• Bloco leva 100 mil para as ruas do centro, com desafio de se reinventar

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  • 11/fev 08:09
    Por Bárbara Correa / Estadão

    O bloco Tarado Ni Você abriu os caminhos do carnaval de São Paulo na manhã deste sábado, 10, levando 100 mil foliões pelas ruas do centro da capital. Com o enredo A Grande Cobra Coral Encantada, o desfile homenageou o legado do cantor Caetano Veloso, enquanto serviu de marca do carnaval de rua deste ano de São Paulo, que vive um processo de reinvenção, após queda em patrocínios.

    Como os sambistas que se equilibravam em pernas de pau ao cruzar na Ipiranga, o bloco festejou 10 anos tendo de driblar obstáculos para se manter. “A cobra coral é um ser que troca de pele. Cada década traz uma transformação e estamos nesse momento de mudança, com nova banda, um recomeço”, disse a fundadora, Raphaela Barcalla.

    Os novos ares começaram antes mesmo do dia do desfile. Raphaela explica que 2024 foi um ano excepcionalmente desafiador para a organização. “Nunca tivemos tanta dificuldade de patrocínio desde o terceiro ano do bloco. As marcas ficaram esperando quem seria o patrocinador oficial da cidade e isso saiu menos de um mês antes do carnaval. Então, elas preferiram apoiar eventos fechados, mas conseguimos levar adiante”, disse.

    Como o Estadão mostrou, o carnaval de rua de 2024 teve um número de inscritos inferior em relação ao pré-pandemia, com queixas reiteradas em relação à falta de apoio público. E os cancelamentos ocorreram mesmo no período de pré-carnaval. Mas nada que impedisse os foliões, que voltaram às ruas em número até maior que em outros anos, em meio à pandemia.

    Segurança

    O público começou a se reunir antes mesmo da concentração do bloco, marcada para às 9h, com o intuito de conseguir lugar próximo ao trio. Foi o caso de Rafaela Marques, de 31 anos. A professora frequenta o Tarado Ni Você desde 2022 e explica que, além do repertório de Caetano Veloso, o maior atrativo do evento, para ela, é a presença de uma banda de músicos. “São Paulo é muito carente de bloco com música ao vivo. E esse é o diferencial daqui. A energia é muito melhor e, além disso, sentimos que estamos em casa, porque sabemos que a organização também é feita por pessoas LGBTQIAPN+ e aliados”, afirma.

    Rafael Hermés, de 29 anos, também frequentador assíduo do evento, diz que, com o passar dos anos, desenvolveu estratégias diferentes para curtir o bloco com segurança. “A maturidade traz sabedoria. Hoje em dia, como aqui enche muito, eu venho com duas pochetes, guardo o celular dentro da roupa. Para conseguir ficar até o final, a dica é hidratação e ter um remedinho pra ressaca”, afirma o professor – embora, como o Estadão mostrou ontem, esses remédios muitas vezes não tenham efeito.

    O percurso começou às 11 horas, justamente no emblemático cruzamento entre a Avenida Ipiranga com a Avenida São João, foco de problemas de segurança nos últimos meses, e seguiu conduzindo o público na direção do Teatro Municipal. Logo no início, a cantora Any Gabrielly fez uma participação no trio e cantou sucessos de Caetano. Mais tarde, foi a vez da cantora Tássia Reis assumir o microfone.

    Apoteose

    O momento de destaque do desfile foi o encerramento, com a aguardada chuva de tinta de fumaça no Teatro Municipal. Às 13 horas, a cobra coral ocupou a tradicional escadaria, que também foi coberta de tinta vermelha. “Nós trazemos esse levante de um olhar artístico e cultural para São Paulo. Desmistificar a ideia de uma cidade cinza. Nosso intuito é trazer essa reflexão de ocupar os espaços públicos e trazer essa reinvenção da linguagem estética do carnaval de São Paulo”, afirmou Raphaela Barcalla.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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