
Clube 29 de Junho – História e Tradição
A Velha Matriz de São Pedro de Alcântara
Quando o Imperador Dom Pedro II assinou o Decreto Imperial nº 155, em 16 de março de 1843, determinando assim as diretrizes para a fundação de Petrópolis, também foi estabelecida a demarcação de um terreno para a construção de uma igreja católica com a invocação de São Pedro de Alcântara.
É importante explicar que tal decisão não pode ser caracterizada apenas como uma simples demonstração de devoção religiosa pessoal do Imperador, mas tinha relação direta com as suas obrigações constitucionais relacionadas ao Padroado Real, também conhecido como Padroado Régio.
Conforme estabelecido pela Constituição de 1824, o Império do Brasil era oficialmente um Estado Católico e cabia ao seu Imperador a obrigação de prover a devida assistência religiosa ao seu povo, como no caso da recém fundada Colônia de Petrópolis.
O Padroado Real era um sistema onde o Papa concedia tanto aos Reis de Portugal quanto aos Imperadores do Brasil o poder legal de conduzir os assuntos da Igreja Católica Apostólica Romana em seus territórios.
Vale destacar que São Pedro de Alcântara foi instituído como Padroeiro do Império do Brasil, pelo Papa Leão XII, em 31 de maio de 1826, atendendo ao pedido do então Imperador Dom Pedro I. O santo também era conhecido como protetor da Monarquia brasileira e já era venerado pela Família Real Portuguesa.
Petrópolis formava um Curato anexo à freguesia de São José do Rio Preto, que por sua vez pertencia ao município de Paraíba do Sul.
Destaca o Instituto Histórico de Petrópolis que, em 20 de maio de 1846, conforme a lei n°397, o curato foi desmembrado de São José do Rio Preto e se tornou uma freguesia integrada a Vila da Estrela, sob a invocação de São Pedro de Alcântara de Petrópolis.
Em 30 de junho de 1846, o Internúncio Apostólico Monsenhor Gaetano Bedini celebrou uma missa campal na Praça da Confluência.
Ainda não havendo uma construção definida, a Sede da Paróquia funcionou provisoriamente no Quartel das Obras Provinciais, na esquina da Rua do Imperador com a Rua Dona Januária, onde estava situado o antigo Fórum, atual prédio do CEFET. Numa mesma sala do prédio acontecia tanto a celebração da Santa Missa quanto o Culto Divino dos Protestantes.
Neste período provisório, os batizados e casamentos eram realizados na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Fazenda da Samambaia e no Oratório de Sant’Ana do Córrego Seco, na antiga Casa da Fazenda, onde missas eram celebradas a cada quinze dias para atender aos colonos alemães.
O Mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa da Silva, teve a intenção de construir um único templo para atender a ambas as religiões, copiando o exemplo do que já acontecia nas terras germânicas, onde cristãos reformados e católicos romanos utilizavam os mesmos templos.
Tal projeto não prevaleceu devido a discordância do Internúncio Apostólico Monsenhor Fabrini e, então, as obras para a construção da igreja começaram em 1847.
Um documento assinado por Koeler, em 01 de julho de 1847, enviado para a aprovação do Governo Provincial, registra que havia sido publicado um edital com dois meses de antecedência para convocar empresários a apresentarem seus projetos e o empreiteiro escolhido foi Justino de Faria Peixoto. Neste documento também consta que o Imperador havia concedido a quantia de três contos de réis para a execução da obra.
O Major Júlio Frederico Koeler então deu início a construção, mas já tendo previsto que o templo planejado demoraria para ser finalizado e desejando facilitar o andamento das práticas religiosas em Petrópolis, optou pela edificação de uma capela mais simples.
A igreja teve como base de construção um barracão localizado na Rua da Imperatriz, que serviu originalmente para recepcionar os colonos alemães antes destes serem enviados aos seus respectivos quarteirões.
A Matriz de São Pedro de Alcântara foi concluída em 1848, tendo como endereço a Rua da Imperatriz, de frente para o Palácio Imperial, sendo posteriormente conhecida pelos petropolitanos como a Velha Matriz de São Pedro de Alcântara.
O Vigário designado foi o Cônego Luís Gonçalves Dias Correia, proprietário da Fazenda da Samambaia e Vigário da Paróquia de São José do Rio Preto.
Ainda em 1848 foi inaugurado o primeiro sino, no qual estava fundida uma imagem do Anjo da Guarda, e que servia para tocar as “Ave-Marias”, motivo pelo qual o seu nome era “o sino do Angelus”.
Em 1854, a Superintendência da Fazenda Imperial e do Rio de Janeiro instalou uma grade e uma cancela de balaústres torneados na linha divisória da igreja com a capela-mór.
Consta que, em 1865, a Matriz de São Pedro de Alcântara passou por uma reedificação cuja soma em dinheiro foi arrecadada em parte pelo povo petropolitano e em parte pela administração da Província.
Também consta que esta matriz seria apenas provisória, uma vez que já estava prevista a construção de uma igreja de proporções maiores, que fosse condizente tanto com o grau de importância da cidade quanto com o número de seus fiéis.
Em 1876, o coro do templo foi reformado. Em 31 de janeiro de 1895, teve início a construção da Torre ao lado esquerdo da igreja. Nesta mesma época, também foi construído nos fundos da igreja um novo consistório e instalado o grande sino de São José.
Em 1898, a igreja passou por novas reformas e ampliações do espaço. Em 19 de outubro de 1899, foi inaugurada a nova capela do Santíssimo Sacramento, construída aos fundos e à direta da igreja.
Pode-se dizer com certeza documental que a Velha Matriz é a igreja onde foram registrados os primeiros passos de fé dos colonos alemães católicos que se estabeleceram em Petrópolis, tanto batizados quanto casamentos.
No Arquivo Histórico e Eclesiástico da Diocese de Petrópolis existem inúmeros registros que são de suma importância para a história tanto da Colonização Alemã quanto de suas genealogias, já publicadas pelo Jornal Tribuna de Petrópolis, através do trabalho de Carlos G. Rheingantz e Paulo Roberto Martins de Oliveira.
Dentre tantos, o autor deste texto consegue destacar dois registros resgatados de sua pesquisa familiar e pessoal, os casamentos dos irmãos Mathias e Andreas Justen, filhos dos colonos alemães Johann Justen e Maria Margaretha Hansen, aforadores do Prazo de Terra nº 3814, no Quarteirão Darmstadt.
Mathias Justen se casou, em setembro de 1850, não havendo citação do dia no registro original, com Ludovica Lahr, filha dos colonos Christian Lahr e Margarida Braun, aforadores do Prazo de Terra nº 3602, localizado no Quarteirão Woerstadt. Assina este registro de casamento o Pároco Francisco Antônio Weber.
Andreas Justen se casou, em 28 de setembro de 1852, com Elisabeth Haubrich, filha dos colonos Jakob Haubrich e Maria Catharine Theisen, aforadores do Prazo de Terra nº 3824, localizado no Quarteirão Darmstadt. Assina este registro o Padre Nicolao Germaine, na condição de Sacerdote Coadjutor.
Dentre os sacerdotes que pastorearam a Paróquia de São Pedro de Alcântara, destacou-se o padre Francisco Antônio Weber, vindo da Diocese de Estrasburgo, na Alemanha, contratado em 12 de novembro de 1846 pelo Governo da Província do Rio de Janeiro, para atender especialmente aos colonos alemães em seu idioma natal e dar-lhes a devida assistência religiosa.
Consta que o Imperador Dom Pedro II, na manhã do dia 15 de novembro de 1889, após o término da Missa, ali recebeu em mãos o segundo telegrama enviado pelo Visconde de Ouro Preto, no qual este se demitia do Cargo de Presidente do Conselho de Ministros do Brasil.
Proclamada a República, o Marechal Deodoro assinou o decreto que expulsou do Brasil a Família Imperial, que seguiu rumo ao exílio na Europa a bordo do navio Alagoas.
A Velha Matriz de São Pedro de Alcântara começou a ser demolida em 09 de março de 1926 e, no dia 27 de abril do mesmo ano, o leiloeiro Augusto Pinto de Carvalho vendeu os materiais de construção aproveitados da querida e saudosa igreja que tantas recordações deixou no coração do povo petropolitano que um dia a conheceu.
BIBLIOGRAFIA:
1 – Livro: História de Petrópolis – Henrique José Rabaço. Instituto Histórico de Petrópolis, 1985. Impressão: Oficinas Gráficas da Universidade Católica de Petrópolis.
2 – Arquivo Histórico e Eclesiástico da Diocese de Petrópolis – RJ.
3 – Site catedraldepetropolis.org.br
4 – Site diocesepetropolis.com.br
5 – Livro Petrópolis – Relatos Históricos, Thalita de Oliveira Casadei, 1991. Ed. Gráf. Jornal da Cidade.