Com foco no BC, Ibovespa cai 0,17%, em baixa pelo 6º dia, aos 124,1 mil
O Ibovespa não conseguiu sustentar recuperação nesta quarta-feira, 16, estendendo a série negativa pela sexta sessão – a maior desde a longa correção entre 1º e 17 de agosto. Hoje, fechou em baixa de 0,17%, a 124.171,15 pontos, como ontem no menor nível de encerramento desde 14 de novembro (123,1 mil). Entre a mínima e a máxima, oscilou de 123.641,94 a 125.300,97 pontos, saindo de abertura a 124.388,62 pontos. O giro foi reforçado pelo vencimento de opções sobre o índice, a R$ 47,6 bilhões. Na semana, o Ibovespa cai 1,41% e, no mês, cede 3,07%. No ano, recua 7,46%.
No exterior, o dia foi marcado por ajuste nos preços do petróleo, com o Brent em retração de 3%, abaixo de US$ 88 por barril, em Londres. Os estoques de petróleo dos Estados Unidos tiveram crescimento de 2,735 milhões de barris, a 459,993 milhões, na semana passada, informou o Departamento de Energia. Analistas ouvidos por The Wall Street Journal previam alta de 600 mil barris.
Ainda que o Ibovespa tenha contado com o apoio de Petrobras (ON +0,15%, PN +0,73%) e especialmente do setor metálico (Vale ON +1,09%, Gerdau PN +0,40%, CSN ON +1,06%), o índice operou no negativo ao longo da tarde, renovando mínimas da sessão abaixo dos 124 mil a partir das 13h16. No pior momento, foi a 123,6 mil, abaixo da mínima intradia de ontem, que havia sido a menor desde 16 de novembro.
Nesta quarta-feira, o índice foi contido em especial pelas ações de grandes bancos, mas o desempenho do setor melhorou um pouco do meio para o fim da tarde, com Banco do Brasil (ON +0,21%) e Itaú (PN +0,06%) tendo oscilado para o positivo, reduzindo a pressão sobre o Ibovespa. Na ponta ganhadora da carteira, destaque para CSN Mineração (+5,48%), Locaweb (+3,71%) e Vamos (+2,54%). No lado oposto, Marfrig (-6,45%), CVC (-5,05%) e Eztec (-4,43%).
O sentido negativo do Ibovespa se manteve na sessão apesar da moderada retração do dólar, em baixa de 0,47%, a R$ 5,2439. “No médio prazo, com a dissipação de alguns choques – como redução do impasse no Oriente Médio, maior clareza para a economia dos EUA, e se entendermos melhor evolução das contas públicas -, a tendência é que o dólar fique em patamar um pouco mais baixo”, observa em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “No curtíssimo prazo, vemos mercado estressado, com curvas de juros subindo, queda da bolsa e dólar além da barreira de R$ 5,20.”
“A aversão a risco global – que fez o ouro, um indicador do medo, subir 13% no mês até ontem, e o dólar avançar 5% frente ao real, no mesmo intervalo, tendo flertado com o patamar de R$ 5,30 – deu uma trégua hoje: a ausência de notícias negativas permitiu uma relativa acomodação. Foi um dia, de certa forma, de reversão à média”, diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, destacando em especial o deslocamento dos rendimentos das Treasuries de 10 anos, hoje um pouco abaixo de 4,6% após terem tocado ontem, no fechamento, o nível de 4,7%.
“A boa prévia operacional de Vale o relatório de produção divulgado na noite de ontem pela empresa, acima das estimativas dos analistas – que revisaram favoravelmente projeções para a mineradora no primeiro trimestre e no ano -, além do avanço do minério de ferro na China, assegurou alta para as ações do setor metálico, limitando assim as perdas do Ibovespa na sessão”, acrescenta a analista, destacando também notícia positiva para a Gerdau, que tem operação nos EUA, após o governo americano sinalizar intenção de sobretaxar o aço importado da China.
Mas a pitada de sal que se impôs ao sentimento dos investidores veio da agenda macro, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que fez alerta, hoje, sobre os riscos para a política monetária relacionados a uma possível desancoragem do fiscal. Na mesma semana em que o governo decidiu mudar as metas de referência para as contas públicas em 2025 e 2026, as declarações de Campos Neto foram recebidas como duras pelo mercado, abrindo um flanco para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em maio, na qual já se poderia optar por um corte menor na Selic, de 0,25 ponto porcentual, mesmo tendo telegrafado, no comunicado e na ata de março, a manutenção do ritmo de meio ponto para o mês.
“Se você perde credibilidade na âncora fiscal, fica mais caro para a âncora monetária”, afirmou nesta quarta-feira o presidente do BC, durante evento da XP Investimentos em Washington, onde Campos Neto se encontra para as reuniões de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele destacou também que a autoridade monetária fará “o que for necessário para ancorar a inflação”. “É importante repetir”, frisou o presidente do BC, que voltou a ser criticado, recentemente, pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann.