• Carlos Nobre sobre Mudanças Climáticas, Extremos e Desastres Naturais

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  • 25/08/2022 13:28
    Por Professor Cleveland M. Jones

    O tema da recente palestra e apresentação de Carlos Nobre, no Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (UNIFASE – Petrópolis, RJ) foi “Mudanças Climáticas, Extremos e Desastres Naturais,” em um evento conjunto da UNIFASE e do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). A palestra pode ser assistida no link: https://www.youtube.com/watch?v=Vpo97wG3K94.

    Ainda que o ponto de partida da palestra de Carlos Nobre tenha considerado que o aquecimento global observado tem comprovada e preponderante influência antropogênica, as informações sobre os desastres “naturais” e eventos extremos impressionaram por suas implicações, especialmente para a América do Sul e o Brasil.

    Em um mundo onde negacionistas abundam, é importante entender que independentemente do elo causal entre os fatores antropogênicos (emissões antropogênicas de gases de efeito estufa) e as mudanças climáticas, está claro que o aquecimento global impactará profundamente, e principalmente, nossa região.

    E para aqueles que descartam esses problemas como “preocupações do primeiro mundo,” infelizmente os impactos que sofreremos no Brasil não estão limitados a mais desastres e impactos negativos na saúde e qualidade de vida, o que já seria muito preocupante, mas também serão sentidos na economia, especialmente na agricultura, que hoje é sustentação fundamental da economia brasileira.

    Quanto aos desastres naturais, o risco que eles representam para as populações é definido pelo tripé ocorrência, vulnerabilidade e exposição.

    Infelizmente, como diz Carlos Nobre, temos pouca chance de modificar a ocorrência dos desastres naturais, que tendem a se tornar cada vez mais frequentes, já que as mudanças climáticas em curso ainda seguirão ocorrendo por bastante tempo, devido às emissões passadas (“legacy emissions”). Nada que possamos fazer agora deve mudar essa situação no curto prazo.

    Dessa forma, ele sugere que nos resta focar a redução da vulnerabilidade e da exposição, para reduzir o risco dos desastres naturais. De fato, retirar as pessoas de áreas de risco (reduzir a exposição) e instalar mais equipamentos de monitoramento e aviso prévio (redução da vulnerabilidade) seria eficaz nesse sentido.

    Mas lembremos que dada a realidade de grande parte dos municípios brasileiros, aí incluído o município de Petrópolis, onde foi realizada a palestra, há pouca chance que a exposição seja reduzida através da relocação de pessoas para áreas menos vulneráveis. Décadas do histórico de desastres naturais em áreas de risco claramente mapeadas, em Petrópolis e em outras cidades brasileiras, demonstram a total incapacidade de qualquer autoridade ou órgão público de remover populações dessas áreas, seja pela falta de recursos, falta de disponibilidade e construção de novas moradias seguras, ou falta de vontade política.

    A saída para reduzir o risco à população fica, então, limitada, no curto prazo, e nessa realidade político-administrativa em que vivemos, à redução da vulnerabilidade.

    Entretanto, ainda tendo Petrópolis como exemplo, é possível observar um número elevado de sirenes inoperantes, e a falta de exercícios e simulados de evacuações de áreas de risco, assim como a ausência de educação ambiental e de informações sobre riscos nas escolas, e de orientações voltadas às populações potencialmente em risco.

    Essa realidade, por sua vez, sugere que o objetivo de reduzir a vulnerabilidade das pessoas ao risco de desastres naturais também é prejudicado pelos efeitos da morosidade, ineficácia, falta de recursos, e até corrupção, da máquina pública. Infelizmente, o resultado aponta para mais mortes e prejuízos cada vez maiores…

    Se ainda podemos ter um pouco de otimismo em relação à mitigação dos riscos de desastres naturais, é por conta de algumas (poucas) iniciativas bem-sucedidas na redução da vulnerabilidade, como a implantação de núcleos comunitários de defesa civil (NUDECs), equipamentos de monitoramento de enchentes operados pelas populações locais, e outras iniciativas que envolvem a integração das populações potencialmente afetadas na mitigação dos riscos a que estão sujeitos.

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