dados semanalmente com os gestores municipais. A orientação estabelecerá três categorias de sinalização, atenção, crítica e de calamidade, com respostas adequadas para cada uma.
Nesta quarta-feira, 17, o governador vai alinhar as recomendações com prefeitos dos municípios que são os maiores focos de contaminação. Alexandrino assume que a recomendação que será expedida não tem a dimensão de um decreto, mas avisa que ela deve orientar cada gestor em cadência com a realidade local, e que ela tem capacidade de subsidiar futuros decretos municipais e estadual, se necessários.
“Em cada situação dessas haverá um conjunto de recomendações correspondentes ao cenário divulgado toda sexta-feira aos gestores municipais”, informou. A categoria de atenção será indicada quando a rede atingir 75% de ocupação dos leitos de UTI de um município. Já a categoria crítica vai ser declarada quando a ocupação for até 85%. Acima disto é declarada a categoria de calamidade do município.
Além das internações em UTI, também vão alimentar esse mapeamento a ocupação de leitos de enfermaria com pacientes de covid, a velocidade de disseminação do vírus, a capacidade e a velocidade de transmissão frente, por exemplo, às novas cepas do vírus que podem circular. Goiás já registrou três pessoas contaminadas com as cepas de Manaus e da Inglaterra.
Sofrimento
À parte das medidas sanitárias, padecem pessoas como a professora Luíza de Oliveira Martins, 64, que já teve a família toda abalada pela epidemia. Com a voz ainda embargada pela tosse e pelo impacto do sofrimento físico e emocional, ela relata que enterrou o pai de 93 anos em janeiro, vítima de covid-19, e que a doença já tinha atingido quase todos os familiares, “independentemente de isolamento”.
Hoje, uma das irmãs está internada em uma UTI de Goiânia. Além de Luíza, dessa irmã internada, o marido, a mãe, outra irmã e as duas filhas dela tiveram covid com diferentes níveis de sintomas e de gravidade. “Minha irmã e minhas sobrinhas pegaram duas vezes, isso é devastador”, conta. Segundo ela, os parentes vivem atormentados pelo medo de uma nova cepa, mais grave, alcançar a família já tão castigada. “Hoje não temos nem como vacinar minha mãe, que tem a idade, mas não está liberada ainda porque teve covid recentemente”.
A Câmara Municipal de Goiânia anunciou que fechará galerias e corredores a partir desta quarta-feira, 17, devido à grande quantidade de casos de covid entre parentes de servidores e vereadores. Foi justamente na cidade que o prefeito eleito em 2020, Maguito Vilela do MDB, morreu de covid-19 no dia 13 de janeiro, sem nem exercer a função. A doença também quase levou o prefeito de Catalão, no sudeste. Adib Elias ficou internado numa UTI de São Paulo por 24 dias, em estado grave, e há seis voltou para a cidade em recuperação.
Em Alto Horizonte, na região norte de Goiás, na semana passada, a prefeitura fechou por tempo indeterminado o gabinete do prefeito Luís Borges, e várias unidades depois que ele, a primeira dama Rosania Machado, e quatro secretários municipais, testaram positivo para covid-19. Nesta semana, um deles, o secretário de Administração, Wanderson Pereira, de 37 anos, morreu vítima da doença.
Leitos
Como em outros Estados, a situação ficou mais crítica após as festas de fim de ano. Mas o alerta acendeu na segunda-feira, levando o governo estadual a abrir emergencialmente 35 leitos de UTI, sendo 20 no sudoeste goiano (15 em Rio Verde e 5 em Mineiros), 5 em Senador Canedo na região metropolitana de Goiânia, e 10 novas UTIs para covid em Luziânia, no entorno do Distrito Federal.
O governo fala em abrir mais leitos de UTI nos municípios de Quirinópolis, São Luís dos Montes Belos e Santa Helena. Com a expectativa de progressão depois do carnaval, já que as cidades turísticas de Goiás estão movimentadas, a secretaria recomenda atenção à manutenção da rede de saúde por tempo indeterminado. Goiás já registrou 8 mil mortos por covid-19 desde 26 de março. Até agosto, eram 3 mil. Em cinco meses e meio, o número mais que dobrou.