Cidade de Rodinei se prepara para celebrar momento especial do jogador no Fla
Ainda com o gol de pênalti do título da Copa do Brasil marcado por Rodinei vivo na memória, a cidade de Tatuí volta a ficar de plantão neste sábado, dia da decisão da Copa Libertadores, de olho em mais uma possível volta olímpica de seu filho ilustre com a camisa do Flamengo. Atual prefeito do município, Miguel Lopes Cardoso Júnior foi um dos treinadores do lateral nos tempos de escola. Depois de acompanhar seu pupilo pela televisão na final do Maracanã, ele promete repetir o ritual contra o Athletico-PR no jogo de Guayaquil. E mais: estuda ainda organizar um jogo festivo como homenagem ao ex-aluno nas férias.
“Vou ver o jogo em casa mesmo e o Flamengo vai ser campeão. Tomara que seja no tempo normal e com uma boa apresentação do Nei. Vai ser o segundo título dele na Libertadores. Ser bicampeão não é para qualquer um”, disse ao Estadão o prefeito, que, na cidade, também é conhecido como professor Miguel.
Por causa dessa relação próxima com Rodinei e possibilidade de ele levantar mais um troféu, Miguel planeja um jogo para celebrar o momento especial. “Queremos nos programar para isso. Vamos ver a agenda dele, nas férias. O Nei é um vitorioso na vida e um rapaz muito querido por nós. Quando converteu o pênalti contra o Corinthians, senti um misto de emoções. Muito feliz por fazer parte da história desse menino”, que carinhosamente é chamado de Nei pelo seu ex-treinador.
Ligado às origens, Rodinei sempre fala de Tatuí nas entrevistas. Tamanha identificação não fica só no discurso. Antes da pandemia, o atleta organizou vários jogos festivos em sua terra natal. Essas partidas beneficentes já chegaram a arrecadar cerca de 600 quilos de alimentos para entidades carentes. “O Rodinei é o centro das atenções. Gosta de tirar fotos, atender às crianças e adora festas. Vai ter novamente uma grande torcida na Libertadores”, afirmou Eduardo Domingues, repórter do jornal O Progresso, de Tatuí. A cidade fica na região de Sorocaba, em São Paulo. É conhecida na região como a cidade do doce caseiro.
BARBEIRO PREVÊ GOL
Em Tatuí, o único barbeiro autorizado a mexer no visual do jogador flamenguista é Kauê. Essa parceria tem pelo menos seis anos. “Quando vem ao salão, já quer inovar, pede para fazer alguma coisa legal, usar pó descolorante no cabelo, essas coisas de jogador de futebol. É uma felicidade reencontrá-lo quando ele visita a cidade.”
Feliz com o título da Copa do Brasil, ele diz ter um sonho. Assistir, em pleno Maracanã, o amigo de infância em ação pelo clube carioca. “Olha, se isso acontecer um dia, ficarei muito feliz.”
TRAGÉDIA FAMILIAR
Nesse período, ele e a irmã foram morar com um tio. A experiência, no entanto, trouxe mais traumas do que soluções já que o parente era usuário de drogas. A situação ficou tão difícil que até comida nos supermercados ele chegou a pedir para saciar a fome. Muitas vezes contou com a solidariedade dos amigos mais próximos para fazer lanches e refeições.
JOGADOR RAÇUDO
A força física e a entrega em campo já eram seus trunfos nos campeonatos e torneios de base. No entanto, Miguel lembra que Rodinei era muito cobrado por seu desempenho na escola. “Nos nossos campeonatos, a participação dos alunos estava vinculada às notas no colégio. E tínhamos de pegar no pé do Rodinei para ele ir bem nas provas. No time, era escalado como volante ou lateral-direito e sempre foi muito dedicado.”
Além de moldar a personalidade, Miguel afirma que o futebol também deu perspectiva de futuro ao seu pupilo. “Usamos o esporte como forma de trabalhar princípios, valores e formar cidadãos. Rodinei é um exemplo disso. Nunca quis saber de ir para o lado errado, para a criminalidade”, comentou.
Treinador no campo e conselheiro nas horas vagas, o atual prefeito de Tatuí conta que somente após cumprir uma exigência dos amigos mais próximos é que Rodinei deu início a sua peregrinação pelo mundo da bola. “Só saiu de Tatuí depois de concluir o ensino médio. Era uma preocupação nossa. Depois disso, seguiu para Carapicuíba e foi morar com uma tia. Lá conheceu um empresário e se aventurou no futebol.”
Antes de vestir a camisa do Flamengo e vingar como jogador de um grande clube da Série A, a dificuldade foi grande. O Avaí funcionou como porta de entrada, mas seu currículo apresenta times modestos como o Crac-GO e a Penapolense-SP entre outros mais modestos. Passou ainda pelos juniores do Corinthians, mas viu sua vida mudar depois de fazer um bom campeonato pela Ponte Preta e migrar para o Flamengo em 2016.
“O Rodinei sempre foi muito focado e a força de vontade é a sua marca. Na cidade, temos orgulho da sua história. Todos aqui o adoram e estaremos torcendo por ele mais uma vez nesta final de Libertadores”, disse o professor Miguel, em tom emocionado.