Com 23,36% das ocorrências vistoriadas até agora, Defesa Civil pode levar até três meses para concluir o trabalho
Desde o dia 15 de fevereiro, quando Petrópolis viveu a maior tragédia socioambiental de sua história – que deixou 233 mortos, quatro desaparecidos e mais duas mil famílias desabrigadas ou desalojadas -, a Defesa Civil vem trabalhando na emissão de laudos que avaliam a possibilidade de riscos e interdição dos imóveis afetados. Um trabalho que, em 22 dias resultou em 1.245 avaliações, em um cenário de 5.328 decorrências das chuvas (a maior parte delas barreiras). Em média, são 56,6 vistorias por dia. Mantido esse ritmo, a conclusão do trabalho pode levar até três meses (94 dias), a partir do dia da tragédia.
Tempo que a Maria Dolores Conde Soares, de 55 anos, não pode esperar. No dia do temporal que devastou a cidade, ela estava em casa, com a filha e outras duas pessoas da família. “Veio a barreira, com as árvores e atingiu a nossa casa, destruindo o telhado”, relata a manicure.
Ela mora no número 32 da rua Gonzaga Vieira Júnior, na Vila de Cascatinha, no segundo distrito. Além da casa da Maria Dolores, também foi atingida a casa de uma vizinha, idosa e com deficiência visual. “Ela ainda é surda e mora sozinha. Além das nossas casas, pelo menos outras quatro casas também estão em risco. São árvores de até 16 metros de altura que ainda podem cair. E se isso acontecer, pode afetar ainda mais pessoas”, explica.
A moradora registrou a ocorrência na Defesa Civil, mas não obteve um prazo de quando a vistoria irá acontecer. “Hoje (10), minha filha voltou a ligar para a Defesa Civil para saber se havia previsão e disseram que não poderiam vir nessa semana. Estamos todos em casa, não temos para onde ir e precisamos do laudo para que a Comdep (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis) possa vir e retirar as árvores. Se a gente cortar alguma árvore aqui o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) pode multar a gente, porque atrás (da casa) é uma área de proteção ambiental”, afirma.
Trabalho realizado por bairros
Até agora, o volume de laudos emitidos pela Defesa Civil representa 23,36% do total. Segundo a Defesa Civil, atualmente, 3.200 vistorias estão em andamento e os laudos já concluídos podem ser acessados no site da Prefeitura, na página da Defesa Civil (https://www.petropolis.rj.gov.br/dfc).
Ao longo dos últimos dias, as vistorias e orientação têm sido realizadas por bairros. O Floresta foi um dos que recebeu nesta semana o trabalho de análise técnica feito nas áreas afetadas pelas chuvas. De acordo com o órgão municipal, foi apresentado aos moradores a demarcação dos trechos de risco remanescente, com imóveis temporariamente interditados. Eles ainda teriam sido orientados quanto aos riscos de permanecerem nas residências atingidas ou próximas das áreas afetadas.
No Floresta, segundo a Defesa Civil, foram registradas 108 ocorrências nas ruas Floresta, Henrique Paixão, Alberto Martins, Dr. João Glass Veiga, Fabiano L. Pércia Gomes e Norival Castro Gomes. Os moradores que tiveram que sair das residências buscaram casas de parentes, os pontos de apoio, estabelecidos nas escolas Duque de Caxias e Joaquim Deister, além de igrejas da região.
Ainda de acordo com a Prefeitura, esse trabalho intensificado para atendimento à população começou a ser feito na segunda-feira (7), também nas localidades do Vila Militar, Caxambu e seguiu, na quarta-feira (9), para o Vila Felipe, no Alto da Serra.
O que diz a Defesa Civil
Em resposta à Tribuna, a Defesa Civil informou que “realizou 1.245 vistorias em 24 dias – número que equivale a 75% de todo o atendimento realizado em 2021, quando foram registradas 1.654 ocorrências. Todos os 17 pedidos da região de Cascatinha serão atendidos”.
A Secretaria esclareceu, ainda, que no primeiro momento após a chuva do dia 15 de fevereiro, priorizou o suporte ao resgate das vítimas e a análise global das áreas afetadas. Neste segundo momento, segundo a Defesa Civil, com as equipes reforçadas, está intensificando as vistorias em imóveis, além de avançar no atendimento de localidades fora do primeiro distrito.
De acordo com a Defesa Civil, nos últimos dias, também foi observada grande busca de pessoas solicitando a revalidação de Registros de Ocorrências (RO) antigos, que não representam situações ocorridas em função da chuva de fevereiro. Essa situação eleva o número de pedidos de vistorias, mas não representam casos emergenciais.
*Matéria atualizada às 17h52 para inclusão do posicionamento da Defesa Civil.