Cemitério tem gavetas interditadas e falta de vagas para sepultamento
Há 10 anos, as 315 gavetas localizadas na quadra 15 no Cemitério Municipal do Centro estão interditadas. O local deixou de ser utilizado depois de ser atingido por um deslizamento de terra, durante um temporal em 2008. Até hoje, a Prefeitura ainda busca recursos para recuperar o local que precisa passar por uma obra de contenção. Sem espaço "digno" para enterrar os mortos, a reforma das gavetas evitaria cenas como as que aconteceram no dia quatro deste mês, quando uma família se recusou a realizar um sepultamento em uma cova rasa no alto de uma encosta.
"O que vimos não parecia um enterro, mas sim uma gravação de filme de terror. Não poderíamos permitir que enterrassem a minha tia naquelas condições. Foi uma situação extrema em que nós tivemos que nos posicionar contra o que estavam querendo fazer com o corpo dela. Tivemos que parar o cortejo e obrigar que eles encontrassem um outro lugar para enterrar a minha tia. Foi uma situação muito triste", lembrou Vera Lúcia da Silva, de 62 anos, sobrinha de Altair Kochem Soares, de 81 anos.
Vera contou que os funcionários do cemitério não informaram onde seria o sepultamento e que eles só foram saber na hora em que cortejo chegou próximo ao local. "Não tinha acesso para chegar a cova. Meu tio é um senhor de idade, não teria condições de chegar no local onde ela ficaria. Além disso, o lugar era cheio de mato, tinham ossadas dentro de sacos pretos, um caixão jogado em um canto e vimos até cachorros carregando pedaços dos mortos. Cena de terror", contou.
Com a manifestação da família, os funcionários do cemitério arranjaram um outro local, também uma cova rasa, para enterrar o corpo de Altair. "Enterram ela próximo a umas casas. Era um pouco melhor, mas ainda uma situação ruim", lamentou a sobrinha. Para ela, se a Prefeitura reformasse as gavetas interditadas seria um alívio,a inda que provisório, para as famílias. "Vimos que têm um monte de gaveta sem uso lá no cemitério. Se concertassem seria um local mais digno para enterrar as pessoas", ressaltou Vera.
Por mês, morrem na cidade, uma média de 300 pessoas e não há mais espaço no principal cemitério da cidade, que foi inaugurado em 1856. De acordo com a Prefeitura, atualmente o local conta com mais de oito mil sepulturas perpétuas; 2,6 mil gavetas e cerca de 1,2 mil covas rasas. No ano passado, o cemitério recebeu 66 gaveras construídas por meio de uma parceria público privada. Há previsão para a instalação de mais 90 gavetas. Estima-se que a quantidade ideal para atender a demanda seria a construção de pelo menos 1.500 gavetas.
A cidade conta com outros seis cemitérios localizados em Itaipava, Secretário, Vale das Videiras, Garibu (Posse), Brejal e Quarteirão Worms (km 92 da BR-040). O segundo maior é o de Itaipava, que de acordo com a Prefeitura conta com 1,4 mil sepulturas perpétuas, 186 gavetas, cerca de 350 covas rasas.
Ossário já está desativado
Dois meses depois que a Tribuna denunciou o péssimo estado do local utilizado como ossário, a Prefeitura, enfim, retirou as cerca de mil ossadas que estavam na área dentro do Cemitério Municipal do Centro. O espaço ficava próximo a uma encosta e em junho a Tribuna flagrou crânios e pedaços de caixões jogados no terreno. Na manhã da última sexta-feira (14), a equipe voltou ao local, e a área estava limpa.
Em nota, enviada na útima sexta-feira, a Prefeitura informou que ossos exumados estão sendo acomodados em um contêiner e que Secretaria de Serviços, Segurança e Ordem Pública está buscando autorização para fazer a incineração.
O ossário é o local para onde os restos mortais são depositados depois de realizada a exumação, procedimento que acontece três anos depois do sepultamento. A Prefeitura explicou que a abertura de vagas depende da quantidade de exumações realizadas. Passados o período legal, a família é chamada para a retirada dos corpos mortais. Caso não compareça na data, o cemitério abre um novo prazo – período de 48 horas – e, após isso, a exumação é realizada. A convocação das famílias é feita mensalmente com publicação no Diário Oficial.
Não há projetos para um novo cemitério ou crematório
A Tribuna questionou a Prefeitura sobre projetos para a construção de cemitérios ou até de um crematório na cidade. Até o fechamento desta edição, a assessoria de imprensa do município não respondeu. Para quem precisa enterrar seus mortos em covas rasas no alto de uma encosta, a implantação de um novo cemitério seria a solução de ideal para por fim ao sofrimento de muitas famílias.
"Já estamos em um momento tão fragilizado e ainda temos que ver enterrarem nossos familiares em locais tão indignos. Que se construa um novo cemitério para evitar as cenas de terror que nós fomos obrigados a assistir. Se não querem cemitério, que façam um crematório. Aquilo não era um velório era um filme de terror", lamentou Vera Lúcia da Silva.