• Carlos Piani, do Equatorial, será indicado presidente da Sabesp nesta semana

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  • 25/ago 18:15
    Por Cristiane Barbieri / Estadão

    Carlos Piani, presidente do conselho do Grupo Equatorial, será indicado presidente executivo da Sabesp esta semana, segundo fontes a par da movimentação. O grupo tornou-se o acionista de referência da empresa de saneamento paulista, com a compra de 15% de suas ações por R$ 6,9 bilhões no mês passado. Agora, nomeará Piani, cuja indicação havia sido antecipada pelo Estadão/Broadcast. O nome ainda precisa ser referendado em reunião de conselho e de acionistas da Sabesp, mas sua aprovação não deve enfrentar resistência. A expectativa é que ele assuma o cargo em outubro.

    Além de presidir o conselho do grupo, Piani faz parte de outros cinco colegiados, entre eles Vibra Energia, Ambipar e Hapvida. Aos 51 anos, foi presidente da construtora PDG Realty e da Kraft Heinz no Canadá, além de ter sido sócio da gestora Vinci Partners. Também esteve à frente da distribuidora maranhense Cemar (Equatorial Energia Maranhão), na qual conseguiu universalizar a cobertura do sistema, com apoio do programa Luz para Todos.

    Piani assumirá a gigante paulista que atende 28,1 milhões de pessoas em 371 municípios numa corrida contra o tempo: a meta de universalização do saneamento foi antecipada de 2033 para 2029 pelo governo do Estado, no processo de privatização. Isso significa incluir no sistema da Sabesp os cerca de 20% da população – além desses 28 milhões de habitantes -, que não contam com o serviço de água ou saneamento (ou ambos).

    Para isso, estima-se que a companhia precisará de cerca de R$ 70 bilhões no período, que deverão vir da geração de caixa da empresa, bem como de captações feitas no mercado e de ganhos de produtividade na empresa. A Sabesp faturou R$ 40 bilhões em 2023, com lucro consolidado de R$ 2,8 bilhões. Há regras estritas para a distribuição de dividendos nesse período, que cairá caso as metas de universalização não sejam alcançadas.

    Além de já ter mapeadas as frentes que precisam ser atacadas com maior urgência, num trabalho feito nos últimos meses pelo próprio Grupo Equatorial, a ideia é contar com o próprio corpo técnico da Sabesp, considerado bastante qualificado pelo novo controlador. Também ter ganhos de produtividade com a aceleração e a implantação de processos, bem como com a melhoraria na seleção de fornecedores e sistemas, antes feitos por licitações e que nem sempre resultavam na escolha dos melhores nomes, por causa dessa restrição.

    Equipe será mantida

    Não são previstos cortes de funcionários ou planos de demissão voluntária (PDV) inicialmente. Ao contrário. Sem realizar concursos públicos há mais de dez anos, a Sabesp sofre com a falta de pessoal. Por força da não realização de concursos públicos, também tem um grande número de fornecedores terceirizados, que devem ser incorporados aos quadros da empresa.

    O fato de o Grupo Equatorial ser um dos maiores investidores entre as empresas de capital aberto, com R$ 11 bilhões destinados ao crescimento da operação no ano passado, é considerado uma vantagem pelo histórico nesse tipo de tomada de decisão.

    O setor de saneamento, porém, está em uma fase de investimentos anterior à área de energia, na qual a Equatorial teve sua origem. Por isso, os gastos pesados neste primeiro momento na Sabesp tendem a ter retorno num prazo mais longo, quando a universalização deve colocar cerca de 4 milhões de consumidores em sua base de clientes.

    Processo semelhante

    Em sua passagem pelo Banco Pactual no início dos anos 2000, Piani participou da criação da holding Equatorial Energia e da estruturação do investimento na Cemar, que comandou entre 2006 e 2010. De distribuidora sob intervenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pré-falimentar, a Cemar se transformou numa operação bem-sucedida. No ranking da Aneel, a Equatorial Maranhão foi uma das que mais evoluíram, subindo seis posições em atendimento ao cliente.

    Essa experiência pode ser essencial para evitar situações como a que ocorreu com a Enel em São Paulo, após os apagões que deixaram centenas milhares de pessoas sem luz por semanas no ano passado. A ideia é priorizar quem não recebe atendimento hoje, seja em zonas urbanas, rurais e com ligações clandestinas.

    Estão na lista moradores do Vale do Ribeira e de regiões litorâneas. A concessionária também terá a obrigação de atender a clientes de áreas rurais após três anos de operação, o que cria um desafio adicional e inexistente hoje à operação. Ele envolve também redobrar a atenção a quem já é atendido hoje.

    O fato de o governo do Estado ter participação na empresa de saneamento é considerado essencial principalmente para a busca na redução de ligações clandestinas, bem como para o cuidado das operações em mananciais, já que a empresa precisará contar com o poder público nessa regularização. Outra frente na qual essa parceria deve ser reforçada é nas questões de emergências ambientais, que devem se acirrar com a tendência de maior escassez hídrica no Estado de São Paulo.

    Cotado para ocupar a presidência da Vale e da Vibra, Piani começou a trabalhar no mercado financeiro em 1998, como analista no banco de investimentos Pactual. Seu plano inicial, porém, era outro: levar o nome do Brasil mundo afora por meio do judô.

    Ele chegou a trancar a faculdade para viajar com a seleção brasileira júnior, com o sonho de uma Olimpíada ou um Campeonato Mundial. Acabou deixando o esporte um ano e meio depois, quando viu que era um bom judoca, mas não o suficiente para estar no seleto grupo dos que conquistariam uma medalha.

    Após comandar a Kraft Heinz no Canadá, Piani voltou ao Brasil em 2020. Com dois sócios, montou a HPX, uma “empresa cheque em branco” que se juntou com a Response, do Grupo Ambipar. Também colocou dinheiro e ficou à frente da Modular Data Centers, que constrói componentes modulares para data centers. (Colaborou Elisa Calmon).

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