• Bicentenário da imigração alemã no Brasil: traços da cultura permanecem em Petrópolis

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  • 30/jun 08:10
    Por Maria Julia Souza

    Completando 200 anos em 2024, a vinda dos alemães para o Brasil é importante não apenas para o país, mas também para Petrópolis, deixando traços de sua cultura na cidade até os dias de hoje. Um exemplo é a tradicional Bauernfest, que está sendo realizada até o dia 07 de julho, no Palácio de Cristal, mantendo viva a cultura alemã no município.

    O diretor de comunicação do Clube 29 de Junho, Marcos Carneiro, explicou um pouco sobre a importância da imigração alemã para o país, mais especificamente, no contexto municipal.

    Marcos Carneiro, diretor de comunicação do Clube 29 de Junho.
    Foto: Maria Julia Souza/Tribuna de Petrópolis

    Importância da imigração alemã no Brasil

    Ele explica que a presença dos alemães começa ainda com o navio de Pedro Álvares Cabral, onde o comandante e alguns marinheiros eram alemães. Além disso, também houve a experiência de colônia no Amapá, onde todos morreram de Febre Amarela, e logo depois, na Bahia.

    “Mas a gente considera efetivamente a data da contagem dos 200 anos [da imigração alemã], a partir da imigração oficial. Ou seja, quando o Imperador Dom Pedro I começa a contratar efetivamente alemães para virem ao Brasil. E ele é motivado por dois fatores: o primeiro é a construção do exército brasileiro. O Imperador, aproveitando uma quantidade expressiva de mão de obra militar disponível na Alemanha, começa a contratar militares para compor o exército brasileiro e trazia agricultores também. Os agricultores para desenvolver uma mão de obra mais especializada. Artesãos também vieram”.

    Marcos conta que o dia 03 de maio é a data do primeiro contingente de imigrantes regulares alemães que chegaram ao Brasil e foram destinados para Nova Friburgo. Em seguida, outros contingentes foram para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

    “Então, a importância é que eles vieram trazer uma mão de obra qualificada, tanto para a agricultura, como para a construção de estradas, e para artesãos que eram ferreiros, sapateiros e alfaiates. Eles vêm trazendo essa qualificação que, de alguma forma, vai treinando a mão de obra brasileira, a partir do momento que eles começam a trabalhar juntos”.

    Importância da imigração alemã em Petrópolis

    Já em Petrópolis, Marcos explica que a chegada dos alemães no município foi fundamental para a construção da cidade.

    “Martin Dreher, grande pesquisador da história da imigração alemã, diz que quando eles chegaram aqui [os colonos alemães], nós tínhamos pouco mais de 100 pessoas de língua portuguesa na cidade. E tem o registro de outubro de 1846, em uma carta que Paulo Barbosa escreve para Dom Pedro II, onde ele diz assim: ‘Vossa Majestade, Petrópolis já não é mais um sonho. Hoje reunimos 2.500 cidadãos na Praça Koblez [Palácio de Cristal] dos quais 1.911 eram alemães.’ Então nós éramos uma cidade predominantemente alemã, em 1846”.

    Ele ressalta ainda que, antes da imigração oficial, a cidade recebeu, em 1837, um contingente de alemães que se rebelou no Porto do Rio, fazendo com que o Major Koeler aproveitasse a mão de obra deles para a Serra Velha, para fazer arruamento e melhorar a qualidade da estrada. Fato que inspirou Koeler a mais tarde recomendar a vinda dos 2.220 imigrantes para construir a cidade, além da estrada e das pontes até Juiz de Fora.

    “Só que desse grupo nós não temos mais registro nenhum, praticamente. Ficaram apenas os [registros] históricos da existência deles, e um registro nos livros da Igreja Luterana, da confirmação – uma espécie de crisma na Igreja Católica, de uma menina chamada Catarina, na Igreja Luterana, que era descendente desses primeiros [imigrantes] que chegaram”, explicou.  

    Chegada dos primeiros imigrantes

    Ele explica que os primeiros imigrantes chegam em Petrópolis no dia 29 de junho de 1845, pela Praia Grande, em Niterói. Na sequência, eles navegaram até Magé e depois sobem a Serra Velha.

    “A partir desse primeiro grupo, vão chegando outros, sempre fazendo esse caminho de subir a Serra Velha até aqui em cima [Petrópolis], e ficavam alojados em um quartel de cavalos e soldados, onde hoje está o Cefet. Aquele local foi a primeira moradia deles. Eles ficaram ali até começarem a ganhar seus lotes e algumas ferramentas para começar a cortar madeira, limpar o terreno e, infelizmente, enfrentar os índios”.

    O diretor de comunicação do clube 29 de junho conta que hoje em dia, andando pelas ruas da cidade, não é possível encontrar nenhuma casa que seja rica, que pertenceu aos primeiros imigrantes, ou de seus descendentes até a segunda geração.

    “Você vê a Casa do Colono, era daquele ‘jeitão’ ali. Uma casa típica de uma família de colonos é toda de pedaços de madeira, quase um barracão, com um estilo de telhado alto e todas muito simples, junto com galinha, com porco no quintal, com forno a lenha, o banheiro lá no fundo, fora da casa. Então você realmente não vai encontrar. Na Ipiranga, por exemplo, que é a rua que nós temos as melhores casas, nela [Ipiranga] e na Koeler, não tem nenhuma [casa] que foi de algum descendente desses imigrantes”.

    Data do Bicentenário

    A data definida por um decreto federal para as comemorações é no dia 25 de julho. No entanto, a data histórica em que a imigração alemã é comemorada é no dia 03 de maio, com os primeiros alemães que chegam em Nova Friburgo em 1824.

    “E com eles chegam os luteranos, os evangélicos no Brasil, oficialmente. Então a primeira comunidade luterana no Brasil também é no mesmo dia [03 de maio], com a chegada do Pastor Friedrich Oswald Sauerbronn, que chega junto com esses primeiros imigrantes. Historicamente mesmo, é essa data [03 de maio de 1824]. E 25 de julho ficou como uma data aceita no Brasil também, devido a importância e a quantidade dos que chegaram. E realmente, a concentração deles lá no Sul é muito maior”, ressaltou.

    Empreendimentos construídos pelos imigrantes em Petrópolis

    Marcos conta que, atualmente, os empreendimentos que possuem a presença dos imigrantes alemães em Petrópolis são: o Museu Imperial; a Igreja Luterana, juntamente com a sua torre, considerada a única [torre] neogótica germânica do Estado do Rio de Janeiro; o Coral Concórdia, na Rua 13 de Maio; a Casa do Colono; e a Casa de Petrópolis, conhecida como Casa dos Sete Erros, onde o arquiteto, Karl Spangenberger, é o mesmo da Igreja Luterana.

    “A casa que nós conhecemos dos Sete Erros, foi uma construção dele [Karl Spangenberger]. Você olhando aquela casa de fora, vai ver que é diferente um lado do outro, mas por dentro não. Os quartos são normais, são uniformes, de uma arquitetura harmônica. E qual foi o objetivo dele em fazer isso?! Ele quis mostrar que nós, seres humanos, por fora somos diferentes, mas por dentro somos todos iguais. Esse foi o objetivo dele com aquela casa. Isso foi uma declaração da tetraneta dele, que nós não sabíamos”.

    Costumes

    Marcos conta que em Petrópolis ficaram alguns traços dos costumes alemães, no entanto, ele é mais forte no Sul do Brasil, onde havia a maior concentração dos imigrantes.

    “Aqui [em Petrópolis] ficaram alguns traços, como o pão alemão, mais das famílias. Você não encontra pão alemão em uma padaria, encontra versões de cuca. A cuca tombada pelo patrimônio você vai encontrar nas festas da Igreja Luterana e das famílias alemãs que mantêm o costume de comer a cuca ou comprar o pão. O petropolitano, mesmo às vezes com o sobrenome do imigrante, não tem o costume da comida e, muitas vezes, nem sabe que é descendente”.

    Bauernfest

    Realizada anualmente na cidade, Marcos ressalta que a Bauernfest é reconhecida como a segunda maior festa germânica do país e a primeira cultural, com conteúdos que abordem a cultura alemã.

    “Você vai na Oktoberfest, tem muita cerveja, muita música, muita banda e muito carnaval alemão, mas pouca cultura. A gente tem hoje, por exemplo, sete grupos folclóricos, mas já tivemos acho nove ou dez. Quando começou o festival germânico que se transformou na Bauernfest, não tinha nenhum [grupo folclórico], trazíamos de fora. Hoje nós somos respeitados no Brasil inteiro como grupos folclóricos, somos até considerados ortodoxos”.

    Atividades sobre o Bicentenário

    Segundo o diretor de comunicação do clube 29 de Junho, as atividades realizadas em Petrópolis, como parte dos festejos do Bicentenário, se encerrariam no dia 23 de agosto, com o plantio das últimas mudas, das 200 que estão sendo plantadas no Projeto Água, em Secretário, por mão de obra das crianças de escolas do município.

    “Por um convênio com o Consulado da Alemanha, nós tivemos acesso a uma exposição de fotos produzidas pelo Instituto Martius-Staden, em São Paulo, do Colégio Porto Seguro, e que foi colocada à nossa disposição pelo Consulado. Nós vamos trazê-la para cá logo depois da Bauernfest. São 30 banners com fotos e registros históricos da imigração alemã, patrocinados pela embaixada alemã”, finalizou.

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