Catarse
Em tempos como esses que estamos vivendo, quem ainda não fez ou pelo menos não ensaiou fazer a sua?
Ao longo dos inusitados anos de 2019 a 2022, será que algum ser humano, na face do planeta, ainda não se sentiu tentado a conversar consigo mesmo, com seus pensamentos mais íntimos, e deixar fluir suas vontades e sentimentos reprimidos, à vista da inquestionável constatação do quão efêmera é a vida?
Há quem possa dizer que as catarses são para os fortes já que nem todo mundo tem coragem de enfrentar seus medos e, ao fim e a cabo, mudar tudo, fazer o que sempre teve vontade de – ou pelo menos tentar – afinal fomos educados e aculturados para renunciar, aceitar, sublimar, e acabar “varrendo a sujeira para debaixo do tapete”.
Mas o evento da pandemia que assolou o mundo tem feito muita gente passar em revista a sua vida, os seus desejos, suas emoções.
Ora, faz sentido, diante da constatação latente de que tudo pode estar por um segundo, continuarmos deixando de fazer muito do que temos vontade, à espera do futuro?
Aquela viagem com a qual sempre sonhamos, aquela ajuda a alguém que precisa, a reforma da casa sempre adiada….
Faz sentido renunciar ao HOJE, em nome de um AMANHÃ que não se sabe se virá, e se vier, não se sabe como?
Entreguemo-nos, então, aos nossos pensamentos catárticos e sejamos corajosos para revirar nosso “quartinho de guardados” e nos livrarmos de tudo o que sabemos que não nos tem feito bem, a fim de que possamos enxergar a importância de sermos mais compassivos conosco mesmos e com as pessoas que nos cercam.
A experiência da vida terrena, até onde se tem certeza, é uma só.
Nesta vida, viemos vestidos com este corpo, cercados da família e dos amigos que nos couberam, com a riqueza material de que fomos merecedores.
Portanto, cabe a nós, e somente a nós, ter a sabedoria de tirar dela o melhor proveito possível.
Que cada um de nós saiba colher esta oportunidade, quiçá única, para fazer a sua catarse particular.