• Boa administração e panos quentes não combinam

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 23/06/2019 12:00

    Joaquim Levy foi uma escolha pessoal do ministro Paulo Guedes para a presidência do BNDES, e, a bem da verdade, o grupo palaciano o aceitou, em face das garantias de Guedes com relação a sua competência. Mas, por outro lado, suas passagens nos governos do PT e os nomes convidados por ele (alguns ligados ao PT e ao PSOL) para ocupar cargos de diretoria no Banco, desagradaram não só a Bolsonaro, como aos generais ligados à presidência. 

    Contra Levy, sempre pesou o fato de ter sido secretário do Tesouro, quando Antônio Palloci era ministro da Fazenda de Lula, de ter sido secretário da Fazenda no Rio, no governo de Sérgio Cabral, e também ministro da Fazenda de Dilma. Guedes afirmava que apesar disto não pesava sobre Levy nenhum processo ou acusação. Vale lembrar que Levy também atuou no governo FHC.

    Apesar de um currículo (mestrado em economia pela FGV e doutorado na Universidade de Chicago) de indiscutível robustez, Levy nunca foi visto com bons olhos por Bolsonaro. O presidente deu a ele a missão de desvendar e trazer a público os acobertados empréstimos (33 bilhões) do BNDES à Venezuela, Cuba, Angola e outros países ligados à cúpula petista; não o fez, para não se indispor com funcionários do banco.

    A nomeação de Marcos Barbosa Lima, economista, ligado ao PT, para uma diretoria, foi a gota d'água para Bolsonaro arrancar de vez a espinha Levy atravessada em sua garganta. Não nos esqueçamos que não cumpriu a missão, a ele confiada, quando de sua posse, de abrir a caixa-preta do BNDES. Levy conduziu o banco, nestes 5 meses e meio, colocando panos quentes no processo, tentando abafar o fatos.

    Levy, para culminar sua atuação pouco pró governo e sectária, ainda fazia de forma excessivamente lenta, os repasses de devolução do Banco ao Tesouro, motivo de atritos com Paulo Guedes. 

    Como crítica deste processo, que culminou com o pedido de demissão de Levy em carta a Paulo Guedes, fica o modo nada cavalheiresco do presidente em se dirigir à imprensa como se estivesse conversando com amigos em um churrasco:  " se o Levy não voltar atrás na nomeação do petista no BNDES, eu mesmo na segunda-feira, passo por cima do Guedes e demito o Levy".

    Esses arroubos de truculência e ranço, o presidente precisa urgentemente contê-los. A informalidade não combina com a liturgia do cargo. Um verdadeiro estadista jamais teria esta postura, mas talvez isto, ainda seja cedo, de se esperar por parte de uma pessoa simplória (e nisto não há mal algum, se comparado ao apedeuta Lula e à incompetência de Dilma) conduzido ao maior cargo do País. Vejo Bolsonaro evoluindo, sim; evoluiu muito nestes quase seis meses de governo. A ele, talvez, o maior mérito, o fato de ter virado as costas ao presidencialismo de coalizão. Mas devemos ter em mente, a intolerância aos que não comungam com suas linhas de pensamento onde não há espaços para divergências. 

    Contra aqueles que enxergam uma perda a saída de Levy e que o consideram um quadro suprapartidário, digo que não concordo. Levy pode até ser considerado muito bom administrador de bancos, mas ficou patente seu desalinhamento com a Presidência. O desalinhamento sempre provocou troca de cadeiras e é um processo lógico. O fato de não ter nem iniciado o cumprimento de sua primordial missão no cargo, o coloca totalmente fora do alinhamento e dos planos do governo.

    Para o lugar de Levy, vai Gustavo Montezano um jovem (38 anos), ex-sócio do Banco BTG Pactual. Se é uma boa aposta, o futuro dirá. 

    Últimas