Casimiro De Abreu
O poeta Casimiro de Abreu é fluminense de Barra de São João (depois Indaiaçu e atualmente Casimiro de Abreu), onde nasceu, há cento e oitenta anos, em 4 de janeiro de 1839. Filho natural de pai português e mãe brasileira, viveu uma infância feliz com a mãe e as irmãs. Por insistência do pai, interrompe os estudos e vai trabalhar com ele no comércio. Passado algum tempo, o pai o envia para Lisboa, a título de aprendizado em negócios. Muito jovem, o poeta ressente-se de saudades da vida livre, da mãe e das irmãs, e escreve alguns de seus poemas mais conhecidos: ‘Canção do exílio’, ‘Minha terra’, ‘Saudades’, ‘Minha mãe’ etc . Numa homenagem a Portugal realizou uma pequena peça em um ato, Camões e o jau, na qual adota liberdades com a verdade histórica; mesmo assim, obteve algum êxito de audiência ao ser encenada em 1856 no Teatro Dom Fernando. No ano seguinte volta ao Rio de Janeiro. Além do trabalho no comércio, escreve ainda diversos poemas, dos quais se destacam ‘A valsa’, ‘Deus!’, ‘Quando’, ‘Amor e medo’. Levando uma vida desregrada, Casimiro faz várias vezes queixas à “tirania” do pai. Entretanto é este quem lhe financia a publicação de seu único livro de poesia, As Primaveras (1859). Mais tarde, já tuberculoso e reconciliado com o pai, que morre, o poeta procura curar-se em Nova Friburgo, porém falece em 18 de outubro de 1860, aos vinte e um anos.
Pode-se classificar o romantismo de Casimiro como “individualista”. É claro que, tanto na lírica amorosa quanto no tema da saudade, o poeta não alcançou a altura de Gonçalves Dias nem a de Fagundes Varela. Entretanto, uma nota de sensualidade, em poemas como ‘A valsa’ (onde também mostra seu sentido rítmico dos versos) e a espontaneidade que lhe é peculiar, podem suprir o lado essencialmente emocional de sua poesia e lhe garantem a popularidade de que até hoje desfruta. Por outro lado, a pobreza filosófica e psicológica de seu estro é compensada pela riqueza formal, que o salienta entre os românticos, pois, para atingir a naturalidade dos poemas, o poeta usa vários recursos quanto ao número de sílabas em cada verso, quanto à rima, à estrofação, etc. E nas Poesias Elegíacas, parte final de As Primaveras, temos uma nota bem diversa da melancolia e do conformismo geral de Casimiro; em vez disso, vê-se a surda e inquietante irrupção de um poeta que está descobrindo o mundo: ‘Dores’ e ‘À morte de Afonso Messeder’ indicam claramente um novo Casimiro que infelizmente não chegou a formar-se. De todo modo, sobrou-lhe um acento pessoal que o impediu de ser simples cópia de Gonçalves Dias, por exemplo. É patrono da cadeira 06 da Academia Brasileira de Letras.
Recebemos e agradecemos: Jornal da ANE, Brasília, ano XII, no 90 (novembro 2018) e 91 (dezembro 2018).