Bolsonaro arrecadou com doações por Pix oito vezes o que declarou de bens ao TSE
Os R$ 17,1 milhões arrecadados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por meio de transferências Pix equivalem a oito vezes o que ele informou ter acumulado em patrimônio, ao declarar os R$ 2,3 milhões em bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na eleição passada. A cifra seria ainda suficiente para pagar cerca de 17 vezes as multas que levaram os apoiadores do ex-chefe do Executivo a fazer uma vaquinha para ele, no mês passado.
A informação sobre a arrecadação milionária de Bolsonaro via Pix foi registrada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que também apontou que esse valor foi movimentado em 769 mil transações feitas para a conta do ex-presidente em seis meses, de janeiro a julho deste ano. Para o Coaf, as movimentações atípicas podem ter relação com a vaquinha feita por apoiadores para ajudar Bolsonaro a pagar multas impostas pela Justiça.
À imprensa, o ex-presidente se limitou a dizer que já arrecadou dinheiro o bastante para pagar todas as multas que sofreu em processos judiciais e eventuais novas punições. À época, dados da Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo indicavam que ele teria de desembolsar R$ 1.062.416,65 em sete multas acumuladas em 2021 e o ano passado.
O valor também daria para financiar 142 vezes a campanha que elegeu Carlos Bolsonaro (Republicanos) vereador do Rio, em 2020; 24 vezes o pleito de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Senado em 2018; e 21 vezes a candidatura de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à Câmara, ano passado.
Vaquinha
A campanha de doação para o ex-presidente começou depois do julgamento do TSE que o deixou inelegível. Parlamentares do PL foram os que mais movimentaram a campanha. Em 24 de junho, os deputados federais Nikolas Ferreira (MG), Mário Frias (SP), Gustavo Gayer (GO) e André Fernandes (CE) e o deputado estadual Bruno Engler (MG) publicaram nas redes sociais apelos pedindo contribuições financeiras.
O valor arrecadado pelo ex-presidente no Pix, revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, pagaria ainda três vezes as joias doadas pela Arábia Saudita. A Polícia Federal avaliou os diamantes apreendidos pela Receita Federal com uma comitiva do governo Bolsonaro no Aeroporto de Guarulhos (SP), em 2021, em R$ 5,1 milhões. Os R$ 17,1 milhões em Pix correspondem quase à totalidade do valor que circulou nas contas bancárias de Bolsonaro em 2023: R$ 18.498.532.
Empresa
O relatório do Coaf também apontou movimentação “incompatível” de recursos nas contas de uma empresa investigada por supostamente financiar despesas pessoais da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A suspeita envolve a Cedro do Líbano Comércio de Madeira e Materiais para Construção.
A empresa recebeu R$ 16,6 milhões e desembolsou o mesmo valor entre o começo de janeiro de 2020 e o fim de abril deste ano. Para o Coaf, a movimentação de R$ 32,2 milhões não condiz com o porte, o patrimônio, a atividade e a capacidade financeira da firma.
“Chama atenção a aparente incompatibilidade entre o porte/estrutura vis à vis o volume transacionado a crédito no período analisado, o que supostamente pode demonstrar que cliente esteja utilizando a conta para transacionar recursos provenientes de atividades não declaradas”, afirma trecho do relatório do Coaf sobre a Cedro de Líbano.
Militares
No relatório do Coaf, é destacado ainda que a empresa fez duas transferências bancárias, de R$ 8.330 cada, para o sargento Luís Marcos dos Reis, um dos militares da equipe de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Tanto Cid quanto Reis estão presos desde maio por suspeita de envolvimento em esquema de fraude em cartões de vacinação contra a covid.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.