China eleva Xi ao status de Mao e Deng e lhe dá carta branca para agir
O presidente Xi Jinping, de 68 anos, foi alçado nesta quinta-feira, 11, ao panteão dos heróis chineses, ao lado de Mao Tsé-tung, fundador da República Popular da China, e de Deng Xiaoping, o pai das reformas econômicas que tornaram o país a segunda maior economia do planeta. A resolução incomum, aprovada pelo Comitê Central do Partido Comunista, é interpretada como a consolidação do poder de Xi e abre caminho para que seu mandato seja estendido indefinidamente, no congresso do PC, em 2022.
A “resolução histórica”, a terceira aprovada pelo PC em seus 100 anos, foi anunciada ao final do encontro de quatro dias. Ela afirma que, sob o comando de Xi, a China teve “conquistas e passou por uma transformação histórica”. O documento lista ainda sucessos econômicos, na política externa, no combate à corrupção e na contenção da covid-19.
“Estabelecer a posição do camarada Xi Jinping como o coração do Comitê Central e de todo o partido tem importância decisiva para avançar em direção ao grande rejuvenescimento da China”, disseram os integrantes do comitê, segundo a agência estatal Xinhua.
O “rejuvenescimento do país” é o slogan adotado por Xi desde que ele foi escolhido para a presidência, em 2012. A promessa é que a China seja uma “nação socialista moderna”, em 2035, e uma “grande potência forte e próspera”, em 2049, quando o PC completará 100 anos no poder.
“O propósito central do plenário é cimentar Xi como o líder mais importante desde Mao e Deng”, disse ao Financial Times Henry Gao, especialista em China da Universidade de Administração de Cingapura. “A mensagem é que a era da reforma alcançou tal ponto que o partido agora pode embarcar na construção de um ‘país socialista moderno’, com ênfase no ‘socialista’.”
MANDATOS
O Comitê Central reúne a elite do partido e realiza reuniões anuais, dando as diretrizes para questões políticas e normativas. Reuniões passadas tiveram consequências importantes. Em 1978, ele abriu caminho para as reformas de mercado comandadas por Deng. Em 2013, ele aprovou um esboço para as reformas sociais e econômicas de Xi. Em 2019, pôs em curso os preparativos para a draconiana lei de segurança nacional imposta a Hong Kong.
Tanto Mao quanto Deng usaram resoluções similares para se consolidar no poder. Mao assumiu o comando do país após a revolução, aos 52 anos, e governou a China de 1945 a 1976, ano de sua morte. Deng tinha 74 anos quando foi declarado líder supremo, em 1978, e governou até 1992.
No ano que vem, no Congresso Nacional, que ocorre a cada cinco anos, o PC escolherá um novo líder para o país. Sem rival ou herdeiro político, tudo indica que Xi será ungido para um terceiro mandato consecutivo, algo sem precedentes na China desde a morte de Mao. Há três anos, o Comitê Central eliminou o limite de dois mandatos consecutivos que havia sido estabelecido nos anos 80, para reforçar a “liderança coletiva”.
Xi lançou reformas para aprofundar o chamado “socialismo de mercado” e aumentar a autonomia tecnológica da China. Recentemente, apoiou uma campanha contra a desigualdade, sob o slogan da “prosperidade comum”.
APOIO
A resolução de ontem também fortalece o argumento de que Xi é o único capaz de guiar o país ao status de superpotência em meio a desafios crescentes e à chamada nova Guerra Fria com os EUA. Líder mais poderoso da China nas últimas décadas, ele ganhou amplo apoio público por atacar a corrupção – em alguns casos, punindo líderes que o ameaçavam -, reduzir a pobreza, projetar a força chinesa ao mundo.
Há, contudo, vários desafios: uma população que envelhece, pressões sociais e econômicas e empresas endividadas. Como é tradição na China, a resolução adotada ontem invoca a história para superar todos os obstáculos. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.