• Bill Gates fala sobre fim de sua fundação e doação de fortuna de US$ 107 bi

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 09/maio 08:15
    Por AP / Estadão

    O bilionário Bill Gates, fundador da Microsoft, anunciou nesta quinta-feira, 8, que vai encerrar as atividades da Fundação Gates nos próximos 20 anos. Até lá, porém, ele vai doar 99% da sua fortuna, estimada em US$ 107 bilhões, à instituição.

    Se concretizada, a transferência da fortuna estará entre as maiores doações filantrópicas de todos os tempos – superando as contribuições históricas de industriais como John D. Rockefeller e Andrew Carnegie, quando ajustadas pela inflação. Apenas a promessa de Warren Buffett, gestor da Berkshire Hathaway, de doar sua fortuna – estimada pela Forbes em US$ 160 bilhões – seria maior, dependendo das flutuações do mercado de ações.

    A doação de Gates será realizada ao longo do tempo e permitirá que sua fundação gaste mais de US$ 200 bilhões nos próximos 20 anos. “É emocionante ter essa quantia para poder investir nessas causas”, disse Gates em uma entrevista à The Associated Press.

    O anúncio sinaliza tanto uma promessa de apoio contínuo a causas como saúde global e educação quanto o potencial fim da imensa influência mundial da fundação. Gates diz que gastar sua fortuna ajudará a salvar e a melhorar muitas vidas agora, o que terá efeitos positivos muito além do fechamento da fundação. Isso também torna mais provável que suas intenções sejam honradas. “Acho que 20 anos é o equilíbrio certo entre dar o máximo que pudermos para progredir e avisar às pessoas que agora esse dinheiro vai acabar”, disse Gates.

    História

    A Fundação Gates há muito tempo é inigualável entre as fundações filantrópicas, atraindo apoiadores e detratores – além de inúmeras teorias de conspiração.

    Além dos US$ 100 bilhões que gastou desde a sua fundação, há 25 anos, ela direcionou pesquisas científicas, ajudou a desenvolver novas tecnologias e cultivou parcerias de longo prazo com países e empresas.

    Cerca de 41% do dinheiro da fundação, até agora, veio de Buffett, e o restante da fortuna que Gates fez na Microsoft.

    Criada por Bill Gates e Melinda French Gates, em 2000, a fundação desempenha papel importante na formulação de políticas globais de saúde e conquistou um nicho especial ao estabelecer parcerias com empresas e reduzir o custo de tratamentos médicos para que os países de baixa e média rendas pudessem pagar por eles.

    “O trabalho da fundação teve um impacto muito maior do que eu esperava”, disse Gates, a chamando de sua segunda e última carreira.

    A influência da fundação na saúde global – desde a Organização Mundial da Saúde (OMS) até os rumos de pesquisas – é tanto uma medida de seu sucesso quanto um ímã para críticas. Durante anos, os pesquisadores perguntaram por que uma família rica deveria ter tanta influência sobre a forma como o mundo melhora a saúde das pessoas e responde a crises.

    Gates disse que, como qualquer cidadão comum, ele pode escolher como gastar o dinheiro que ganha e decidiu fazer tudo o que puder para reduzir a mortalidade infantil. “Não é uma causa importante? As pessoas podem criticar”, disse ele. “Mas a fundação continuará com seu trabalho de saúde global.”

    ‘Papel catalisador’

    A métrica mais valorizada da fundação é a queda de quase metade das mortes infantis por causas evitáveis entre 2000 e 2020, de acordo com os números das Nações Unidas. O CEO da fundação, Mark Suzman, tem o cuidado de dizer que eles não levam o crédito por essa conquista. A fundação ainda tem várias metas – erradicar a pólio, controlar outras doenças mortais, como a malária, e reduzir a desnutrição, que torna as crianças mais vulneráveis a outras doenças.

    Gates espera que, ao gastar para resolver essas questões agora, os doadores ricos estarão livres para resolver outros problemas mais tarde.

    A Fundação Gates havia planejado encerrar suas atividades duas décadas após a morte de Gates, o que significa que o anúncio de ontem antecipa significativamente esse cronograma. Gates planeja continuar envolvido, embora, aos 69 anos, tenha reconhecido que talvez não tenha voz ativa.

    Nas duas décadas que lhe restam, a fundação manterá um orçamento de cerca de US$ 9 bilhões por ano, o que representa um nivelamento do crescimento quase anual desde 2006, quando Buffett começou a fazer suas primeiras doações.

    Suzman espera que a fundação restrinja seu foco às principais prioridades. “Ter esse horizonte de tempo e os recursos apenas nos sobrecarrega ainda mais para dizer: ‘Você está realmente colocando seus recursos nas apostas maiores e mais bem-sucedidas, em vez de espalhá-los demais?'”, disse Suzman, reconhecendo estar criando incertezas até mesmo dentro da fundação sobre quais programas teriam continuidade.

    Remanescente

    Grandes mudanças precederam o 25.º ano da fundação. Em 2021, Melinda French Gates e Bill Gates se divorciaram, e Buffett renunciou ao cargo de curador da fundação. Eles recrutaram um novo conselho de curadores para ajudar a administrar a fundação e, em 2024, Melinda saiu para continuar trabalhando em sua própria organização.

    Ela disse que decidiu deixar o cargo em parte para se concentrar em combater o retrocesso dos direitos das mulheres nos EUA. No evento ELLE Women of Impact, em Nova York, em abril, ela disse que queria deixar a fundação em um ponto alto. “Confiava muito em Mark Suzman, o atual CEO”, disse. “Tínhamos um conselho de administração que eu ajudei a formar, e eu conhecia seus valores.”

    Mesmo com a estabilização da governança da fundação, o caminho à frente parece difícil. Conflitos duradouros na Ucrânia e em Gaza, turbulência econômica global e cortes na ajuda externa dos EUA indicam menos recursos para a saúde e o desenvolvimento globais. “A maior incerteza para nós é a generosidade que será destinada à saúde global”, disse Gates. “Ela continuará caindo, como nos últimos anos, ou poderemos voltar aonde deveria estar?”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

    Últimas