Casa Mãe Mulher arrecada doações para Ceia de Natal
"Quando chegamos lá, recebemos a notícia de que nosso filho havia sido 'preso'. Ficamos arrasados. Nós não sabíamos de nada do que ele vinha fazendo. Naquele momento, ter um lugar como a Casa Mãe Mulher, para apenas sentar e chorar fez toda a diferença". As palavras são de Sheila Nicacio, de 51 anos, dona de casa e mãe de seis filhos, que viu um deles ser encaminhado a um centro socioeducativo em Belford Roxo, pela primeira vez em 2013, por envolvimento com drogas. O rapaz, que na época tinha 15 anos, chegou a passar pelo local três vezes. Hoje, Sheila é mãe de menos um filho. Uma briga de facções em São João de Meriti levou Ezequiel Gomes Nicacio, aos 16 anos. Mas Sheila, por alguma razão, voltou a um dos locais mais doloridos da história de sua família e se tornou voluntária na Casa Mãe Mulher.
O projeto autônomo de mulheres de várias denominações cristãs existe há 10 anos e, há cinco, abriu uma casa próximo ao Centro de Atendimento Integrado da Baixada (CAI), o Degase, em Belford Roxo, para receber mães e parentes que vêm visitar os filhos que estão cumprido medidas socioeducativas no local. Neste natal, como nos demais, a instituição está promovendo uma grande ceia para os familiares e busca contribuições para compôr o almoço natalino, já que se sustenta 100% com doações de indivíduos.
Sandra Santos, coordenadora da Casa Mãe Mulher, conta que a ideia de criar a casa surgiu apenas por "se colocar no lugar do outro". Trabalhando há 24 anos como funcionária no Degase, ela observava a dificuldade das famílias no dia da visita: "as filas de espera do lado de fora do Centro são enormes e as mães e parentes têm de esperar lá, debaixo de sol ou de chuva". Muitos vem de longe, de Minas Gerais ou da Região dos Lagos e ficam lá o dia inteiro, sem ter o que comer. Algumas mães vêm pela primeira vez, sem saber das normas de vestimenta, acabam impedidas de entrar na visita e perdem a viagem.
Hoje a Casa Mãe Mulher atende 400 pessoas e tem 30 voluntários. Cerca de dez mães petropolitanas frequentam o projeto. Seus filhos, como tantos outros adolescentes de Petrópolis, estão no Degase. A casa fica aberta ao público nos dias das visitas, às quarta-feiras, de 8h às 15h, e aos sábados, de 6h30 às 15h. O local serve café da manhã e almoço gratuitamente. Lá os parentes podem esperar, fazer as refeições, usar o banheiro e trocar de roupa, caso necessário. Eventualmente, há atividades e palestras. Não é necessário fazer inscrição, nem reserva para participar. A entrada é franca.
"Poucas vezes, eu vi um trabalho tão forte e bonito. Elas atendem às demandas materiais e afetivas de uma mãe ou pai que estão passando por uma das piores situações da sua vida: ter um filho detido", disse a petropolitana Sara Gehren, de 26 anos, voluntária no projeto desde fevereiro deste ano.
Indagada sobre o porquê de ter se tornado voluntária na Casa Mãe Mulher, Sheila ainda hoje se emociona ao relembrar do dia difícil em que conheceu a instituição, mas diz que o apoio que recebeu lá foi fundamental. "Há muitas mulheres que, como eu, passam lá todas as semanas. Algumas ainda têm seus filhos ao seu lado, outras não. Muitas pessoas culpam a mãe pelo caminho que os filhos tomaram. Eu vejo como aquelas mulheres entram na Casa e como elas saem. Quando perdi o meu filho, elas vieram a minha casa me dar apoio. Por isso, resolvi me voluntariar também. Bom seria se existisse uma Casa Mãe em frente a cada centro socioeducativo de adolescentes".
A coordenadora do projeto considera que, desde a criação da casa, e o trabalho que é feito com as famílias, a reincidência dos adolescentes diminuiu no Degase, mas que falta projeto e intenção por parte do estado para ressocializar, de fato, os jovens. "Eu trabalho aqui há 24 anos. É muito tempo vendo meninos que vêm e vão, meninos que vão e que morrem. Falta acompanhamento e um trabalho do estado para ressocializar estes rapazes; na saída daqui, propôr coisas novas. Porque o adolescente sai daqui e já está manchado, não tem um emprego, não tem nada. Essa palavra 'socioeducativo' é só uma palavra. O estado não quer socializar ninguém, essa é a minha percepção", disse.
Projeto está arrecadando doações para Ceia de Natal
A Casa Mãe Mulher está arrecadando doações para a Ceia de Natal que será realizada neste fim de ano para as mães e parentes dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no Degase. A primeira ceia aconteceu neste sábado (15). A segunda será na próxima quarta-feira (19).
Os voluntários ainda estão arrecadando doações, que podem ser feitas em alimentos ou em dinheiro. Quem tiver interesse em contribuir para a ceia ou para o projeto, pode entrar em contato pelo número (21) 96927-6965 ou por meio da página do Facebook Casa Mãe Mulher. A conta para depósito é Caixa Econômica Federal, Agência 0185, Operação 013, Conta Poupança 00451890-9 (Luana Aparecida de Jesus Magalhães).
A Casa Mãe Mulher fica na Rua Olavo Batista, lote 4, quadra 20, Jardim Redentor, em Belford Roxo (próximo ao Ciep 037 Ernesto Guevara).