• Com 45 promessas sul-americanas, futebol nos EUA muda perfil de estrangeiros

  • 22/03/2021 20:00
    Por Pedro Ramos / Estadão

    A próxima temporada da Major League Soccer, a liga de futebol dos Estados Unidos, passará a contar com três promessas do futebol brasileiro: Brenner, 21 anos, ex-São Paulo; Caio Alexandre, 22 anos, ex-Botafogo; e Fábio, de 22, emprestado pelo Oeste ao New York Red Bull até junho deste ano. Essas transações fazem parte de um movimento cada vez mais intenso de transferência de atletas sul-americanos para os Estados Unidos.

    Os clubes da MLS estão mudando o perfil de reforços estrangeiros. Durante anos, a liga foi vista como um campeonato em que destaques europeus jogariam antes de se aposentar. Foram os casos mais recentes de Andrea Pirlo, Steven Gerrard e Frank Lampard. Não é mais assim.

    Hoje, 20 dos 27 times que vão disputar a próxima temporada da MLS têm em seus elencos pelo menos um jogador sul-americano de até 23 anos. As equipes contam com 45 atletas da região até 23 anos, sendo 13 argentinos, sete venezuelanos, seis uruguaios, seis colombianos, cinco equatorianos, quatro brasileiros, três paraguaios e um peruano. O outro brasileiro da lista, além de Brenner, Caio Alexandre e Fábio, é o goleiro Phelipe Megiolaro, de 22 anos, que foi novamente emprestado pelo Grêmio ao Dallas FC.

    Um dos fatores que podem ajudar na transição dos atletas sul-americanos na MLS é a maior presença de técnicos do próprio continente nos últimos anos. Hoje, são cinco treinadores da América do Sul: os argentinos Gabriel Heinze (Atlanta United), Matias Almeyda (San Jose Earthquakes) e Hernán Losada (D.C. United), além do colombiano Óscar Pareja (Orlando City) e do venezuelano Giovanni Savarese (Portland Timbers). Não há ainda nenhum brasileiro.

    No comando do Atlanta, Heinze foi peça importante na contratação do jovem compatriota Franco Ibarra, de apenas 19 anos, do Argentinos Juniors. Anunciado como reforço da equipe no mês passado, Ibarra fará companhia a outras três promessas: os argentinos Ezequiel Barco (21 anos) e Santiago Sosa (21 anos), além do paraguaio Erik Lopez (19 anos). Quem trabalha diretamente com Matias Almeyda no San Jose Earthquakes é o brasileiro Bruno Costa, chefe de scouting do clube. Além dele, a liga tem outros brasileiros nos cargos de diretor de futebol, como André Zanotta, do FC Dallas, e Ricardo Moreira, do Orlando City, além de Luiz Muzzi como vice-presidente de futebol também do Orlando.

    Para Costa, que foi executivo da base do Fluminense e trabalhou como chefe de scouting na CBF, a MLS é uma liga que tem um planejamento estratégico muito bem organizado e viu uma oportunidade de mercado interessante no futebol sul-americano. “Com a crise econômica nos países da América do Sul e a desvalorização do câmbio, os clubes dos EUA visualizaram uma oportunidade de contratar essas promessas para desenvolver esses jogadores e, naturalmente, fazer uma venda futura deles. Além disso, a liga hoje também está formando muitos jovens americanos de qualidade para as principais competições da Europa.”

    Além de monitorar jovens estrelas do futebol profissional da América do Sul, os clubes da MLS estão atentos aos torneios de base, acompanhando de perto as promessas do continente, assim como fazem os clubes europeus. No último Sul-Americano Sub-20, disputado em 2019, dez jogadores que disputaram a competição se transferiram para o futebol dos Estados Unidos, sendo quatro atletas do Equador, campeão da edição.

    Em janeiro deste ano, o colombiano Jhon Durán, de apenas 17 anos, foi vendido pelo modesto Envigado, clube que revelou nomes como James Rodríguez, para o Chicago Fire, tornando-se a contratação estrangeira mais jovem da história da liga. Ele, que estreou aos 15 anos no Campeonato Colombiano, já era observado por equipes europeias por se tratar de uma das principais promessas de sua geração. Durán representou o Equador no Sul-Americano Sub-17 disputado em 2019.

    Costa vê com bons olhos a chegada de muitas promessas sul-americanas também pelo custo-benefício, o que ajuda a explicar uma maior presença desses jogadores na MLS. “A liga dos EUA tem uma estrutura muito organizada que vai permitir ao jogador um desenvolvimento técnico, um alto nível competitivo e equilíbrio entre os times, além de que o salário é pago sem atrasos”, defende.

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