• Casa Cruzeiro: constelação à parte

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  • 11/10/2020 08:00

    Ainda que não do Sul, o brilho da Casa Cruzeiro também a caracteriza como constelação. Das mais conhecidas, a loja é grande indicadora de tempo, localização e brilho, já que em cada braço seu está uma estrela que, cada qual a sua maneira, foi capaz de se identificar como parte do grupo.

    Normalmente conectadas por linhas imaginárias, as estrelas desta constelação têm, por sua vez, a família como principal fio condutor. Há três gerações e mais de 80 anos os ‘de Castro’ estão envolvidos com a Casa Cruzeiro, que lá atrás, em 1932, passou a pertencer ao senhor Álvaro de Castro.

    Filho de Álvaro, Celso Jorge Sanches de Castro, de 78 anos, recorda o leque de serviços que costumavam ser oferecidos pela Cruzeiro: oficina de serralheiro, bombeiro, e loja de ferragens e materiais de construção. Situada desde 1850 na subida da antiga João Pessoa, sua variedade, por si só, já a caracterizava como uma constelação à parte.

    “Meu pai dizia que a Cruzeiro servia o Getúlio. Ele contava que uma vez ele entrou na loja, comprou um chuveiro e ainda sentou numa cadeira. Tenho ela guardada até hoje”. Parte de uma coleção que conta, ainda, com o telefone de disco, a escrivaninha e uma placa da época, a cadeira é um dos tesouros que mantém o passado vivo no presente.

    Foto: Arquivo pessoal Celso Jorge Sanches de Castro

    Até porque, para os ‘de Castro’ o passado foi e é, por si só, um presente. Para ‘seu’ Celso, falar dele é lembrar da freguesia do pai, que englobava os grandes construtores da época, e, sobretudo, de seu grande professor: o balcão. “Aprendemos tudo no balcão, e trabalhar com meu pai era muito bom. Era um homem muito inteligente”.

    Foto: Museu Imperial/Ibram/MinC

    Foto: Reprodução/Internet

    De João Pessoa para Nelson de Sá Earp, mais até do que a denominação, o senhor Celso testemunhou as transformações no perfil da via, que, a cada vez mais movimentada, passou a dificultar a chegada, em caminhões, de material bruto. Quem comenta as mudanças é a esposa de ‘seu’ Celso, a senhora Maria Dalva de Jesus de Castro, 76 anos.

    Casados há quase 56 anos, os dois tiveram que assumir a loja cerca de seis anos depois de oficializada a união. O senhor Álvaro havia falecido e, então, cabia a eles a tarefa de manter o negócio em atividade. “Era uma responsabilidade. Éramos muito novos e tínhamos que trabalhar muito para pagar os funcionários”.

    Passada a fase inicial de adaptação, dona Dalva comenta as mudanças seguintes, motivadas pelas transformações da rua. “Fomos vendo que naquele local já não cabia mais uma oficina de serralheria e nem a venda de materiais de construção, então mantivemos só a loja de ferramentas. Mais tarde desmanchamos e renovamos aquilo tudo”.

    Foto: Arquivo pessoal Celso Jorge Sanches de Castro

    Sob o mesmo nome e também no mesmo endereço, o empreendimento, há 17 anos, é papelaria. A ideia, dona Dalva explica que veio das filhas. Formadas em fisioterapia e pedagogia, Daniela de Castro Moisés, 47 anos, e Rosângela Aparecida de Castro Lourenço, 55 anos, respectivamente, decidiram manter aceso o brilho da Casa Cruzeiro.

    Quando pequenas o tempo passado dentro da loja era monitorado. As mercadorias com que se trabalhava eram perigosas e, por isso, os pais temiam que elas se machucassem. Ironicamente, o perigo maior foi enfrentado mais tarde: o fortalecimento daquela mesma linha imaginária que já havia entrelaçado Álvaro, Celso e Dalva à Cruzeiro.

    Para Rosângela, a relação com a casa é afetiva e remete à infância, aos olhos de criança que observavam com curiosidade, ao lado da irmã Daniela e do irmão Celso Cláudio,as chaves, portões e grades fabricados na oficina que, aliás, se estendia até a atual loja da Taco, e a emblemática caminhonete verde de entregas da Ford.

    “Quando meu pai não podia nos levar para a escola, era o motorista quem nos levava, e a gente achava aquilo o máximo: ir para a escola de caminhonete”. Com Celso e dona Dalva na administração, Daniela nas compras e decoração, e Rosângela no atendimento, a Cruzeiro mantém, mais do que nunca, o passado vivo no presente.

    “Muitos amigos do meu pai vão lá e gente que se mudou da cidade também. Eles logo perguntam se pertence à mesma família. É uma história bonita e muito antiga”. Se uma constelação se caracteriza por astros próximos uns dos outros, não há dúvidas de que a Casa Cruzeiro também seja união de estrelas: cada uma com seu brilho próprio.

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