
C’È VINO
Sou Marcelus Fassano, mas todos me conhecem como Tchelo. Produtor de eventos há mais de três décadas, colunista de gastronomia e, cada vez mais, apaixonado pelo universo do vinho. É daí que nasce o nome desta coluna: C’È VINO. Em italiano, significa “Tem vinho” e, curiosamente, soa exatamente como meu apelido. Uma coincidência que me acompanha e que agora se transforma em encontro quinzenal com você, leitor, para falarmos dessa bebida que carrega história, cultura e emoção em cada taça.
Minha relação com o vinho começou no início dos anos 2000, quando o Multimix trouxe para Petrópolis cursos com o professor Fernando Miranda, então presidente da ABS-Rio e uma das maiores referências na formação de sommeliers do país. Fiz dois módulos, que abriram minha mente e me fizeram olhar para a cozinha com outro encanto. Eu já era formado em Odontologia, mas confesso: o vinho me mostrou que meu caminho estava em outro lugar, o dos encontros, da mesa farta, das experiências que unem pessoas.
A vida me levou para os eventos e lá estou até hoje. Foram shows, festas, encontros gastronômicos, projetos ousados que marcaram a cidade. E, nos últimos anos, o vinho voltou a se colocar diante de mim com uma força ainda maior. Criei o Wine & Jazz Festival, me envolvi com produtores e me deixei encantar por algo que parecia improvável: o surgimento de vinícolas no nosso Rio de Janeiro.
Quem diria? Vinícolas sempre foram associadas ao Velho Mundo, ou ao Chile, à Argentina… regiões de clima frio e latitudes perfeitas. De repente, na nossa serra do Rio de Janeiro, brotam vinhedos, barricas e rótulos de qualidade. Não estamos falando de uma ou duas experiências isoladas: hoje são dezenas de vinícolas espalhadas pelo interior do Estado, revelando um novo capítulo da nossa identidade.
Foi esse movimento que me fez buscar mais conhecimento. No último ano concluí a especialização em Wine & Spirits, na Le Cordon Bleu, um título raro que me aproximou de sommeliers de renome mundial, importadores e produtores locais. E foi também o que me levou a momentos inesquecíveis, como organizar a primeira corrida dentro de uma vinícola do Estado do Rio, a Wine Run, realizada na Tassinari, em São José do Vale do Rio Preto, onde esporte, turismo e vinho se encontraram de forma inédita.
Mas como isso tudo foi possível? A resposta está em uma técnica que mudou a vitivinicultura brasileira: a dupla poda. Criada em Minas Gerais há pouco mais de vinte anos, ela consiste em inverter o ciclo da videira, uma poda no verão, outra no inverno, fazendo com que a uva amadureça na estação mais fria e seca. O resultado são frutos de qualidade surpreendente, capazes de gerar vinhos que hoje nos enchem de orgulho.
É essa história que quero compartilhar aqui: de como o improvável se tornou realidade, de como o vinho encontrou espaço em lugares inesperados e conquistou novos terroirs. Convido você, leitor, a me acompanhar nesta jornada quinzenal pela enologia, explorando histórias, rótulos e experiências que vão do nosso Brasil a grandes regiões do mundo.
E aproveito para deixar um convite especial: nos dias 20 e 21 de setembro, no Bosque dos Vales, em Itaipava, acontece o Festival Vinhos do Rio, reunindo produtores, sommeliers, música e gastronomia. Uma oportunidade única para celebrarmos juntos o futuro dos vinhos fluminenses.
E já adianto: neste exato momento em que escrevo estas linhas, estou em Mendoza, na Argentina, mergulhado em vinícolas e descobertas que em breve dividirei com vocês. Prometo que a próxima coluna virá repleta de novidades direto da terra do Malbec.
Um brinde e até a próxima taça!