
Clube 29 de Junho – História e Tradição
Os 180 Anos da Comunidade Evangélica de Petrópolis
Em 12 de novembro de 1837, chegou ao Rio de Janeiro o veleiro Justine levando a bordo 238 imigrantes alemães que seguiam viagem rumo a Sidney, na Austrália. Conforme registrou Frederico Damcke, o primeiro escrivão da Colônia de Petrópolis, em 1857, os imigrantes do Justine resolveram ficar no Brasil devido a “desinteligências a bordo”.
O Major Júlio Frederico Koeler conseguiu contratá-los para trabalho nas obras da Estrada Normal enquanto que o Governo Provincial garantiu o pagamento das passagens.
Vale destacar que a maioria destes imigrantes eram luteranos e por isto pode-se afirmar que a presença de uma comunidade alemã protestante no Itamaraty antecedeu em quatro anos a fundação da própria cidade de Petrópolis.
Não foi possível localizar a Lista de Bordo do Justine, mas dentre as 147 pessoas que constituíam a comunidade alemã do Itamaraty em 1840 constam os nomes de Conrado Sattler, André Andessen, Felipe Jung, João Didrich, Pedro Gross, José Engel, Friedrich Korsch, J. Müller, E. Müller, E. Huttscher e as famílias Rickert, Arends, Retz, Dasen, Hettering, Weizmann, Prasch, Wiegand, Hieffer, Blanth, Klein e Guntacher.
Outra fonte histórica bastante reveladora é a Lista dos Confirmandos de 1855, que revela os lugares de origem de alguns destes alemães, como Laudert, Simmern e Ingelheim. No nº78 desta lista consta o seguinte registro: “Johann Klein, nascido em 26 de abril de 1841, em Itamaraty, no Brasil, sendo seus pais Peter Klein e Maria Klein”.
Ainda sobre esta comunidade alemã primitiva, consta que o primeiro ato religioso evangélico realizado no Itamaraty ocorreu em 24 de fevereiro de 1840, enquanto que o primeiro batizado aconteceu em 03 de março do mesmo ano, o da menina chamada Catharina Bárbara Guntacher.
Ainda conforme registrou o escrivão Damcke, o Governo da Província enviou o Pastor Dr. Neumann para prestar assistência religiosa a estes alemães, mas sobre esta comunidade consta que não prosperou. Em 1841, havia apenas três famílias e os motivos são desconhecidos.
A fundação da cidade de Petrópolis se deu em 16 de março de 1843 enquanto que a chegada dos alemães considerados colonos aconteceu entre os dias 13 de junho e 08 de novembro de 1845.
No final do ano de 1845 havia em Petrópolis 1921 alemães, sendo 711 protestantes evangélicos, o que levou Koeler a solicitar ao Presidente da Província do Rio de Janeiro, por ofício de 29 de julho de 1845, o envio de dois sacerdotes alemães, um católico e outro protestante, para prestar os devidos serviços religiosos aos recém chegados colonos em sua língua materna.
Poucos dias antes, em 25 de julho de 1845, Koeler já havia solicitado o envio de um pastor da Igreja Evangélica Germânica do Rio de Janeiro, o Reverendo Dr. Frederico Avé Lallemant, para abençoar o cemitério protestante, realizar alguns batizados e casamentos e sepultar uma criança alemã que já estava doente desde a viagem de navio.
E assim aconteceu. Conforme o próprio Pastor Dr. Frederico Avé Lallemant escreveu em seu livro “Erinnerungen an Brasilien”, o culto divino foi celebrado no dia 29 de agosto de 1845, marcando então a data oficial da fundação da Comunidade Evangélica de Petrópolis, mesmo dia em que também abençoou o Cemitério Protestante.
Em 19 de outubro de 1845, foi celebrado um culto divino na Praça Koblenz, onde hoje está o Palácio de Cristal, cujo testemunho foi registrado pelo Mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa da Silva, em carta destinada ao Imperador Dom Pedro II e publicada pelo Jornal Tribuna de Petrópolis em 22 de outubro de 1961.
Após uma presença marcante na Comunidade Evangélica de Petrópolis, o Pastor Dr. Avé Lallemant foi solicitado que retornasse ao Rio de Janeiro, onde era Diretor e único professor da Escola da Comunidade, dando lugar ao Pastor Dr. Julius Friedrich Lippold que, a partir de 1846, se tornou o primeiro Pastor residente da Comunidade Evangélica de Petrópolis.
Dentre tantos registros históricos preservados, consta no primeiro Livro de Casamentos da Comunidade Evangélica de Petrópolis, em outubro de 1846, o casamento de “Peter Kreischer, nascido em Rhaunen-Sulzbach – Trier, em 05/11/1826, filho de Johann Kreischer e Maria Elisabeth Pick, e Elisabeth Schweickardt, nascida em Ober-Ingelheim, Rhein Hessen, em 24/06/1830, filha de Johannes Schweickardt e Elisabeth Engler”, ancestrais maternos e paternos do autor deste texto.
No ano de 1852, Dom Pedro II prometeu ao Pastor Dr. Lippold a doação de um terreno e a entrega do dinheiro arrecadado para a construção de uma igreja evangélica. O Major Koeler também havia reservado um terreno para tal obra, mas, após sua morte, seu sucessor usou o terreno para a construção de sua residência particular.
Com a morte do Pastor Dr. Lippold, em 06 de junho de 1852, os planos para a construção da igreja evangélica foram suspensos porque o seu sucessor, o Pastor Daniel Jacob Hoffmann, não conseguiu dar continuidade ao projeto.
Consta que os cultos divinos eram celebrados no “Salão dos Quartéis Provinciais” (prédio do antigo Fórum), onde também funcionavam em outras dependências a Diretoria da Colônia, a Escola do Professor Pedro Jacoby, a enfermaria e a prisão, e também aconteciam cultos divinos no Engenho de Serrar.
Em 05 de abril de 1862, enviado pela Missão da Basiléia para promover as comunidades evangélicas do Brasil, chegou ao Rio de Janeiro o Pastor Georg Gottlob Stroele. Sua vinda se deu graças ao Ministro von Tschudi, que já estava no país em nome do Governo da Suíça para visitar os colonos suíços espalhados pelas terras do Império.
Na Sexta Feira da Paixão daquele mesmo ano, ainda em visita a Petrópolis, o Pastor Stroele celebrou um culto divino na sala da Escola do Professor Jacoby.
Outro culto divino também foi celebrado no Domingo de Páscoa, quando o Pastor Stroele foi então convidado pelo Presbitério da Comunidade Evangélica de Petrópolis a assumir o seu serviço eclesiástico.
O lançamento da Pedra Fundamental aconteceu no dia 10 de agosto de 1862. O projeto foi elaborado pelo senhor Carlos Spangenberg e teve como Mestre de Obras o senhor Carlos Kling. A inauguração e consagração da Igreja Evangélica de Petrópolis, nome original da época, aconteceu em 24 de maio de 1863, no Dia de Pentecostes.
É importante destacar que encabeça a Lista dos Contribuintes para a construção da igreja o Imperador Dom Pedro II com a soma de 500$000.
Conforme consta na obra “Fragmentos Históricos compilados por ocasião dos Congressos em Petrópolis”, de 1954, o Pastor Stroele mandou fazer o símbolo de uma Bíblia ladeada por dois cálices, o que resultou em uma acusação por parte do núncio apostólico perante o delegado da cidade sob alegação de que a lei proibia as religiões não católicas quaisquer símbolos religiosos externos em seus templos.
Consta também que a resposta do Pastor Stroele foi que “nós, alemães, compreendemos por símbolos exteriores torre e sinos, e que também no Rio de Janeiro, ante os olhos do Governo, se fez uma Bíblia e um cálice na igreja evangélica”. Também consta que o Pastor Stroele decidiu não remover os ditos símbolos e que se dispunha as justas consequências previstas pela Lei.
A Torre da Igreja Luterana, construída em estilo neo-gótico, somente se tornou realidade após a Proclamação da República, quando o país se tornou um Estado Laico.
Conforme o Jornal Nachrichten, do dia 21 de junho de 1903, o lançamento da Pedra Fundamental da Torre aconteceu em 1900 e a conclusão da obra se deu em 1903.
O jornal também declara que houve contribuição da população católica tanto alemã quanto luso-brasileira para ajudar na arrecadação do dinheiro necessário.
Nesta edição, o Clube 29 de Junho presta suas homenagens ao aniversário de 180 anos da fundação da Comunidade Evangélica de Petrópolis, que se dará no dia 29 de agosto de 2025.
A Comunidade Evangélica Luterana de Petrópolis celebrará um culto em homenagem ao aniversário de 180 anos da fundação da Comunidade Evangélica de Petrópolis, a ser realizado no dia 31 de agosto, às 9 horas da manhã.
BIBLIOGRAFIA:
1 – Arquivo Histórico da Secretaria da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Petrópolis.
2 – Revista Comunidade Luterana em Petrópolis – 160 Anos (1845 – 2005), Gráfica Primo’s.
3 – Jornal Tribuna de Petrópolis – Arquivo Histórico de Petrópolis.
4 – Fragmentos Históricos compilados por ocasião dos Congressos em Petrópolis – A.D.1954, Rio de Janeiro.