• Cielo descarta Olimpíada de Tóquio, mas garante que seguirá competindo

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  • 10/03/2021 06:00
    Por Felipe Rosa Mendes / Estadão

    Cesar Cielo desistiu de subir a montanha. Mas não abandonou a caminhada. O campeão olímpico e mundial descarta tentar uma vaga na Olimpíada de Tóquio, neste ano, porém segue firme com seus treinos dentro e fora das piscinas. Ele vai continuar disputando competições de menor porte, com um objetivo um tanto incomum na vida de um atleta: jamais se aposentar.

    “Hoje a Olimpíada não é o meu objetivo. Não abandonei os treinos, apenas não estou treinando como já fiz para os Jogos de 2008 e 2012. Estou tentando fazer o meu melhor, mas hoje a Olimpíada não é o foco da minha vida”, disse ao Estadão o dono da única medalha de ouro da natação brasileira na história olímpica, na prova dos 50 metros livre, em Pequim-2008.

    Em sua última conversa com a reportagem, há dois anos, ele tinha deixado entreaberta a possibilidade de disputar a Olimpíada. Por isso, mantinha seus treinos, de intensidade moderada, para o caso de decidir “subir a montanha”, uma metáfora para ilustrar a busca pelo índice olímpico.

    Sem a montanha pela frente, Cielo tem outros desafios em seu caminho. Quase tão difíceis quanto buscar a classificação olímpica. O atleta de 34 anos tenta conciliar as braçadas com seus projetos comerciais e ações sociais. Para tanto, ele se impôs o ousado objetivo de acabar com a ideia de aposentadoria, algo que vinha nutrindo nos últimos anos.

    “Hoje quero ter um equilíbrio entre dentro e fora da água. Eu não quero e não pretendo parar de nadar oficialmente. Esta foi uma decisão que tomei bem recentemente. Para ser bem sincero, eu estava brigando bastante com essa transição de carreira, mas eu vi que para a minha felicidade e para o pessoal lá de casa continuar me aguentando, eu não posso largar a natação”, revelou o atleta, entre risos.

    A ideia de aposentadoria acabou perdendo o sentido para o nadador. “Cresci escutando que esta era o curso natural de um atleta. Mas entendi nestes últimos anos que posso até sair da natação, mas a natação nunca vai sair de mim. Eu vou no mercado, pego um Doritos na prateleira e alguém pergunta: ‘pô, mas nadador pode comer essas coisas?’ Vou no restaurante à noite, um pouco mais tarde, e alguém questiona: ‘nadador dorme tarde agora?'”.

    Cielo decidiu trocar a chamada “transição de carreira” por uma opção em que pode conciliar diversas carreiras ao mesmo tempo. “De verdade, para mim nunca fez sentido abandonar 25 anos de experiência que tenho num negócio e partir para outro negócio totalmente distinto. Hoje eu assumo isso de vez. A experiência que temos como atleta olímpico, de final olímpica, é coisa que pouquíssimos têm.”

    Para conciliar tantas tarefas, o dono dos recordes mundiais dos 50m e 100m livre optou por disputar competições menores, de nível regional, estadual e até municipal. “Estou treinando uma vez por dia já faz alguns meses, de segunda a sábado. Pela manhã, estou 100% natação. À tarde, foco no Instituto (Cesar Cielo) e nos projetos de negócio. Não é um cenário que considero ideal. Já treinei muito mais do que estou treinando agora. Mas tem sido suficiente para as competições que quero disputar.”

    Desde o fim de 2019, os treinos de Cielo acontecem em Itajaí, no litoral de Santa Catarina. Ele decidiu mudar sua base ao iniciar parceria com a prefeitura da cidade, que o incentivou a levar um dos seus projetos para o local.

    Na nova cidade, o nadador não esconde que a pandemia teve um peso considerável na reavaliação das suas metas, principalmente ao atravessar meses sem treinos. “Passei um período mais negativo, já ganhando peso. Hoje eu estou com 6 ou 7kg a menos que estava em abril do ano passado. Já tinha meio que abandonado a ideia de treinar. Mas, em novembro, decidi que era hora de retomar uma rotina mais redondinha.”

    Como todo brasileiro, ele também enfrentou desafios relacionados à saúde mental. “Eu sempre fui um cara muito regrado e disciplinado com tudo. De repente, não fazia tanta diferença se iria acordar meia hora mais cedo ou mais tarde. A questão mental foi difícil. Eu passei janeiro inteiro brigando com a minha cabeça, brigando com a rotina, querendo comer besteira, pizza, tranqueirada. Esses hábitos ‘confortáveis’ foram super difíceis de serem superados.”

    Enquanto retoma sua rotina, Cielo planeja expandir seus projetos sociais e a produção de equipamentos para a prática de natação, esporte que considera dos mais seguros na atualidade, pela segurança da água (o cloro da piscina mata o coronavírus) e pelos benefícios respiratórios da modalidade. Recentemente, o nadador virou até “embaixador” de uma campanha nacional para incorporar novos medicamentos ao tratamento da asma junto ao SUS.

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