Brasil tenta chance de lucrar com guerra tarifária entre EUA x China
Está declarada a guerra tarifária entre as duas maiores superpotências do planeta. De um lado, os Estados Unidos decidiram impôr um aumento a uma série de produtos vindos da China que, por outro lado respondeu, na mesma moeda em mais um capítulo de uma batalha que afeta todo o mundo. Mas, afinal, o que isso tem a ver com o Brasil? As suas implicações podem influenciar o cotidiano do país, tanto para melhor quanto para pior.
No mês passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um relatório pessimista sobre a economia mundial para 2019. Segundo a poderosa instituição, o mundo vai sofrer as consequências do conflito entre os EUA e a China, já que, como locomotivas da economia global, deixarão de vender um para o outro e, como são mercados incrivelmente atrativos, seus produtos poderiam sofrer aumento de estoque, desvalorizando seus preços.
É uma verdadeira briga de gigantes, cujo desdobramento vai muito além de punições e bravatas de ambos os lados. No entanto, já é possível sentir os efeitos práticos em todos os lugares. No Brasil, por exemplo, o problema afeta em cheio o país. A consequência é a queda nos investimentos estrangeiros, já que o mercado ainda avalia os riscos trazidos pelo conflito comercial. Mas há quem enxergue ali uma bela oportunidade para fazer negócios que, mesmo não beneficiando a economia como um todo, pode aquecer setores que atuam tanto na exportação quanto na importação.
“A guerra tarifária entre os EUA e a China traz problemas para todos os lados, é uma guerra de nervos que até pode ser resolvida. Só que não no curto prazo. Agora, se o Brasil pode ser beneficiado? Sim, num primeiro momento pode. Se citarmos a China, por exemplo, esta deve ter um volume de produtos em estoque que pode ´desovar´em outros países pelo planeta, inclusive no Brasil. Mas a preços até mais camaradas”, analisou o economista Marcelo Sistowsky, citando como exemplo a soja brasileira, que em tese sairia mais barata para os chineses do que comprar hoje o produto americano.
Um outro ponto observado por Marcelo diz respeito aos efeitos da guerra em si para os brasileiros. Ele afirma que influencia o cotidiano de toda a população, pois com essa batalha entre os gigantes da economia mundial, a produção em todo o globo tende a cair, e os brasileiros sentirão na própria pele a queda nos investimentos internacionais em setores importantes da economia. “É uma guerra em que diminui o volume do comércio entre as nações mais poderosas do mundo, o que não é bom para diversos setores, que tanto compram quanto vendem seus produtos. Isso não é bom”, avalia o economista local.
Prova disso está nos recentes números divulgados pelo Governo: queda no Produto Interno Bruto (PIB) pela primeira vez em três anos. É claro que isso está associado a um conjunto de fatores que empurraram para baixo os números macroeconômicos. Porém, sem recursos estrangeiros, torna-se mais difícil financiar o endividamento nacional aqui e lá fora. Sendo assim, empresas investem menos e tendem a demitir funcionários, tornando a economia mais fraca para aguentar o tranco dos problemas encabeçados pelos maiorais do mundo das finanças.
Economia petropolitana tem sofrido o impacto da guerra? Nem tanto
Petrópolis é um dos responsáveis por números positivos na balança comercial do Rio de Janeiro: o maior responsável pela compra de itens produzidos aqui são os Estados Unidos e a empresa de destaque é a GE Celma, que corresponde a 90 por cento do que sai do município para outros países.
Só para se ter uma ideia, em 2018 a Cidade Imperial conseguiu um superávit comercial de US$3,3 bilhões corrente de comércio. Os números foram fornecidos pela Firjan, que anotou uma diminuição de 13% em relação a 2017, sendo que esses números positivos refletem também uma enorme queda de 79% nas importações, que ficaram em torno de US$147 milhões, sobretudo com produtos como turborreatores e outras turbinas produzidas pela GE Celma. A Tribuna tentou, sem sucesso, ouvir algum representante para falar sobre esse comércio, mas ninguém na empresa quis comentar o assunto.
Se, por um lado, vendemos muito para o Tio Sam, de outro compramos bastante da China. Os mesmos dados fornecidos pela Firjan apontam para compras em torno de 17%, sendo que entre os produtos que mais adquirimos do outro lado do mundo está a famosa indústria de têxteis, cujos preços são conhecidos por serem abaixo do mercado brasileiro. Só que, segundo dados da Firjan, o volume de comércio do estado do Rio com os chineses tem aumentado consideravelmente, sobretudo após a chegada de Trump à Casa Branca e suas políticas protecionistas, que interferem diretamente no comércio global.
De acordo com a economista Flávia Cristina Lima Alves, especialista em Comércio Exterior, a guerra comercial não é boa para ninguém, mas o Brasil tem aproveitado a oportunidade para conseguir vantagens competitivas nesse mundo de negócios. Ela observou que existe um aumento na transação corrente entre brasileiros e asiáticos em vários itens, sobretudo no petróleo, para o estado do Rio. “Isto ocorre como um reflexo dessa guerra comercial, que não começou há pouco tempo”, disse a economista, que apresentou dados importantes do comércio entre ambos e apontou para um crescimento de 12 por cento de um ano para cá.
Ao ser indagada sobre se de alguma forma Petrópolis poderia se beneficiar dessa guerra, a resposta de Flávia Cristina é um sonoro sim. E diz que isto está ocorrendo e vai além dos 17% daquilo que vendemos para o mundo inteiro. Além do setor aeronáutico, o setor de caldeiras, por exemplo, teve um acréscimo considerável e que se soma a uma série de produtos com valor agregado. “De uns dois anos para cá, é fato que o estado do Rio, em especial Petrópolis, tem elevado as suas vendas para o mercado. A tendência é de que também compre mais dos chineses e americanos. Alguns nichos da economia podem faturar com essa guerra comercial”, finalizou.