• Com início das comemorações do bicentenário de Dom Pedro II, Museu Imperial tem expectativa de ultrapassar a marca de 500 mil visitantes em 2024

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  • Em entrevista exclusiva concedida à equipe da Tribuna, Maurício Vicente Ferreira, diretor do Museu Imperial, fez um balanço sobre o ano de 2023, e antecipou alguns dos projetos da instituição para 2024

    31/12/2023 10:05
    Por Manoelle Rocha

    O petropolitano Maurício Vicente Ferreira Júnior, bacharel em história pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é Matser Of Arts – Museum Studies pela Universidade de Nova York; Pesquisador do Instituto Brasileiro de Museus do Ministério da Cultura (IBRAM- Minc), escritor e diretor do Museu Imperial desde 2008. No entanto, sua história com o antigo Palácio de Verão da Família Imperial teve início há 40 anos.

    Em entrevista exclusiva concedida à equipe da Tribuna, ele faz um balanço do ano de 2023 do Museu, e antecipa alguns dos projetos para o ano que vem, como a possibilidade de abertura para visitações da Casa Geyer. Também projeta que o Museu Imperial, com o início das comemorações do bicentenário de Dom Pedro II, alcance a marca de 500 mil visitantes em 2024 e 2025.

    Balanço do ano de 2023

    Segundo Maurício, um dos projetos mais importantes para o Museu, neste ano, foi o início da obra da Casa Geyer. A coleção e o imóvel foram doados à instituição pela família Imperial e após conseguirem o patrocínio de uma empresa, o restauro do prédio principal começou neste ano.

    Ele conta que a Casa Geyer, localizada no Cosme Velho, no Rio de Janeiro, será literalmente um novo museu e que a previsão de abertura para visitações é entre 2024 e 2025.

    “Uma casa espetacular, uma coleção extraordinária que foram doadas ao Museu e nós estávamos lutando em busca de patrocínio para conseguir, de fato, dar início aos trabalhos e finalmente conseguimos”, destacou Maurício.

    O diretor do Museu lembrou que entre o ano de 2021 e 2022, a exposição “O Olhar Germânico na Gênese do Brasil”, com as obras da Casa Geyer, foi realizada no Museu Imperial e que o livro que acompanha o projeto da exposição homônima, foi um dos finalistas do prêmio Jabuti deste ano, na categoria arte, e ressaltou que estar entre os finalistas foi extraordinário para toda equipe da instituição.

    Em 2023, o Museu Imperial também foi sede do curso organizado pela secretaria de turismo da cidade, que teve como intuito instrumentalizar os profissionais da área de turismo do município.

    Maurício acrescenta que a parceria entre Museu e Prefeitura foi boa, e ajudou a qualificar ainda mais estes profissionais da área do turismo, que tiveram acesso a um conhecimento mais profundo do acervo e da coleção.

    Casa Geyer

    Doada ao Museu Imperial pelo casal Maria Cecília e Paulo Fontainha Geyer, em abril de 1999, a Casa Geyer se tornou uma subunidade do museu petropolitano. O tombamento de sua coleção foi aprovado em 04 de dezembro de 2014.

    A coleção da Casa Geyer é formada por mais de 4.000 obras, dentre livros, objetos, mobiliário, porcelana, prataria, iconografia – ou seja, pinturas, gravuras, desenhos – entre outros. Maurício informou que serão expostas cerca de 500 a 600 peças, e que este é um índice alto de itens para exposição.

    Ele ressaltou que o imóvel também vai contar com uma sala de exposições temporárias e que as outras peças que ficarão guardadas, poderão participar de exposições temáticas que serão apresentadas no local.

    Focos para 2024

    Maurício Vicente conta que para o próximo ano o Museu terá dois focos: um, será expor as obras da coleção da Casa Geyer, que no momento estão preservadas no Museu Imperial, através de exposições temporárias; o outro, será o início da celebração dos 200 anos do nascimento de Dom Pedro ll.

    Ele explica que o coroamento desta celebração acontecerá em dezembro de 2025, mas que o “pontapé” inicial já foi dado com o lançamento do livro – Dom Pedro ll e Portugal: memória, representações e sociabilidades.

    “O livro foi preparado dentro da temática que será o fio condutor das comemorações, nós vamos falar das viagens de D. Pedro ll ao mundo. Na verdade, ele empreendeu várias viagens pelo Brasil e pelo mundo, então nós vamos tomar estas viagens como o fio condutor, para lançar projetos específicos, projetos de exposição, publicações, seminários e cursos em comemoração ao bicentenário”, contou.  

    Livro – Dom Pedro ll e Portugal: memória, representações e sociabilidades

    No início de dezembro, o Museu Imperial apresentou o livro Dom Pedro ll e Portugal: memória, representações e sociabilidades, como abertura das comemorações ao bicentenário de Dom Pedro II.

    O exemplar, que conta com a marca do bicentenário criada pela mão de obra do Museu estampando a capa, foi produzido com base nos documentos relativos às viagens de D. Pedro II, com destaque para os diários das viagens ao território português, e recebeu o apoio da Embaixada de Portugal em Brasília e do Instituto Camões.

    O livro apresenta de forma inédita o álbum do fotógrafo Joaquim Coelho da Rocha, único profissional português do ramo a receber o título de Fotógrafo da Casa Imperial, justamente devido à produção do material.

    Em 1871, durante uma viagem a Portugal, D. Pedro ll foi visitado por Joaquim Coelho, e oito meses após o primeiro encontro, o Imperador retorna à Lisboa para fazer sua viagem de volta ao Brasil em definitivo. Neste momento, eles se encontram pela segunda vez e Joaquim presenteia Dom Pedro ll com o álbum.

    Maurício salienta alguns aspectos sobre os registros. Ele destaca a questão dos encontros familiares, e chama este primeiro conjunto de imagens de “álbum familiar sem retratos”, pois as imagens representam pessoas e contam a história familiar, como por exemplo, o Palácio das Janelas Verdes, onde vivia a madrasta de Dom Pedro ll, Dona Amélia.

    Outro aspecto destacado é o roteiro dos monumentos. Neste circuito, ele vai tentar captar os monumentos que Dom Pedro ll adorava visitar, como por exemplo, a foto do “Passeio Público, do Rocio”, em Lisboa, onde funcionava o ateliê do fotógrafo, autor do álbum.

    A localidade não existe mais. Ela foi completamente desfeita para abertura da Avenida da Liberdade, e Maurício destaca que o registro feito por Joaquim Coelho da Rocha é um documento das transformações urbanas, que também alcançaram o fotógrafo na época. Ele reforça que o valor documental do álbum é incomensurável.

    Dom Pedro ll e Portugal: memória, representações e sociabilidades tem a organização de Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, historiadora e pesquisadora da Área de Pesquisa, e Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial. Eles dividem a autoria dos textos com os pesquisadores portugueses Isabel Corrêa da Silva e Jorge Alves, e os brasileiros Danielle Ribeiro de Castro-Mansano, Arno Wehling, Fabiano Cataldo e Frederico Ferreira. Lilian Schwarcz, historiadora e antropóloga brasileira, e autora da quarta capa da publicação.

    Comemoração do Bicentenário do nascimento de Dom Pedro de Alcântara, D. Pedro II do Brasil

    Até 2025, a expectativa é a produção de pelo menos mais dois livros sobre Dom Pedro ll, para culminar a comemoração do bicentenário, que tem as viagens do Imperador pelo Brasil e pelo mundo como foco.

    Os registros feitos pelo Imperador, nas 44 cadernetas, que são peças do Museu Imperial e contam com anotações sobre as viagens, traduções e comentários, serão o principal conjunto documental a serem utilizados nestas comemorações.

    “Vamos utilizar buscando temas que a gente possa discutir, traduzindo estas questões, pois nosso objetivo não é simplesmente enaltecer a figura de Dom Pedro ll, nós queremos, sim, conhecer melhor o século XIX, tendo Dom Pedro ll como observador privilegiado destas histórias e inovações que ele conheceu”, justificou Maurício.

    Um exemplo são os registros da viagem aos Estados Unidos, em 1876, que contam sobre as invenções que estavam sendo apresentadas naquele período e que ele conheceu durante a viagem, além das relações diplomáticas e relações bilaterais. Ele foi o único chefe de estado presente na exposição que comemorou o centenário da Independência dos Estados Unidos, com o presidente Ulysses Simpson Grant, em maio de 1876.

    Maurício revelou também que Dom Pedro ll traduziu a língua tupi-guarani, traduziu sânscrito, hebraico, árabe, italiano e inglês.

    O diretor do Museu revelou que um dos livros já está com a produção em andamento e que o projeto irá catalogar as viagens do Imperador. O outro exemplar, que tem produção prevista para 2024 e lançamento em 2025, será composto pelas imagens de Dom Pedro ll sendo retratado.

    “A ideia é que esse tema das viagens possibilite a criação de projetos específicos como, por exemplo, uma exposição que acompanhe um seminário ou um livro que acompanhe um curso e que alcance o mais diversificado público”, disse Maurício.

    Ele acrescenta que, na verdade, Dom Pedro ll é uma personalidade que provoca muita reflexão e que os projetos de comemoração pretendem provocar olhares diferentes sobre a trajetória do Imperador ou utilizar a forma pela qual ele registrou o mundo, como um elemento a desvendar melhor a história do Brasil no século XIX, seja no plano cultural, politico, artístico, econômico, entre outros.

    Para Maurício, a história não se dá no ato abrupto do que aconteceu, a história é um processo longo.

    “Nós costumamos dizer que temos três tempos na história: temos o tempo curto, tempo médio, que é o tempo da conjuntura e o tempo da estrutura, que é muito mais longo. Em alguns aspectos, nós estamos vivendo em uma estrutura de mil ou de dois mil anos. Em outras situações, nós vivemos em uma conjuntura que perdura por sessenta, setenta anos”, explicou.

    Som e Luz

    Maurício contou que o Museu Imperial busca patrocínio para que o projeto, que teve um rebatimento muito importante em vários setores da cidade como turismo, serviços e hotelaria, possa voltar a abrilhantar o Museu.

    “Som e Luz era para ter durado 7 anos e acabou durando 17 devido ao sucesso. A ideia é retomar o projeto assim que for possível, queremos diversificar, conquistar e fidelizar mais pessoas”, ressaltou o diretor.

    Biblioteca em braille

    O museu conta com uma biblioteca com centenas de títulos em braille, mas Maurício pontua que o espaço é pouco utilizado, uma vez que as pessoas acabam tendo dificuldade para chegar ao local.

    “Temos uma biblioteca prontamente montada, só que não recebemos público, precisamos encontrar uma forma de fazer com que essas pessoas consigam chegar até aqui”, afirmou.  

    Visitação

    O diretor do Museu Imperial conta que o ano de 2019 foi o que registrou maior público visitante. Na ocasião, foram 464 mil pessoas (sem contar o público que visitou apenas a área externa).

    Havia a expectativa de que a marca fosse batida em 2020, no entanto, com a pandemia, não foi possível ultrapassar o número registrado no ano anterior.

    Em 2021 e 2022, os números foram de 260 mil e 300 mil visitantes, respectivamente. O levantamento do público visitante neste ano ainda será realizado, mas Maurício acredita que a marca ultrapasse os 300 mil.

    Ele disse, ainda, estar confiante que com as comemorações do bicentenário esse número aumente e que em 2024 e 2025 a marca de 500 mil seja ultrapassada.

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