
Clube 29 de Junho – História e Tradição
O Príncipe da Prússia e a Colônia Alemã de Petrópolis
Os colonos alemães que se estabeleceram em Petrópolis deixaram a sua terra natal em 1845 e tal decisão foi bastante dolorosa devido a muitas questões importantes. Lugares especiais como o Rio Mosel cuja beleza nunca mais seria contemplada, amigos que não poderiam mais se abraçar e familiares que nunca mais se reuniriam em ocasiões especiais como, por exemplo, o Natal.
Estamos falando sobre pais se despedindo de seus filhos para nunca mais vê-los novamente, sobre avós que não veriam o nascimento de seus netos e etc. Uma dor difícil de ser compreendida por uma geração que desfruta de tantos avanços tecnológicos apresentados pelos modernos meios de comunicação.
A subida da serra foi longa, o trabalho para desbravar as matas virgens foi árduo e abrir terreno para a construção de suas casas nos prazos de terra destinados pelo Major Koeler foi gratificante.
Mas, certamente as lembranças se faziam presentes no coração deste bravo e corajoso povo germânico. E, por isso, importa registrar uma visita ilustre que certamente foi capaz de matar um pouco dessa enorme saudade e fazê-los lembrar que eles não haviam sido esquecidos.
Em 1882, o Príncipe Heinrich da Prússia embarcou numa corveta denominada Olga para uma viagem ao redor do mundo com duração de dois anos. Consta nas fontes consultadas que ele exercia o cargo de Segundo Tenente da Marinha e estava destinado a tomar conta da Armada Alemã.
O Príncipe Albert Wilhelm Heinrich era o terceiro filho do então Príncipe Imperial Friedrich, herdeiro da Casa de Hohenzollern, do Reino da Prússia, e de Victoria Adelaide, a Princesa Real e filha mais velha da Rainha Vitória do Reino Unido. Seu avô Wilhelm I era o então Rei da Prússia desde 1861 e o Imperador da Alemanha desde 1871, quando ocorreu a unificação do país.
A visita do Príncipe ao Brasil estava relacionada a uma propaganda da Sociedade Central de Berlin em favor da colonização alemã. Consta que sua chegada ao Porto de Santos a bordo da corveta Olga se deu no dia 15 de julho de 1883.
O Príncipe Heinrich chegou à cidade de São Paulo em 19 de julho acompanhado pelo Comandante Barão von Schendorff e mais seis oficiais, sendo recebido pelo Vice-Cônsul da Alemanha Gustavo Schaumann e por grande parte da colônia alemã da capital paulista.
Enquanto a comitiva real passeava pela cidade, algumas casas das ruas de São Bento, Direita e Imperatriz ostentavam orgulhosamente o estandarte nacional alemão para saudá-lo e prestar homenagem a sua terra natal.
À noite, o Príncipe Heinrich foi recebido com um baile alemão oferecido pela comunidade germânica local.
Consta nas fontes consultadas que o Príncipe Heinrich chegou ao Porto do Rio de Janeiro no dia 16 de agosto, sendo recebido pelo Imperador Dom Pedro II e pelo Conde d’Eu, depois então conduzido até o Arsenal da Marinha e levado para cumprimentar a Imperatriz Teresa Cristina e a Princesa Imperial Dona Isabel.
A visita do Príncipe à colônia alemã de Petrópolis foi noticiada em detalhes pelo Jornal Mercantil. No dia 19 de agosto de 1883, uma multidão de colonos alemães, cidadãos brasileiros e também de outras nacionalidades se reuniu na Estação do Príncipe do Grão-Pará, onde aguardavam ansiosamente pela chegada do Príncipe da Casa de Hohenzollern.
A sua chegada foi motivo de grande alegria principalmente para os colonos alemães que, certamente, sentiam muita saudade de sua terra natal, aquela que haviam deixado para trás há 38 anos.
O trem foi recebido com uma salva de fogos enquanto a Banda Eckhardt tocava o hino Heil Dir im Siegerkranz. Consta que esta música possuía a mesma melodia do hino inglês God Save The King/Queen com letra adaptada para homenagear o Rei da Prússia, que posteriormente se tornou o Imperador Alemão, em 1871.
Ali, os colonos alemães estavam demonstrando seu carinho e lealdade à figura do Kaiser Wilhelm I do Império Alemão, avô do Príncipe Heinrich.
Acompanhado pela sua comitiva, o Príncipe foi levado até “a casa do encarregado de negócios da Alemanha”, onde foi recebido pelo Pastor Protestante Richard Schulz e pelo Reverendo Vigário Theodoro Esch.
Em seguida, o Príncipe saiu em passeio pela Rua de Joinville, atual Rua Ipiranga, e seguiu rumo a Rua Westfália, atual Avenida Barão do Rio Branco, sendo bastante atencioso com a multidão que o saudava.
Na manhã do dia seguinte, uma segunda feira, o Príncipe Heinrich e os membros de sua comitiva passearam de cavalo pela cidade, sendo que o Príncipe montava o cavalo do Imperador Dom Pedro II. Em seguida, a comitiva real alemã participou de um almoço com os seus convidados, os senhores Müller e Lindscheid.
Na mesma tarde, às 14 horas, o Príncipe Heinrich e os membros de sua comitiva visitaram a Escola Evangélica, pertencente à Igreja Evangélica de Confissão Luterana, sendo recebidos pelo Pastor Richard Schulz.
O Príncipe foi levado até as salas de aula, onde foi recebido pelas crianças que juntas entoavam Die Wacht am Rhein (A Sentinela do Reno), uma das canções patrióticas mais populares na Alemanha entre o final do século 19 e o início do século 20.
Em seguida, o saudaram por três vezes entoando o hino Heil Dir im Siegerkranz em homenagem ao Império Alemão, e o Deutschland! Deutschland über alles (Alemanha! Alemanha acima de tudo), um hino que naquela época visava apenas celebrar a unificação alemã.
Acompanhado pelo Pastor Richard Schulz, o Príncipe foi levado com sua comitiva ao templo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, que estava ricamente adornado com palmeiras e flores.
Depois, seguiu rumo a casa do Vigário Theodoro Esch, que o levou para conhecer tanto a Velha Matriz de São Pedro de Alcântara quanto a Igreja do Santíssimo Coração de Jesus, nome conforme citado na matéria original. O Príncipe também conheceu a escola do senhor Henrique Monken. Ainda na mesma tarde, às 15h30, o Príncipe Heinrich se dirigiu até a casa do senhor Karl Spangenberg, que lhe entregou de presente uma linda bengala feita de massaranduba, tendo gravada no cabo uma corveta com o nome Olga, uma águia defendendo o seu ninho e, mais abaixo, uma bandeira com as palavras “Lieb Vaterland magst ruhig sein, Hohenzollern ist Ruder dein” (Querida pátria, fique tranquila, Hohenzollern é o seu leme) e desenhos de animais e plantas do Brasil.
O jantar aconteceu na casa do encarregado de negócios da Alemanha tendo como convidados o Pastor Richard Schulz e o Vigário Theodoro Esch. À noite, muitas casas estavam lindamente iluminadas enquanto a Banda Eckhardt e muitas pessoas seguiram a marcha noturna rumo à casa onde o Príncipe estava hospedado.
Com a presença da comunidade alemã e do Deutscher Saengerbund Eintracht (Coral Concórdia), a casa do Príncipe foi iluminada por fogos de artifícios que emitiam toda sorte de luzes e cores, seguindo a marcha noturna pela Rua Dom Affonso, atual Avenida Koeler, até o Salão Rougemont, onde o hino nacional alemão foi entoado e o Príncipe adentrou com sua comitiva vestindo seu uniforme de Segundo Tenente da Marinha Alemã.
Ainda na solenidade, o Príncipe Heinrich agradeceu ao senhor Karl Spangenberg pela linda bengala, enquanto este o saudou em nome de toda a colônia alemã de Petrópolis.
O Príncipe propôs um brinde em primeiro lugar ao Imperador da Alemanha, e em segundo lugar ao Imperador do Brasil, sendo então entoados os seus respectivos hinos nacionais.
No final da solenidade, foram apresentados ao Príncipe Heinrich os senhores Fleischer, Rose, Raeder, Kallenbach, Schmidt e Sixel. O evento encerrou com o senhor Lindscheid brindando em homenagem ao Imperador Alemão, seu avô, enquanto que o senhor Karl Spangenberg brindou em homenagem ao Príncipe Herdeiro da Alemanha, seu pai.
O Príncipe Heinrich deixou o local enquanto o Deutscher Saengerbund Eintracht entoava a música “Er lebe hoch”, uma canção que o desejava vida longa, e demonstrou bastante satisfação com a hospitalidade e o carinho demonstrados pela colônia alemã e demais cidadãos que o trataram tão bem, partindo de Petrópolis no dia seguinte, 21 de agosto de 1883.
Em 24 de maio de 1888, o Príncipe Heinrich se casou com a Princesa Irene de Hesse e do Reno, com a qual retornaria ao Rio de Janeiro em 1914.
BIBLIOGRAFIA:
1 – Gazeta de Notícias – Rio de Janeiro – Edições de 14.11.1882, 14.02.1883, 17.07.1883, 21.07.1883 e 17.08.1883.
2 – Jornal Mercantil – Petrópolis – Edição de 25.08.1883.
3 – Tribuna de Petrópolis – Edição de 14.04.1914.