• Cercado de dúvidas sobre apoio aos seus planos, Milei assume hoje

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  • 10/12/2023 09:30
    Por Carolina Marins, enviada especial / Estadão

    O motorista de aplicativo Ernesto Damian, de 29 anos, votou em Javier Milei nos dois turnos das eleições presidenciais porque quer uma mudança de rumo para a Argentina. No entanto, agora que seu candidato se tornou presidente, ele tem dúvidas sobre o que de fato o libertário conseguirá fazer. Damian não está sozinho: o mercado financeiro, a indústria, o agronegócio, os economistas, os analistas políticos e até o Fundo Monetário Internacional (FMI) têm desconfianças sobre como Milei se comportará no comando da Casa Rosada.

    “Não concordo com tudo o que ele diz, mas ninguém nunca vai concordar 100% com alguém. Mas temos

    que dar uma chance para ele tentar fazer diferente. Vamos ver se vai conseguir”, diz o motorista.

    Milei foi eleito com uma campanha em que prometeu medidas radicais para tentar conter a crise

    econômica. Conforme o jornal Clarín, ele prepara um pacote que será anunciado amanhã e

    prevê corte de gastos, aumento de impostos, privatizações e desvalorização da moeda. Não se sabe,

    porém, qual será o tamanho do apoio político ao recém-eleito para levar adiante seus planos.

    Embora sua vitória tenha sido avassaladora nas urnas em 19 de novembro, com 11 pontos de

    diferença para Sergio Massa, sua base de apoio é minúscula. No Congresso, seu partido, o A

    Liberdade Avança (LLA), tem 38 cadeiras, exigindo que o libertário construa alianças não só com

    partidos de direita, como o Proposta Republicana (PRO), de Mauricio Macri, e o União Cívica

    Radical (UCR), mas também com peronistas, especialmente os antikirchneristas, do cordobês Juan

    Schiaretti.

    “Os primeiros sinais que Milei deu foram de que nem todos do A Liberdade Avança saíram ganhando

    com as mudanças e a composição de gabinetes. E que nem todo o peronismo e o PRO perderam”, diz o

    cientista político da Universidade de Buenos Aires (UBA), Facundo Galván.

    No seu gabinete, que será empossado hoje, Milei deixou de incluir nomes de peso do seu partido,

    como Ramiro Marra e Carolina Píparo. Ao mesmo tempo, deu cargos relevantes ao PRO, com Patricia

    Bullrich (que ficou em terceiro na disputa presidencial), que será ministra da Segurança, e Luis

    Caputo, futuro ministro da Economia. Em nome da governabilidade, o libertário teve ainda de abrir

    mão de uma de suas pautas mais caras: a dolarização imediata da economia.

    Além de Patricia e Caputo, até o momento os nomes confirmados por Milei por meio de comunicados

    na rede social X (antigo Twitter) são: Nicolás Posse, como chefe de Gabinete; Luis Petri (vice de

    Patricia) na Defesa; Guillermo Francos, no Interior; Guillermo Ferraro, na Infraestrutura; Diana

    Mondino, nas Relações Exteriores; Mariano Cúneo Libarona, na Justiça; Sandra Petovello, no

    Capital Humano – que concentrará Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social -; e Mario Russo, na

    Saúde, ministério que Milei havia prometido extinguir.

    Também houve definições para as presidências da Câmara e do Senado, bem como órgãos de extrema

    relevância, como Anses (assistência social), YPF (estatal do petróleo) e Banco Central – que

    também seria extinto, segundo a promessa de Milei na campanha.

    Os cargos foram distribuídos entre libertários, macristas e peronistas.

    MISTÉRIO. Para o economista Fabio Rodriguez, da UBA, as duas grandes incógnitas de Milei

    até agora são seu plano econômico e seus acordos de governabilidade. Segundo ele, há uma grande

    fragmentação no Congresso e não se conhece a capacidade política dos aliados de Milei para

    costurar acordos. “O seu músculo político é escasso porque tem cerca de 10% do Senado e menos de

    15% da Câmara dos Deputados, e as alianças com os partidos que vão apoiá-lo ainda não estão nada

    claras”, diz.

    Na sexta-feira, a diretora do FMI Julie Kozack disse que Milei precisa ter apoio político se

    quiser continuar negociando a dívida do país com o fundo. “É necessário um plano de estabilização

    forte, crível e politicamente apoiado para encarar de forma duradoura os desequilíbrios

    macroeconômicos e os desafios estruturais da Argentina, protegendo ao mesmo tempo os mais

    vulneráveis”, disse, observando que para tal é necessário um “Banco Central forte e crível”, indo

    na contramão da proposta de Milei de “explodir” a autoridade monetária.

    NOVIDADE. Milei e seu movimento libertário são uma novidade em um país historicamente

    marcado pela polarização peronismo versus antiperonismo. Ambos os movimentos possuem força

    política enraizada, não só no Legislativo, mas também nos poderes estaduais e federais. Muito

    diferente de Milei, que conquistou uma vitória praticamente sozinho. “O LLA tem um cardápio amplo

    para garantir governabilidade, mas ainda não optou por nenhum”, diz Facundo Cruz, analista

    político e de dados de opinião pública pelo observatório Pulsar da UBA.

    EX-PRESIDENTE. O respaldo político do ex-presidente Mauricio Macri foi o grande motor para

    a vitória de Javier Milei e para a costura de seus primeiros movimentos de governo. A dúvida

    agora é o quanto desse capital político emprestado por Macri se transformará em apoio político.

    “Para mim ainda não está claro que Macri será o garantidor da governabilidade”, afirma Facundo

    Cruz. Para o cientista político, os únicos movimentos claros foram o de uma linha-dura na área de

    segurança e de realinhamento na política internacional da Argentina com uma direita mais

    conservadora. Jair Bolsonaro e Viktor Orbán estarão presentes na posse de Milei. “Todo o restante

    é incerteza”, diz.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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