• Caminhoneiros bolsonaristas protestam em rodovias de 15 Estados

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  • 09/09/2021 10:52
    Por Murilo Rodrigues Alves, Cássia Miranda, Marlla Sabino, Amanda Pupo, Isadora Duarte, Fábio Grellet, Levy Teles e João Renato Jácome – Especial para o jornal O Estado de S. Paulo / Estadão

    Dois dias após os atos antidemocráticos de 7 de Setembro, caminhoneiros que são a favor do governo do presidente Jair Bolsonaro ainda promovem manifestações em rodovias de 15 Estados nesta quinta-feira (9), causando transtornos e atrasos em cargas.

    No boletim divulgado às 8h30, o Ministério da Infraestrutura informou que, com base em informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), eram registrados pontos de concentração “com abordagem a veículos de cargas” em 15 Estados. São estes: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Rio de Janeiro, Rondônia, Maranhão, Roraima, Pernambuco e Pará.

    Segundo o ministério, houve 10% e redução de ocorrências de bloqueio desde o boletim anterior, da madrugada desta quinta. O ministério também informou que corredores logísticos foram liberados pela PRF em: Minas Gerais, na BR-040; Rio de Janeiro, na BR-116 (Dutra/Barra Mansa) e BR-040 (Reduc); Espírito Santo, na BR-101; Paraná, na BR-376 e Goiás, em Anápolis, na BR-153.

    O órgão também informou que não há mais pontos de interdição em rodovias federais, com exceção da BR-174 em Roraima, onde o protesto promovido por indígenas e não tem relação com o movimento de caminhoneiros.

    Os bloqueios começaram durante as manifestações do 7 de Setembro convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro e seguiram durante a quarta-feira. Ainda segundo o ministério, a composição das mobilizações é heterogênea, “não se limitando a demandas ligadas à categoria” e não há previsão de que os bloqueios nas rodovias afetem o abastecimento de produtos no País.

    As concentrações já preocupam distribuidoras de combustíveis, que temem desabastecimento de produtos como gasolina e óleo diesel.

    Na noite de quarta-feira (8), para tentar conter os protestos, o próprio presidente Bolsonaro gravou um áudio e o ministro de Infraestrutra, Tarcísio de Freitas, um vídeo para tentar desmobilizar os manifestantes. Na mensagem, Bolsonaro trata os caminhoneiros como “aliados” e apela para que os manifestantes desobstruam as vias porque “atrapalha nossa economia”.

    Além das manifestações nas rodovias, caminhoneiros também seguem bloqueando vias da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Os manifestantes viraram a noite no local, mesmo depois de uma operação com mais de 40 viaturas para tentar retirar os caminhões estacionados irregularmente nas faixas em frente aos ministérios e remover uma cozinha improvisada no local.

    Pedido de destituição de ministros

    Um dos líderes do movimento intitulado de Caminhoneiros Patriotas, Francisco Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro, disse que entregará um documento ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), pedindo a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal. “O povo brasileiro não aguenta mais esse momento que País está atravessando através da forma impositiva que STF vem se posicionando. O povo brasileiro está aqui (na Esplanada dos Ministérios) buscando solução e só vamos sair daqui com solução na mão”, disse Chicão, que preside União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), em vídeo que circula pelas redes sociais.

    Segundo ele, o documento também será entregue ao presidente Jair Bolsonaro. Em outro vídeo, Burgardt fala em um prazo de 24 horas para a resposta das autoridades ao pedido. Ele não foi localizado na quarta.

    Diante dos protestos, a Frente Parlamentar Mista do Caminhoneiro Autônomo e Celetista enviou na quarta ofícios ao diretor-geral da PRF, ao Ministério da Infraestrutura, à Presidência da República e outros órgãos, em que pede ação imediata das forças de segurança pública para garantir o trânsito nas rodovias. A frente afirma que, em decorrência dos atos iniciados no 7 de Setembro, ainda ocorrem obstruções de trânsito em estradas federais “com madeiras, pedras e pneus”.

    Presidente da frente, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS) afirmou haver “ameaça à integridade física e danos ao patrimônio com lançamento de pedras contra caminhões de caminhoneiros e transportadores e contra a nossa Constituição, no que se refere ao livre direito de ir e vir”.

    O fato de o ofício ter sido enviado pela Frente reforça a falta de unanimidade da categoria sobre as paralisações. Entidades que representam caminhoneiros autônomos e que chamam mobilizações a favor de demandas específicas da categoria não aderiram aos atos. Na semana passada, representantes da categoria consideravam que poderia haver presença pontual de transportadores nos atos, mas de forma isolada, sem organização associativa.

    Ao menos nove entidades, entre associações, confederações e sindicatos ligados à categoria informaram na quarta que não apoiam a paralisação e não estão participando dos atos.

    A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), que diz congregar cerca de 4.000 empresas de transporte e mais de 50 entidades patronais, manifestou repúdio aos bloqueios. Em nota, a entidade afirma que as paralisações poderão causar graves consequências para o abastecimento, que poderão atingir o consumidor final e o comércio de produtos de todas as naturezas, incluindo essenciais, como alimentos, medicamentos e combustíveis.

    O presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, avalia que o movimento é de cunho político com participação de empresários de transporte e seus funcionários celetistas, e não de transportadores autônomos. “Os caminhoneiros estão sendo usados como massa de manobra”, disse Chorão, que foi um dos principais líderes da categoria na greve de 2018. “Está claro que a pauta não é da categoria”.

    O diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Dahmer, relatou ter visto alguns pontos de manifestações de caminhoneiros, “conforme era esperado” diante de manifestações de Bolsonaro. “Vimos veículos do agronegócio, como tratores e máquinas agrícolas, e a ala de patriotas apoiadores do presidente Bolsonaro. O transportador autônomo vai continuar tentando trabalhar”, disse. A CNTTL enviou recentemente ofício ao presidente do STF, Luiz Fux, repudiando atos “extremistas”, as declarações do cantor Sérgio Reis e do que chamou de “pseudo lideranças” de caminhoneiros, dizendo que não compactua com atos antidemocráticos.

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