
Clube 29 de Junho – História e Tradição
Os 180 anos da Colonização Alemã de Petrópolis
Em 1844, o Presidente da Província do Rio de Janeiro, Aureliano de Sousa e Oliveira Coutinho, Visconde de Sepetiba, contratou com Charles François Joseph Delrue, Vice-Cônsul do Brasil em Dunquerque, a importação de seiscentos colonos trabalhadores que seriam destinados às obras públicas da província.
No dia 17 de junho de 1844, Eugenio Pisani, cidadão napolitano, compareceu na Secretaria da Província do Rio de Janeiro para representar a Casa Charles Delrue & Companhia e fechar o contrato.
Porém, foram enviadas famílias inteiras que aportaram no Rio de Janeiro, em 1845, a bordo de 13 navios. No Relatório do Presidente da Província, apresentado à Assembleia Legislativa, em 01 de março de 1846, constavam as seguintes informações:
As famílias dos colonos totalizavam 2.303 pessoas dentre homens, mulheres e crianças, 106 imigrantes viajaram rumo à Colônia de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, enquanto outros permaneceram na Corte para trabalhar nos arsenais e os demais 1818 colonos seguiram rumo à Petrópolis, onde se estabeleceram.
Os primeiros colonos germânicos que estavam a bordo do navio Virginie chegaram à Petrópolis em 29 de junho de 1845 (motivo pelo qual a cidade celebra nesta data o Dia do Colono Alemão).
Os documentos originais que traziam os dados sobre os navios permaneceram abandonados por mais de 100 anos até serem encontrados em Niterói e informados pela professora Thalita de Oliveira Casadei ao Doutor Guilherme Auler, historiador e primeiro Presidente do Clube 29 de Junho.
O Doutor Auler então publicou o texto conhecido como Famílias Germânicas da Imperial Colônia de Petrópolis, no Jornal Tribuna de Petrópolis, em 1962, trazendo os nomes destes 13 navios, suas datas de chegada, a duração de suas viagens e o número de colonos a bordo.
O Doutor Francisco Vasconcelos, do Instituto Histórico de Petrópolis, visitou Dunquerque, em 1982, e encontrou no Arquivo Municipal a coleção do Jornal Le Dunquerquois.
Ela trazia as preciosas informações referentes aos navios que zarparam rumo ao Rio de Janeiro em 1845 e acrescentou informações muito importantes que somaram demais na reconstrução dos detalhes relacionados a saga destes colonos. Segue então a lista destes treze navios descritos a partir dos trabalhos dos Doutores Guilherme Auler e Francisco Vasconcelos:
Virginie, brigue francês, zarpou de Dunquerque em 17.04.1845, sob o comando do Capitão Faure, e chegou ao Rio de Janeiro em 13.06.1845, com 161 colonos a bordo.
Marie, brigue francês, zarpou de Dunquerque em 07.05.1845, sob o comando do Capitão Castel, e chegou ao Rio de Janeiro em 20.07.1845, com 169 colonos a bordo.
Leopold, barca prussiana, zarpou em 02.06.1845, sob o comando do Capitão Holtz, e chegou ao Rio de Janeiro em 21.07.1845, com 225 colonos a bordo.
Currieux, brigue francês, zarpou em 25.05.1845, sob o comando do Capitão Beaugard, e chegou ao Rio de Janeiro em 24.07.1845, com 190 colonos a bordo.
Agripina, barca inglesa, zarpou em 10.07.1845, sob o comando do Capitão Rodgers, e chegou ao Rio de Janeiro em 25.07.1845, com 210 colonos a bordo.
Marie Louise, barca francesa, zarpou em 25.05.1845, sob o comando do Capitão Bouton, e chegou ao Rio de Janeiro em 26.07.1845, com 217 colonos a bordo.
Jeune Leon, barca francesa, chegou ao Rio de Janeiro em 11.08.1845, com 170 colonos e 3 crianças nascidas durante a viagem. Não há informação da data em que zarpou, mas sabe-se que a viagem durou 55 dias.
Georg, barca inglesa, chegou ao Rio de Janeiro em 26.08.1845, com 208 colonos a bordo. Não há informação da data em que zarpou, mas sabe-se que a viagem durou 52 dias.
Mary Queen of Scott, brigue inglês, zarpou em 20.07.1845, sob o comando do Capitão W. Killey, e chegou ao Rio de Janeiro em 01.09.1845, com 210 colonos a bordo.
Daniel, brigue dinamarquês, zarpou em 20.07.1845, sob o comando do Capitão Juul, e chegou ao Rio de Janeiro em 07.09.1845, com 171 colonos a bordo.
Odin, brigue dinamarquês, zarpou em 20.07.1845, sob o comando do Capitão Leth, e chegou ao Rio de Janeiro em 07.09.1845, com 182 colonos a bordo.
Pampas, brigue dinamarquês, zarpou em 23.08.1845, sob o comando do Capitão Wordinger, e chegou ao Rio de Janeiro em 16.10.1845, com 137 colonos a bordo.
Fyen, brigue dinamarquês, zarpou em 10.09.1845, sob o Comando do Capitão Kruuse, e chegou ao Rio de Janeiro em 08.11.1845, com 68 colonos a bordo.
A identidade dos colonos a bordo do Virginie somente veio a ser revelada em 1954, quando foi organizado o Arquivo da Superintendência com o material da antiga Fazenda Imperial e da Mordomia da Casa Imperial, onde foi encontrado um documento que continha as despesas da construção do Palácio Imperial, datado de 01 de julho de 1845, com a assinatura do Major Julio Frederico Koeler e os nomes dos ditos colonos.
A Tribuna de Petrópolis publicou este documento na edição do dia 29 de junho de 1958 e, posteriormente, a lista com os 53 nomes dos colonos foi publicada no Suplemento do Clube 29 de Junho, número 7, na edição do dia 07 de junho de 1960. A mesma lista é mencionada por Thalita de Oliveira Casadei, em seu livro “Petrópolis – Relatos Históricos”. Eis os nomes:
Henrique Brahm, Jacó Brahm, Sebastião Brahm, Francisco Xavier Bumb, Inácio Bumb, Frederico Deibert, Martim Deister, Felipe Erbes I, Felipe Erbes II, Frederico Erbes, João Erbes, Valentim Erbes, Antônio Esch, Henrique Esch, João Esch, Frederico Hoenes, Jacó Frederico Hoenes, Pedro Husch, Bernardo Hutter, João José Idstein, Frederico Kuhn, Pedro José Kratz, Guilherme Klippel, João Loos, Guilherme Monken, Henrique Monken, João Monken, Jacó Monken, Jorge Monken, Guilherme Nicolai, João Nicolai, Jacó Nicolai I, Jacó Nicolai II, Pedro Antônio Nicolai, Nicolau Nicolai, Felipe Petri, Luis Petri, João Jorge de Roche, Frederico Sperle I, Frederico Sperle II, Valentim Sperle I, Valentim Sperle II, Henrique Scheid, João Scheid, Valentim Scheid, Jorge Schwarz, Guilherme Schanuel, Jacó Schanuel, Henrique Sutter I, Henrique Sutter II, Leonardo Schweickart, Felipe Wagner e Matias Weiand.
O Acervo Gustavo Ernesto Bauer guarda um recorte de um antigo jornal não identificado cuja matéria traz o título A Chegada dos Colonos Germânicos – Depoimento dos Passageiros do Navio Virginie. Trata-se de um interrogatório feito no dia 25 de junho de 1845, na Imperial Cidade de Niterói, no depósito onde os colonos estavam alojados. Além de alguns dos colonos já citados na lista acima, outros colonos são citados. Eis os nomes:
Maximiniano José Gudehus, Felipe Woll, Henrique Moerbeek, Jacó Muenich, Bernardo Domingos Muenich, Henrique João Debrieder, Carlos Schmidt, Luis Bumb e Frederico Braun.
Podemos então entender que estes 62 colonos e suas famílias compunham o total de 161 colonos que estavam a bordo do navio Virginie e que chegaram em Petrópolis no dia 29 de junho de 1845. Neste ano de 2025 celebramos os 180 anos da Colonização Alemã de Petrópolis e prestamos nesta matéria as nossas homenagens. Que a história seja lembrada e celebrada.
BIBLIOGRAFIA:
1 – Famílias Germânicas da Imperial Colônia de Petrópolis, Guilherme Auler, 1962. Jornal Tribuna de Petrópolis.
2 – Livro Petrópolis – Relatos Históricos, Thalita de Oliveira Casadei, 1991. Ed. Gráf. Jornal da Cidade.
3 – Livro 150 Anos da Colonização Alemã em Petrópolis, Instituto Histórico de Petrópolis, 1995.
4 – Site memoria.bn.gov.br – Jornal do Comércio. Ano XIX. Edição 21.06.1844.
5 – Site museucasadocolono.com.br. Acervo Gustavo Ernesto Bauer. Arquivo 3.