• ‘Black Bird’ usa trajetória de serial killer para falar de masculinidade tóxica

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  • 05/08/2022 16:53
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    Crimes quase sempre estão no centro das obras do escritor Dennis Lehane. Mas, quando foi convidado a escrever e desenvolver a minissérie Black Bird, cujo último episódio acaba de entrar no ar na Apple TV+, ele hesitou. “Eu não gosto de séries sobre serial killers”, contou Lehane em entrevista ao Estadão, por videoconferência.

    Black Bird é baseada no livro de James Keene, escrito em parceria com Hillel Levin, em que ele detalha sua experiência com o assassino Larry Hall. Keene estava preso por tráfico de drogas quando recebeu a proposta de ganhar sua liberdade em troca de arrancar outras confissões de Hall, suspeito de ser um serial killer que matou ao menos 14 mulheres.

    O escritor topou com a condição de que não fosse sensacionalista, nem explorasse o luto das famílias. O quinto episódio, o penúltimo, é focado em uma das vítimas. “Porque a vida que ela viveu era mais bonita, valorizada, radiante do que a de Larry. Essa é a razão pela qual ele é um serial killer”, afirmou Lehane. Em vez de se concentrar nos atos de Larry, a minissérie discute a violência psicológica, o trauma, a má paternidade-maternidade.

    Lehane decidiu transformar o material original em um estudo sobre a masculinidade. “Larry é o extremo mais sombrio da masculinidade tóxica. Ele acredita que precisa matar as mulheres para não sentir o que sente em relação a elas”, disse Lehane sobre o serial killer interpretado por Paul Walter Hauser. “Mas Jimmy está muito confortável em fazer sexo vazio com mulheres. Sua jornada inclui percepções incômodas”, contou o escritor.

    Taron Egerton, que interpreta Jimmy, concordou. “Nós vimos um monte de histórias sobre homens masculinos – especialmente sobre homens masculinos brancos. Mas esta história examina o aspecto problemático e feio da masculinidade que não gostamos de admitir”, observou o ator em entrevista com a participação do Estadão. “Não há como negar a feiura de Larry. Mas Jimmy também tem a sua. E é por meio de sua relação com Larry que ele começa a entender que tem alguns problemas. Jimmy aprende humildade ao dançar com o diabo.”

    O ator teve a chance de contracenar com Ray Liotta, em seu último papel para a TV. Liotta, morto em maio, faz o pai amoroso de Jimmy, um ex-policial que tem seu lado sombrio. “Trabalhei com atores de quem fiquei amigo. Aqui foi diferente, porque Ray decidiu apresentar-se para mim como se fosse meu pai”, lembrou Egerton. “Não conversamos muito como Taron e Ray nos primeiros dias. Devagar, ele foi se abrindo. Foi uma relação muito afetuosa e delicada.”

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