Azulay e Lambe-Lambe
Já não via o desenhista Daniel Azulay há algum tempo. Mas eis que, num encontro fortuito, ao sair de um restaurante, na rua Visconde de Pirajá, dou de cara com o meu querido amigo, que cumprimento efusivamente. Ele responde da mesma forma. Fomos amigos nos gloriosos tempos de “Manchete”, da qual ele se tornou colaborador, com o seu extraordinário talento.
Azulay era do tipo expansivo, próprio para trabalhar com crianças. Com esse espírito, criou a famosa Turma do Lambe-Lambe, que se exibia então na TVE e na Band. Ele foi um precursor de programas educativos na TV, nos anos 70 e 80. Com a sua reconhecida criatividade, deu vida à vaquinha Gilda, ao Professor Pirajá (uma coruja sabichona) e à galinha Xicória. Divertia-se com as histórias que passou a contar, a partir das colaborações no antigo “Correio da Manhã”. Deu chance a muitas crianças com a criação da rede de escolas Oficina de Desenho Daniel Azulay. Fez disso parte importante da sua vida, ensinando os pequenos a desenhar, sempre com muita alegria. Este mesmo autodidata, vibrava com as suas iniciativas. Colaborador de revistas e jornais, foi presença notável nas páginas de “O Pasquim”.
Nascido no Rio, em 1947, Daniel Azulay descendia de uma típica e tradicional família judaica. Nessas condições, produziu um álbum inesquecível, com pinturas clássicas, como as de rabinos tradicionais, com os seus penteados característicos. O álbum fez sucesso internacional, sendo vendido em cidades como Jerusalém e Nova Iorque. Sempre com muitos aplausos.
Culturalmente inquieto, Azulay lançou diversos CDs e LPs, com as músicas da Turma do Lambe-Lambe e uma série de vídeos, em que estimulava a criatividade das crianças, como convinha a um verdadeiro educador. Assim ele justificava a expansão das suas oficinas:
– Não podemos esquecer que o desenho é importante para aprimorar a coordenação motora das crianças. É indispensável. Quando a criança desenha, ela está dialogando com o seu interior. Fica mais fácil para os pais conhecer seus filhos. Assim eles se expressam mais rapidamente e desenvolvem, através do desenho, sua interpretação e o senso estético.
Fez muitas palestras sobre arte e educação, sempre com muito sucesso. Sua bela carreira só foi interrompida agora, primeiro com uma leucemia e depois com a Covid-19. Daniel Azulay fará falta à cultura brasileira. Algodão doce para ele.