• Cavalos e riquixás

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  • 18/09/2018 12:00

    Uma entrevista de emprego foi manchete recente em nossa imprensa diária. Centenas de pessoas foram fotografadas nas calçadas diante da corajosa firma entrante em nossa sofrida economia. Evidencia tal concentração a realidade que, infelizmente, enegrece a nação brasileira: o desemprego imenso.

    A difícil sobrevivência de nossa gente, abalada, ainda mais, pela infeliz política ao sabor da falta de seriedade de parcela cruel das classes dirigentes, está levando ao desespero aqueles de potencial pessoal que desejam colocar-se no mercado de trabalho.

    Enquanto as filas para entrevistas se adensam pelas calçadas, pátios, estacionamentos, o momento está entregue às eleições gerais, vil corolário de promessas e mais promessas de tudo, inclusive com as conversas fiadas em favor do emprego, bandeira de todos os postulantes. E sabem que o buraco é bem e bem mais abaixo do nível máximo, a começar nos propósitos da maioria por se arrumar, viver nas mordomias, e muitos buscando furos aqui e ali para intrometerem a falta de caráter, a ausência de compromisso patriótico, a vilania de suas mentes obtusas.

    Como a fila para a busca de emprego é aqui em Petrópolis, resolvi passar por lá para ver se estão inscrevendo na nova empresa os charreteiros das “vitórias”. Ameaçados pela miséria da perda de seus empregos, a extinção da honrosa e útil profissão, sentindo no precipício o comprometimento futuro de sobrevivência de suas famílias, na lembrança de que a profissão vem de quatro gerações, e retirar tão competentes profissionais do mercado de trabalho é uma crueldade sem retorno, porque sepultará talento e compromisso de uma atividade orgulho de Petrópolis.

    E os cavalos? Serão largados pelos campos; virarão andarilhos de estradas ou se tornarão candidatos aos atropelamentos e aos monumentais desastres típicos de rodovias? E, quem cuidará deles, alimentará, prevenirá doenças, dar-lhes-á a real função para a qual existem por milhares e milhares de anos, como animais de tração, belos, leais, elegantes, amigos, afetuosos?…

    O ser humano trabalha para sobrevivência própria e da família, também da sociedade na qual vive, por vezes obrigado a levantar pesos incríveis, varar noites acordadas, submeter-se a problemas que afetam seu corpo e sua mente enquanto os animais, junto à sociedade humana, trabalham por força de suas habilidades e sempre foi assim. São eles dependentes totais e quanto mais domesticados mais precisam da proteção de seus donos, aos quais servem. No caso estão os cavalos de nossas “vitórias”, que trabalham alimentados, assistidos por profissionais da saúde, tracionam veículos no limite de suas forças naturais, trabalhando – empregados – pela sobrevivência. Se proibidos de exercerem suas funções, o que será deles, sem ração balanceada, sem assistência qualquer, lançados à indigência? E sem fazerem nada, parasitas e desempregados.

    E como ficará o nosso turismo cantado e decantado como fator de sobrevivência do Município pelos tempos entrantes, sem a atração única dos passeios de charretes? O que sabe o eleitor escalado para o plebiscito petropolitano sobre tradição, perspectivas de futuro, soluções lógicas para a melhoria da vida municipal, a exploração do turismo receptivo com elegância e criatividade? E os legisladores do nº 2, sabem ou pensam minimamente no assunto?

    E, por último, o horror que tenho por verificar que intrometeram num pleito nacional complicadíssimo, de muitos nomes, números, caretas e carantonhas, uma pergunta SIM e NÃO para decidir se cavalos devem ou não continuar a viver como animais de tração! Surrealismo manchado de irresponsabilidade

    Que se cancele o plebiscito por indevido junto ao pleito nacional e por racionalmente contrário aos irracionais mantidos e empregados pelos seus protetores, os charreteiros.

    Quem sabe se poderá trazer da China alguns riquixás. A tração será humana e, assim, ninguém poderá ser apontado como torturador de animais. Gente puxando gente, que tal?

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