• Candidato derrotado

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  • 07/03/2018 12:55

    Lilico reside em uma pequena cidade quase combalida, a lembrar até uma grande metrópole que hoje não oferece segurança para que seus habitantes percorram ruas e calçadas, lamentavelmente.

    Todavia, Lilico, homem de pouca instrução mas inteligente e ambicioso, não deixava escapar do pensamento a ideia de se candidatar a um cargo na política local.

    Sua mulher Divina, por ele chamada carinhosamente Didi, sempre a lhe aconselhar que não abandonasse a profissão de exímio serralheiro, já que foi através desta que conseguiu construir a residência do casal e dos dois filhos, além de bem equipá-la a gosto da esposa, ainda que de maneira simplória.

    Entretanto, Lilico entusiasmado com o desempenho do amigo vereador José, apelidado Tutuca, continuava a incentivá-lo a concorrer à vereança junto à Câmara da cidade quase “a fechar as portas”.

    De pouca instrução porém esperto, vivo e matreiro, percebeu que sua atividade profissional não caminhava como antes; sinal da crise?, perguntava a si próprio. Talvez sim, talvez não, até porque a bebida o levou a tomar atitudes destemperadas e os clientes, embora não tão frequentes, todavia quando dele precisavam o procuravam e lhe pagavam o que era cobrado.

    Com a aproximação do período eleitoral, não só por influência do vereador Tutuca, mas, também, por “amigos da onça”, já se inscrevera num partido político decidido a concorrer a uma cadeira de vereador sabedor, entretanto, que o executivo já “andava de lado” e os vereadores tentando aumentar seus subsídios, só não levando adiante tal intento porquanto a população ameaçava quebrar o “plenário” da Câmara. A que ponto chegou a cidade!

    Mesmo assim o candidato não se abalou e continuou na luta subindo e descendo morros e a tomar algumas “biritas” na companhia de pretensos eleitores e as despesas sempre correndo sob sua responsabilidade. 

    A mulher, preocupada já que o dinheiro começara a faltar para as despesas básicas da casa, passou a tratar o marido candidato com certa frieza e até de forma indelicada ao perceber que o mesmo se afastara da família com objetivo de diligenciar sua candidatura, esquecendo-se dos encargos do lar em troca da política.

    Dito e feito, as atividades desenvolvidas pelo competente serralheiro foram encerradas e a loja fechada porquanto o proprietário, locador de Lilico, acabou por levá-lo à justiça, visando cobrar alugueres relativos a três meses não quitados.

    O candidato, assim mesmo, nesta altura, em plena campanha, porém sem um níquel no bolso e aquele que por acaso lhe restava era gasto no bar do Florêncio que continuava de portas abertas para Lilico e o seu “sem número de eleitores”.

    Pleito concluído, urnas apuradas e decepção a abater o candidato tão esperançoso; apenas cinco votos obtidos sendo um dele próprio e os demais sufragados por Florêncio, a mulher e os dois filhos.

    Embora o voto seja secreto Florêncio fez declinar ao derrotado que toda a família havia nele votado; o perdedor, desesperado, ainda resistiu à derrota alegando fraude.

    A esposa, nesta altura, diante de tantas decepções, já deixara o lar juntamente com os filhos e o perdedor abatido com a certeza de que nem a mulher havia nele votado; decidiu, em boa hora, calar-se esquecendo-se da suposta ocorrência de fraude.

    Florêncio, entretanto, “amigo” de Lilico, juntamente com José, o vereador que conseguiu se reeleger, animaram-no no sentido de que aguardasse o transcurso de quatro anos para que pudesse concorrer a novo pleito, na expectativa de que em sendo realizada uma boa campanha, certamente o perdedor se elegeria.

    E Lilico acreditou!

    Por isso mesmo, vale lembrar o poeta quando escreveu: “Uma influência nefasta, / até de um suposto amigo, / é a gotinha que basta, /para por algo em perigo”.

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