Centrão mantém domínio político na Câmara e será desafio de futuro governo
Cobiçado pelo tamanho e poder acumulado no Congresso, o Centrão manteve a força política na Câmara nesta eleição e deve iniciar a próxima legislatura ocupando mais de 240 cadeiras na Casa, ou 47% dela. Com uma bancada de maioria pró-governo, a nova composição indica cenário vantajoso para o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que a atuação deste bloco nos próximos quatro anos pode modular de acordo com o presidente que for eleito.
No governo Bolsonaro, essa frente ganhou ainda mais força ao se tornar não apenas o fiel da balança nas negociações com o Executivo, mas tomar para si o poder decisório sobre o Orçamento Público.
De 2019 para cá, o grupo passou a atuar de forma mais coesa e se estabilizou principalmente após o embarque de Bolsonaro no PL. A base do núcleo se formou ao redor de PL, Republicanos e PP. Outros partidos também votaram com o governo em diversas ocasiões, como Patriota, PTB, PSC e PSD – todos contabilizados no levantamento feito pelo Estadão e que atuam como um Centrão ampliado.
Em 2018, Bolsonaro havia sido eleito com uma base mais enxuta, de 112 deputados, com discurso contrário a este grupo de parlamentares.
Em um novo governo Bolsonaro, o Centrão pode se tornar mais autofágico e acumular poder a partir da relação que já estabeleceu com o presidente, apontam os especialistas. Além disso, a reeleição “zera as contas” dos conflitos com o União Brasil, legenda que abriga o PSL, de antigos aliados do presidente. Por isso, o diálogo e apoio dessas legendas será decisivo para a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou do atual presidente em um próximo mandato.
No caso de um novo governo petista, o grupo vira um desafio, mas não deve entrar na oposição de forma automática. A federação PT, PCdoB e PV – que atua junto no Congresso – conta com 19 cadeiras a menos que o PL, que agora tem 99. A dificuldade será maior para o petista se a fusão entre o União Brasil e o PP se confirmar, movimento já indicado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP). Isso deixaria o Centrão com 300 cadeiras.
A coligação petista, porém, soma 121 parlamentares eleitos por partidos de sua coligação. Lula tem repetido em sua campanha que quer dialogar com todos os partidos. O PSD, por exemplo, pode desembarcar da proximidade que criou com o bolsonarismo em um eventual governo do PT.
O PT também tenta ampliar alianças dentro do MDB e do próprio União Brasil, além de abrir diálogo com o PSDB e Cidadania. A ideia de Lula é fechar alianças para reverter a hostilidade contra seu nome. A aposta é que a governabilidade não ficaria comprometida se houver embarques no que chama de frente ampla.
Desafios
A cientista política Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas, questiona se, na eventualidade de Lula ser eleito, o PL vai conseguir uma coesão perfeita entre toda a sua bancada de 100 parlamentares para formar uma oposição.
Já Bolsonaro, por não ter construído uma coalizão com bases partidárias sólidas no atual governo, também pode ter uma governabilidade custosa. “A bancada eleita do PT também foi muito relevante. Ele (Bolsonaro) vai precisar despender mais recursos para manter essa governabilidade, que é uma governabilidade cara, por meio do orçamento secreto”, afirma Graziella.
De toda maneira, é de interesse do Centrão manter-se aliado com o governo. “O Centrão quer ser governo, quer estar próximo do recurso e levar o recurso para suas bases, sobretudo”, completa.
“Sempre vão existir partidos políticos fisiológicos. Arthur Lira, como presidente da Câmara, teve atuação de aglutinar e aprovar todas as ideias, projetos e arranjos do presidente Bolsonaro em troca de regalias como o orçamento secreto vem nessa linha”, diz a cientista política e professora da PUC-SP Vera Chaia.