Beócio em tempos do cólera
Sujeitinho decidido, o tal de Beócio.
(Um momento, por favor, ignore o dicionário, porque Beócio por aqui é um apelido de um meu conhecido, Adonildio, e não imbecil, como assinala o “Aurélio”).
E até digo e afirmo, de passagem, que o Beócio não é nada burro; muito pelo contrário; sabe de muitas coisas; tem bom papo e um conhecimento incomum de tudo, até mesmo de coisas que ninguém sabe, ninguém viu e nem ele. E, por falar tantas asneiras e emitir conceitos absurdamente absurdos, ganhou este apelido bem justo: Beócio.
Aliás, quando está em sua cama, que fica num quarto coletivo da casa de repouso do dr. pinel, deixa ensandecido todo o quadro de profissionais que lá trabalham.
Eu sei e você sabe que o Beócio, por tão inteligente e preparado na escola da vida, tem personalidade forte. Pelo menos é o que dizem todos os que com ele lidam ou até brigam. Discutir com Beócio é sair derrotado, com o rabo-entre-as-pernas (um dito antigo do meu velhinho avô)…
Pois, então, falando nele, meu avozinho viu na televisão que está obrigatório o uso de máscara; foi na casa Turuna é comprou uma máscara do Hulk e a colou na cara.
Já Beócio, pelo contrário e com toda a sua sabedoria, gritava na praça aos sete ventos: “- Besteira, uma grossa besteira vestir máscara!” Vê se eu tenho cara do Batman?”
Eu, claro, bem menos preparado para a vida que o Beócio, argumentei sobre a necessidade de inibir e neutralizar o corona-virus colocando uma rede de proteção tapando nariz e boca, que são os caminhos preferidos pelo vírus demoníaco adoecer toda a humanidade. Ele não dava bola e, ainda, só para contrariar, um dia, pegou uma máscara que um agente da saúde estava distribuindo de graça, no calçadão da Escola Normal, jogou no chão, pisoteou, xingou, sambou literalmente o samba do afrodescendente doido, em um bailado apocalíptico de corar de inveja qualquer baiano sambista.
Beócio nenhum juízo demonstrava à respeito da pandemia, que desconhecia. Para ele estava errado obrigá-lo a usar máscara; não poder apertar mãos nem dar tapinhas nas costas; manter distância mínima de 3 metros com seus amigos. Apoiava todos os sem-máscaras desfilando pelas ruas e muitos pegando um rap noturno nas ruas das capitais, coisa de mil-e-uma-noites de absoluta insensatez.
Eu tentava acender uma chaminha de juízo no Beócio, advertindo sobre a pandemia e suas consequências funestas. Mas qual! o homem era maluco mesmo. Eu só concordava com ele quando dizia:” – O presidente da república tá de cara limpa. Não usa máscara e – completava expelindo perdigotos que se espalhavam pelo ar – e o tal de trump também tá de cara pelada nos comícios! – completando eufórico: “… ele tá matando mais índios que o johnwayne!
Não demorou nada o dia do Beócio. O dia chegou e eu fiquei triste porque não pude ir ao enterro do infeliz, que foi sepultado, às pressas, em cova rasa, longe de deus e do diabo na terra do sol. O Trump voltou para casa e o presidente do patropi se recusou ao cumprimento ao eleito lá de USA, afirmando: “Eu só cumprimento se for presencial e com aperto de mão. Ninguém me obrigará a nada pois sou eu que mando! Só eu tenho a caneta!”.
O Marechal Deodoro, o Washington Luís, o Jânio Quadros, o Fernando Collor, a Dilma Roussef pensavam o mesmo…