• Cautela externa e cenário fiscal interno ainda duvidoso impedem recuperação do Ibovespa

  • 02/dez 11:18
    Por Maria Regina Silva / Estadão

    A valorização das commodities – petróleo avança perto de 1,00% e o minério de ferro fechou com ganho de 1,26% nesta segunda-feira, 2, em Dalian, na China, em meio a dados industriais sugerindo expansão da economia do país – é insuficiente para empolgar o Ibovespa na abertura. Além disso, os índices de ações operam cautelosos e ainda a piora nas estimativas de inflação no Brasil dificultam uma recuperação do principal indicador da B3 neste primeiro dia útil de dezembro, após fechar com queda de 3,12% em novembro.

    A queda das bolsas no exterior também é risco ao Ibovespa. Os índices futuros no pré-mercado de ações norte-americano cedem levemente enquanto o rendimento dos Treasuries avançam diante de preocupações com a gestão de Donald Trump.

    O futuro presidente dos EUA fez novas ameaças de mais tarifas comerciais, desta vez mirando os países emergentes dos Brics. Com isso, as moedas emergentes cedem, já tendo efeito por aqui, com o dólar voltando a operar na faixa dos R$ 6,00, já testando os R$ 6,0739, na máxima. Ao mesmo tempo, a agenda semanal aqui e no exterior impõe cautela.

    “O fiscal continua incomodando”, pontua o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. Em sua visão, fica difícil imaginar eventuais ajustes no pacote de corte de gastos, como sinalizado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na sexta-feira, que poderiam ser suficientes para gerar confiança dos investidores. “Fica difícil pensar o que poderiam mudar. O mercado quer algo sólido, e não enxerga isso por ora”, diz Laatus.

    A moeda brasileira ressente os elevados temores fiscais no Brasil, tendo na sexta-feira fechado aos R$ 6,00 pela primeira vez na história. Já o Ibovespa fechou aos 125.667,83 pontos, em alta de 0,85%, após falas conjuntas dos presidentes da Câmara e do Senado, de que a discussão da proposta de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil ficará para 2025.

    O quadro, contudo, segue desafiador no Brasil. Hoje, por exemplo, a XP Investimentos reduziu sua estimativa para o Ibovespa de 150 mil pontos para 145 mil em 2025. Em relatório, cita que os desafios macro permanecem no Brasil, com uma inflação crescente e expectativas inflacionárias desancoradas, que devem levar o Banco Central a aumentar os juros de forma significativa.

    Neste cenário o boletim Focus trouxe nova revisão para cima nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano e do seguinte, o que pode pressionar os ativos no Brasil hoje. A mediana para o IPCA de 2024 subiu de 4,63% para 4,71%, acima do teto da meta, de 4,50%. Já para 2025, foi de 4,34% para 4,40%. Se ficar acima ou abaixo do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, o Banco Central terá descumprido o alvo. A mediana para a Selic, por sua vez, seguiu em 11,75% ao ano para o fim de 2024.

    Contudo na curva e nos departamentos econômicos, espera-se uma taxa de até 15% e 14%, respectivamente, no final deste ano. Pesquisa feita pelo Projeções Broadcast mostra que a maioria espera aumento no ritmo de alta da Selic de meio ponto para 0,75 ponto porcentual no Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês, devido ao aumento das incertezas fiscais.

    Hoje, as atenções ficam em Gabriel Galípolo, futuro presidente do BC, que faz palestra em São Paulo, em meio às indicações feitas na sexta-feira para a nova diretoria da autoridade monetária. Amanhã, será divulgado o PIB do terceiro trimestre e nos Estados Unidos as atenções ficam em falas de diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e no payroll, principalmente.

    Às 10h55, o Ibovespa caía 0,48% aos 125.067,74 pontos. Na mínima marcou 124.733,89 pontos, com recuo de 0,74%. Vale perdia força e subia só 0,07% e Petrobrás zerava a alta.

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