Bandeira Branca
A paz é exigente, requer conciliação, perdão, renega o sentimento de vingança, rejeita o ódio, o rancor e não aceita covardia. Para pacificar-se, é necessário ter consciência tranquila. Por essas exigências, a pacificação não se torna tão simples. Conter as rivalidades é um exercício árduo. Para alguns, flexibilizar o orgulho em gesto de humildade é uma tarefa difícil. A luta que se trava dentro de si tem seus reflexos no ambiente em que se vive. A mesquinhez que se carrega na mente e no coração é causa de muitos conflitos. Desagregações, tanto na família, quanto no ambiente de trabalho, também são provenientes do desgaste provocado pela intolerância.
A hostilidade entre os seres humanos sempre existiu, principalmente quando a vaidade aflora, ou quando a luta pelo poder vira obsessão. Contudo, há uma certeza: Quem criou o homem não o fez para a guerra.
Não consigo assimilar a ideia de que a barbárie seja algo inerente à humanidade, porque o ato de amar é que nos conduz à felicidade. Ser feliz é o desejo de todos. Não há felicidade quando se planta o ódio. A guerra é o desamor, o primitivismo humano, a irracionalidade brutal. Viver não é digladiar.
Sei que, antes do descobrimento da pólvora, irmão já assassinava irmão. Mas, no estágio em que a civilização humana se encontra, tornam-se inconcebíveis as intransigências.
Quando o tempo pesa sobre os ombros, temos a oportunidade de enxergar melhor o nosso lado interior. Fato que possibilita uma mudança nos critérios usados na escolha dos valores que norteiam o viver. O processo contínuo imposto pela vida mantém o questionamento dialético que exige posicionamento diante da realidade. Não é por demais lembrar que “homem algum é uma ilha”. As relações humanas são inerentes ao convívio social. E, para que esse convívio seja harmonioso, a paz é imprescindível.
A paz mundial não se dissocia, nem se distância da manutenção da paz que deve existir no interior de cada um de nós. Os conflitos sempre nascem quando alguém tenta violar o espaço do outro. O desrespeito ao outro está nos primeiros passos da guerra, seja em dimensões mundiais, seja em ambiente familiar ou de trabalho.
A cegueira que emana da obsessão do poder tende a construir uma consciência egocêntrica de superioridade, na qual o outro só é visto como um ser inferior. E, por esse egocentrismo, quem se sente superior passa a querer julgar os outros a partir de si, tendo como referência valores próprios.
Em uma guerra não há neutralidade; mas omissão, principalmente quando os adversários não lutam com as mesmas armas. As ideologias não podem servir de cortinas de fumaça para encobrir a covardia.
A demarcação de território é motivo de briga até entre os animais. É triste ver os homens que se consideram senhores do poder com um comportamento pior do que os irracionais. Não abrem espaço para a sensatez do diálogo, não demonstram compaixão diante dos inocentes, não se preocupam com a desestruturação das famílias que fogem dos bombardeios. Aprimora-se o poder letal das armas sem evoluir diplomaticamente em busca de soluções para os conflitos que emergem em todos os continentes. Ainda prevalece a prepotência irracional movida pela ganância.
A tirania é patologicamente obsessiva, sempre procura exercer o domínio sobre aquilo que não lhe pertence, ou seja, quer para si o que pertence a outros. O desejo de exercer o domínio sobre tudo e todos é reflexo da insegurança. E, por essa razão, sente-se ameaçado pela democracia. E aqui cabe mais uma ressalva: a guerra não se manifesta somente por conflito bélico. É preciso enxergar os outros campos de batalha em que a morte também se faz presente. A fome é tão letal quanto um fuzil, só que ela mata de uma forma lenta e silenciosa. A ausência de liberdade também é mortífera, atrofia o ser, a criatividade, a expressão dos sentimentos. O homem sem liberdade é um pássaro sem asa, não alça voo algum. Roubam-lhe até o direito de sonhar e ter esperança…
A guerra revela o lado insano da humanidade. É longa a peregrinação dos refugiados com o destino naufragado na fome, no frio em busca de um canto de paz. Há um padecimento que se estende por uma vida inteira. O poder armado do ódio sempre leva vantagem sobre a resistência dos famintos. Por essa razão, o trabalho de humanizar a humanidade deve ser permanente. O amor tem que ser eternamente vigilante. A ternura precisa ser cultivada continuamente. O coração do homem que não conhece o amor torna-se a moradia do ódio. Quem acha que a vida é bélica tem dificuldade de enxergar a beleza da paz.