• Cansaço enojado

  • 30/06/2018 11:26

    Em filmes de terror, um dos traços clássicos é a mão do monstro vencido que escapa, crispada, do túmulo onde fora enterrado, como que anunciando em voz cavernosa: cá ainda estou e te assombrarei até ao fim dos teus dias. Geralmente esse truque dos roteiros acontece após o alívio de uma crise solvida, clímax vencido, que autoriza a plateia a deixar fluir a respiração que estivera engasgada de espantos. Mas vem o novo susto, para meter subitamente o coração do espectador pela boca. O Brasil hoje parece esse filme de zumbis que não morrem. 

    Quando se imaginava a ditadura militar e seus terríveis porões como capítulo encerrado da história, surge das trevas o medíocre candidato militar, admirador de torturadores, carregado à cabeça das pesquisas por jovens vivandeiros de quartéis, mal informados, iludidos pela romantização de um passado que revisionistas desonestos douram como se aqueles anos verde-oliva tivessem sido um paraíso. Dá tristeza em quem é minimamente esclarecido.

    Mas não é só. Para que o Brasil avance era necessário que a Lava-Jato fosse já coisa pacificada, consolidada como referência de judiciário consciente, e da moralização da política nacional e recuperação da gestão pública decente. Mas a Lava-Jato parece aquela inocente mocinha nadando na praia, com tubarões a espreitá-la, chicoteada por violentos acordes de tensão, sempre prestes a ser devorada. Pois não é que esse Congresso gangrenoso tenta inventar uma CPI para nova tentativa de liquidar a Lava-Jato? Dá nojo em quem pretende um país desinfetado.

    E ainda temos a vexatória Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal. Lá estão construindo jurisprudência própria, sempre apta a relaxar prisões de corruptos, prestar favores a políticos indecentes, e travar os avanços da Lava-Jato. É a turma onde pontifica Ricardo Lewandovski, que fez o que pode para melar as condenações do Mensalão. A mesma onde reina Gilmar Mendes, que dia sim dia não concede alguma liminar soltando presos da Lava-Jato. Inclusive, pelo que consta dos jornais, presos em casos que não deveria julgar, mas sim declarar-se suspeito, dado seu envolvimento pessoal ou familiar com os réus. Essa é, ainda, a turma onde se encastelou Dias Toffoli, o advogado petista que foi subordinado a José Dirceu na Casa Civil. Ele, que fora reprovado em dois concursos para juiz de primeiro grau – e na primeira fase, a de conhecimentos gerais e noções básicas. Não conseguiu ser juiz, mas o PT o pôs Ministro do Supremo! A soltura de José Dirceu, por ele comandada, afrontando a jurisprudência do próprio Supremo, que permite a prisão em segunda instância, talvez seja parcela do pagamento dessa conta pendurada no caixa que o PT vem cobrar. Não por acaso, essa Segunda Turma é a mesma para a qual Lula apela insistente e repetidamente, na busca de burlar a decisão que o prendeu, querendo a soltura imerecida. Dá um cansaço, uma desesperança, em quem pretende um país digno, do qual se possa dizer que há juízes decentes.

    Tudo isso é um pesadelo de quadros interligados. A ameaça de retorno das sombras dos porões, as tentativas de esfaquear a Lava-Jato pelas costas, e as artimanhas do PT e de seus juristas para livrar a cara de seus corruptos favoritos e de seus condenados de estimação. São mãos de monstros do passado saltando crispadas para fora de tumbas onde esperávamos que ficassem sepultados. Eles não querem que o país tenha paz. Dá um cansaço… um cansaço enojado. 

    denilsoncdearaujo.blogspot.com

    Últimas