
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que por HIV, malária ou câncer de mama, ou por guerras e homicídios. Entre os jovens de 15 a 29 anos, essa foi a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Como forma de realizar uma conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde mental e sobre a prevenção ao suicídio, surgiu o “Setembro Amarelo”. A campanha reforça a importância que a vida tem e ajuda na prevenção do suicídio.
O psicólogo e fundador do Projeto Hapiness, focado em Educação Socioemocional, João Gabriel do Carmo Severino, explica que o suicídio ainda é uma temática muito delicada e difícil em ser discutida publicamente.
“Avançamos bastante desde 2013, quando a campanha começou no Brasil. Porém, ainda precisamos falar sobre o suicídio de maneira clara, responsável, ética e, principalmente, entendendo que ele é uma questão multifatorial e muito complexa – que não se resolve apenas em um mês de conscientização – e que exige atenção contínua aos sinais que as pessoas ao nosso redor, ou até nós mesmos, possamos apresentar, para que busquemos ajuda profissional qualificada”, destaca o psicólogo.
Segundo os dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade entre adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, atingindo 1,33 por 100 mil.
“Esses números evidenciam que o suicídio é um problema crescente de saúde pública, especialmente entre os jovens, e reforçam a necessidade de atenção, prevenção e investimentos em políticas de saúde mental. Existe uma ideia equivocada de que falar sobre suicídio ‘atrai’ o suicídio, o que não é verdade. O que pode acontecer é que o tema seja abordado de maneira despreparada, por pessoas sem formação, ou com ações superficiais como distribuir balões, frases motivacionais e criar diversos reels sem o devido preparo. Fora desse contexto, falar sobre suicídio sempre salva vidas e ajuda a encaminhar as pessoas para o suporte necessário”, reforça João Gabriel.
Importância da conscientização
O especialista ressalta que todos devem atuar ativamente na conscientização da importância da vida e na prevenção ao suicídio, com ações que mostrem que a busca por ajuda sempre é a melhor escolha.
“Quando uma pessoa decide terminar com a própria vida, seus pensamentos, sentimentos e ações tornam-se muito restritos, ou seja, ela pensa constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou resolver o problema, e sofre uma distorção emocional que a deixa rígida diante da vida. Se informar, aprender e ajudar o próximo é a melhor maneira de combater esse problema tão grave, pois as pessoas próximas podem identificar sinais de alerta, oferecer escuta ativa sem julgamentos, demonstrar empatia e apoio, mas, principalmente, encaminhar a pessoa para um médico psiquiatra, que saberá manejar a situação e potencialmente salvar sua vida”, ressalta o especialista.
Saúde mental
Segundo os relatórios World Mental Health Today e Mental Health Atlas 2024, divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais em todo o mundo. A entidade alerta que a situação traz sérios impactos humanos e econômicos, e defende a expansão, em nível global, de serviços voltados à proteção e à promoção da saúde mental.
Segundo os levantamentos, as mulheres são desproporcionalmente mais afetadas, e condições como ansiedade e depressão, que são os transtornos mais comuns, são prevalentes em todos os países e comunidades. Elas afetam pessoas de todas as idades e níveis de renda, e representam a segunda maior causa de incapacidade no longo prazo.
“A saúde mental é de extrema importância, pois ela nos protege, ou melhor, nos possibilita lidar de maneira equilibrada com as adversidades da vida, manter relacionamentos saudáveis, desenvolver nossas potencialidades e enfrentar desafios cotidianos. A cada ano fica evidente o crescimento no número de pessoas acometidas por transtornos mentais, especialmente depressão e ansiedade, que estão entre os mais comuns na população. Esse aumento também se reflete nos pedidos de afastamento do trabalho, mostrando que ainda investimos muito pouco em saúde mental, seja por meio de políticas públicas, seja de maneira individual”, reforçou o psicólogo.
Hábitos saudáveis
Segundo o especialista, alguns hábitos podem ajudar a proteger e fortalecer a saúde mental. “Começando pelo relacionamento interpessoal, ou seja, ter um bom relacionamento consigo mesmo, desenvolvendo autoconhecimento, respeitando seus sentimentos e sendo gentil consigo mesmo. Além disso, relacionar-se bem com outras pessoas, em grupo, praticando comunicação assertiva e empatia, também é fundamental”, explica João Gabriel.
Além disso, a atividade física também é uma grande aliada na proteção da mente, já que libera substâncias que promovem bem-estar, melhora o sono e aumenta a resistência física.
“Da mesma forma, momentos de descanso e lazer são fundamentais para recarregar a energia mental e equilibrar o corpo e a mente. Outro hábito importante é cultivar autoconfiança e amor próprio, pois quando nos valorizamos, enfrentamos os desafios da vida com mais segurança. Dosar o uso do celular e das redes sociais [também] é essencial, já que o uso excessivo pode gerar ansiedade e comparação constante com os outros”, finalizou o psicólogo.
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