Café Coringa – a porta que nunca fechou
Poucas pessoas na cidade de Petrópolis, devem se lembrar daquela que foi a primeira loja a fi car aberta durante 24 horas, todos os dias da semana. Para tanto, precisamos voltar à década de 1950 e nos depararmos com uma loja comprida, na avenida Quinze, entre a Casa Gelli e o Jornal A Noite. Empresas essas que também já se despediram do nosso mercado. Nela funcionava uma famosa e concorrida confeitaria, um bar, uma lanchonete e até uma casa de apostas, envolvida com corridas de cavalo e jogo do bicho. Com isto, vivia completamente lotada dia e noite. Atendia aos esfomeados e viciados serranos. Eu não conhecia uma só pessoa que não fosse freqüentador da dita cuja. Até o famoso personagem perturbado conhecido pelo apelido de “Bem Te Vi”, vivia parado na sua porta quando estava de bolso vazio. Todos os funcionários dos jornais da cidade, por trabalharem até de madrugada, ao sair das redações, iam lá para fazerem suas esperadas refeições.
Mas vamos voltar ao dia 24 de agosto de 1954, para que eu possa narrar um fato extremamente curioso ocorrido ali naquele local. Naquela data, estava eu no auge dos meus 16 anos de idade, aluno do quarto ano ginásio do Colégio São Vicente de Paulo, sentado na minha carteira, quando no meio de uma aula, a porta da sala se abriu e o Cônego Elko Buikens, um belga reitor do colégio, entrou informando que o nosso presidente Getúlio Vargas, acabara de cometer suicídio, em pleno Palácio do Catete. Ficamos todos assustados, como seria normal, mas aquilo já não seria novidade para ninguém, pois todos sabiam que ele já havia se manifestado, por quatro vezes, que considerava o suicídio como a mais efi ciente forma de vencer uma derrota inevitável. Assim sendo, houve uma ordem federal, para fossem fechados todos os estabelecimentos e toda a população fosse para casa, onde deveriam permanecer em segurança. Mas ao chegarmos às 18 horas, a curiosidade fez com que a maioria da garotada fosse até o centro da cidade para confi rmar os inevitáveis boatos que por ali circulavam. E lá fomos nós. Ai veio a surpresa geral. A única loja, em toda a cidade que ainda permanecia aberta, era o Café Coringa. Aquilo provocou um enorme aglomerado de pessoas curiosas em suas redondezas. Mas ai veio a explicação dada pelo proprietário daquela casa. Como aquela porta já estava recolhida há várias décadas, na tentativa de ser fechada após ao suicídio, ela simplesmente não arriou, pois estava totalmente enferrujada.
Naquele dia, todos nós testemunhamos pessoalmente que aquela porta teve um fi nal totalmente idêntico ao do nosso falecido presidente. Ela saiu desta vida e entrou para a história.