• Ciclovias e pedaladas que desabam

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  • 23/04/2016 11:45

     No domingo cívico passado, o Brasil de coração aos saltos, acompanhou o desvelamento de quem somos. A sangue de gelo, Eduardo Cunha levou a implacável sessão onde o povo brasileiro desfilou em votos belos, votos ridículos, votos livres, votos comprados e votos cabresto. Sessão para rir e chorar aos nos vermos, face maltratada no espelho. Houve a fala criminosa de Bolsonaro incensando abjeto torturador. Mas tivemos fala sábia de Lázaro, deputado evangélico que lembrou: a soberba precede a queda. Invocaram-se mães, avozinhas e o papagaio da família. Votar em nome do papagaio da família é voto profundo. Ora, se vamos à guerra ou à paz, a diplomas ou pódios, é pela família. A pátria em seu mínimo: família. Por risível que seja, compreendi as declarações apaixonadas. Lamentei a esquerda manca invocando Zumbi, Marighela, Prestes. Gente que morreu pobre, cujos ossos coram vergonhas sob terremotos diários das malfeitorias petistas. E houve os que invocaram a “presidente honesta”. Ora! Dizer que Dilma é “pessoalmente” honesta, nada ajuda. Elio Gaspari desmascarou o sofisma. Sob tal lógica, Dilma equivale-se a Médici, também “pessoalmente” probo. Um patrocinou ou permitiu o inferno nos porões da ditadura. Lula e Dilma patrocinaram ou permitiram corrupção desvairada como modus operandi de um projeto de poder.

     E a mentira repetida ad nauseam. Pra ver se cola. Assim como chamar a Mona Lisa de latrina, não desfaz sua arte, acusar o impeachment de “golpe”, não o torna o estupro da democracia que o desespero do PT imagina. Tanto nos golpeou o PT com sua falência ética e traição ao seu programa, com o mensalão e a subserviência aos poderosos, que essa medíocre mentira reiterada nem causa mais revolta. Traz fastio. No próprio PT há filiados insatisfeitos, inconformados. Por não terem saído logo depois dos primeiros sinais da podridão (bem anteriores à chegada ao Planalto), são agora reféns da carnificina que virou a luta pelo mandato de Dilma. Sairão um dia. Não suportarão o dilema de defender partido que os traiu, partido de vala comum, falido símile do PCB, como disse na minha crônica “Ocaso do Partidão”.

     Viu-se a fragorosa queda de Lula e de sua criatura naquela sessão. Prantearam camisas vermelhas país afora. Gritaram gol de Copa do Mundo camisas canarinho na Paulista. Como a esmagadora maioria, apenas suspirei meus alívios. Pela certeza do fim de capítulo da horrenda novela que por demais se estica. Sair Dilma e chegar Temer não muda tudo, é fato. Mas a conjuntura fará a diferença e dará, quando menos, alternância de perspectiva. Mesmo sabendo que sairá doloroso tirar o país do buraco, o país magoado, dividido, descrente e machucado espera que as pequenezas de Renan e Cunha não comandem Temer. Na verdade, anseia que os expurgue. 

     Emblemático, que desabe a ciclovia linda, locus de saudáveis pedaladas, no tempo em que, por conta de sujas pedaladas, desaba o governo falido e mal querido. Não combinaram com a previsível fúria do mar o respeito ao magro e único pilar que sustentava a via. Vidas se perderam. As pedaladas fiscais não combinaram com o previsível fundo do cofre o respeito ao espúrio alicerce petista de gastar sem ter pra manter o assistencialismo eleitoreiro. Vidas se perderam. Que cessem os festivais de pedaladas e os desabamentos de imprudentes ciclovias. Que a Lava Jato prospere. E se restar fiapo de dignidade ao PT, que venha uma funda autocrítica.

    denilsoncdearaujo.blogspot.com


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