Caminhando com Paulo Roberto
Convidado pela presidente do Instituto Histórico de Petrópolis, Maria de Fátima Moraes Argon da Matta, discursei em nome do IHP na festa de homenagem ao historiador Paulo Roberto Martins de Oliveira, na manhã do 13 do corrente na Casa do Colono, em evento honrado com muitas personalidades e amigos daquela magnífica entidade de cultura, além de familiares, amigos e admiradores do saudoso homenageado.. E disse:
Existem pessoas que adoram caminhar.
Quando são moradoras de Petrópolis, ai, nem se discute: o prazer de caminhar é melhor ainda
Pois foi assim que aconteceu. E se não aconteceu, deveria ter ocorrido.
– Vinha o Paulo…
– Paulo? Que Paulo?
– O Paulo Roberto Martins de Oliveira…
– Ah! O historiador? O genealogista?
– Ele mesmo, com aquele seu jeito parecendo tímido e até um pouco encolhido…
– Esse é o Paulo, sem dúvida alguma. Mas, e dai?
– Daí – prestem muita atenção e ninguém venha me chamar de mentiroso.
– Ora, mais uma mentira, mais outra, não fará diferença alguma. Vamos lá, conte a sua mentira.
– Não conto, se não acreditam. Mas, porém, contudo, todavia, senão, vou contar assim mesmo.
– Deixa de história, conta logo. O Paulo Roberto…
– …Martins de Oliveira…
– … Vinha andando por ai e em uma calçada qualquer da cidade de Petrópolis, viu um senhor com vestimentas surradas de trabalho, um machado numa das mãos e aos ombros, uma enxada.
Curioso – o Paulo Roberto sempre foi muito e muito curioso – apressou o passo, passou pelo senhor e postou-se à sua frente, dispôs os braços junto à cintura; indagou:
– O senhor, por gentileza, é aqui da cidade? Nunca o vi por aqui! E suas roupas são do século dezenove.
– Não, senhor. Não sou daqui. Nasci em terras prussianas, na velha Europa. Todos lutando, guerra, vim parra cá e estou trabalhando para alimentar “meu” família!
– O senhor, então, é um desses colonos germânicos tão falados por aqui! Ora, ora, muito bem. O senhor fique sabendo que sou bastante interessado na genealogia das famílias petropolitanas.
– Ah! Genealogia?!
– Não sabe o que é, não é?! Estudo a origem das famílias e foi muito bom encontrar o senhor, que pode me ajudar bastante.
– Sim, se puder ajudar…
– Claro, claro, claro, poderá esclarecer muitas dúvidas. O senhor é de que família de origem germânica?
– Minha família está gravada lá no obelisco da “Bacia”. São muitos nomes, eu possuo todos, porque sou o colono germânico.
– Ah! Que sorte a minha! Permita que tome todos os nomes do obelisco e os estude, levante suas origens, conte a história de nossa vida petropolitana…
– Está autorizado, senhor genealogista… E com licença, tenho de continuar o meu trabalho de construir uma cidade nessa acolhedora povoação.
E, dito isso, o colonizador foi desaparecendo dos olhos de Paulo Roberto, encoberto por um ruço impenetrável, onde se viam flores em profusão, que brilhavam na cerração, tal pirilampos iluminando o arvoredo da serra.
Encantado, feliz, naquele seu feitio de criança obsequiada com um doce, Paulo Roberto Martins de Oliveira entrou ruço a dentro e pesquisou, e pesquisou, e escreveu, e escreveu, e realizou palestras até o dia em que todos vieram buscá-lo para pesquisar e escrever sobre a genealogia de Deus, que é a nossa porque, afinal de contas, somos todos filhos de Deus.
E Paulo Roberto Martins de Oliveira, nosso estudioso apaixonado de amor e respeito à criatura humana, saiu por ai perguntando o todos quem eles eram, de onde vinham, como se estivesse, ainda, conversando com aquele colono que encontrou, num dia qualquer, caminhando por uma rua da já pujante e linda cidade de Petrópolis.